Na Hollywood da década de 1940, de uma estrela esperava-se que fosse apenas isso: a estrela. Olivia de Havilland poderia ter ficado para a história, a do cinema e a desse tempo, dos anos de ouro da indústria norte-americana como estrela apenas. Atriz de E Tudo O Vento Levou (1939), As Aventuras de Robin dos Bosques (1938) e, mais tarde, O Fosso das Víboras (1948), de Anatole Litvak, e A Herdeira (1949), de William Wyler, entre outra quase meia centena de filmes, Havilland acabaria, contudo, por fazer história por outros meios, quando na Hollywood da década de 1940 ousou desafiar em tribunal o poder dos estúdios, numa batalha judicial que acabou por vencer contra a Warner Brothers, naquela que ficou conhecida como a “Havilland Decision”.
Em causa estava a manutenção do seu contrato com aquele estúdio depois de expirado o contrato de sete anos que assinara, ao cabo de ter rejeitado uma série de papéis menores. Quando a Warner Brothers quis forçá-la a retomar o contrato, a atriz deu início a um processo judicial contra os estúdios. Em 1945, a decisão não veio apenas em seu favor, mas de todos os atores, que deixaram de ser forçados a prolongar o período dos contratos pelo tempo que haviam permanecido em inatividade por opção.
“Quando venci a última instância do meu caso, a 3 de fevereiro de 1945, qualquer ator passou a ser considerado livre do seu contrato no termo dos sete anos, independentemente de quantas suspensões tivesse tido ao longo desses sete anos”, recordou numa entrevista à Screen Actor, em 1992. “Ninguém pensou que eu venceria mas, depois de conseguir, recebi flores, cartas, telegramas dos meus companheiros atores. Foi duplamente recompensador”.
Olivia de Havilland nasceu em Tóquio a 1 de julho de 1916, filha de pais britânicos. O pai, Charles Richard de Havilland, deu aulas de Inglês e de Francês na Universidade Imperial de Tóquio antes de aí se ter tornado advogado de patentes; a mãe, Lillian Fontaine, era também atriz – carreira que haveria de ser seguida também pela irmã mais nova, Joan de Beauvoir de Havilland (1917-2013). Continuam até hoje a ser as únicas duas irmãs na história de Hollywood distinguidas com o Óscar de Melhor Atriz.
Foi a frágil saúde de Olivia (o nome foi escolhido em honra de Lady Olivia, personagem de Noite de Reis, de William Shakespeare) que levou Lillian Fontaine a decidir regressar a Inglaterra com as filhas. Pelo caminho fizeram uma paragem na Califórnia, onde acabariam por se instalar e as duas irmãs fariam carreira de atrizes.
Foi em 1933 que Olivia de Havilland se estreou no teatro como protagonista de uma encenação de Alice no País das Maravilhas, ainda no grupo de teatro do liceu que frequentava em Los Gatos. Apenas dois anos se passariam até que se estreasse em Hollywood, numa adaptação de Sonho de Uma Noite de Verão produzida pela Warner. Os 49 papéis que desempenhou em longas-metragens valeram-lhe dois Óscares (Lágrimas de Mãe, de 1946, e A Herdeira, de 1949) e a sua carreira prolongou-se até à década de 1980. À data da sua morte, no passado domingo, era a última grande estrela viva dos anos de ouro de Hollywood. Tinha 104 anos.