António de Oliveira Salazar vai ser homenageado este domingo em Santa Comba Dão. A iniciativa é promovida pela Associação de História do Estado Novo (ASHENO) e inclui um almoço-conferência com a participação de cerca de 70 pessoas para assinalar o 50.º aniversário sobre a morte de Salazar, no dia 27 de julho de 1970. O evento está a ser promovido nas redes sociais com as inscrições abertas para quem quiser participar.
A polémica ‘homenagem’ ao ditador começa com a deposição de uma coroa de flores no cemitério do Vimieiro e uma missa na Igreja Matriz de Santa Comba Dão. Segue-se um almoço e uma conferência com palestra do tenente coronel Brandão Ferreira subordinada ao tema: Salazar – o Estadista. No final da conferência será feita a apresentação de uma medalha comemorativa da celebração.
A verdade sobre o Estado Novo
O SOL foi tentar perceber quem organiza esta iniciativa e se tem recebido muitas inscrições. Vizela Cardoso, da direção da ASHENO e tenente-general reformado, explica que «os objetivos da associação são muito claros: descobrir a verdade sobre o que se passou no Estado Novo». A associação que se dedica a estudar o salazarismo nasceu em 2016 e tem sede em Santa Comba Dão. Vizela Cardoso garante que a grande missão é procurar a verdade num contexto em que «a toda a hora e a todo o momento querem denegrir a obra do Estado Novo».
É também para repor «a verdade» sobre um regime que teve «coisas boas e coisas más» que este domingo se juntam cerca de 70 pessoas num almoço.
Não são mais porque é preciso cumprir as regras das autoridades de saúde relativamente à pandemia, garante a organização.
Sobre a conferência que pretende refletir sobre a obra de Salazar, o presidente da ASHENO garante que não tem receio em comparar o anterior regime com o atual. «Depois de todos os sacrifícios veja a evolução que este país teve. Já fomos três vezes à bancarrota. E veja como estava o país quando Salazar pegou nele em 1928».
Parlamento vai discutir petição contra museu
A figura de Salazar continua a estar no centro de várias polémicas. O museu em Santa Comba Dão, a sua terra natal, foi uma das mais recentes e abriu uma guerra entre os defensores da iniciativa promovida pela Câmara Municipal e os presos políticos.
Uma petição com mais de dez mil assinaturas, promovida pela União de Resistentes Antifascistas Portugueses, defende que deve ser abandonada a criação do museu. O documento, que conta com o apoio dos ex-presos políticos, pretende que «a Assembleia da República, em nome do Portugal de Abril, mas também da Constituição da República Portuguesa e da Lei, condene politicamente o processo de criação do ‘Museu Salazar’, em Santa Comba Dão, e processe as diligências necessárias ao impedimento do intento que tanto ofende a memória dos milhares de vítimas do ‘Estado Novo’ e os portugueses em geral».
A petição foi avaliada recentemente na comissão de Cultura e vai ser discutida em plenário na próxima sessão legislativa. O Parlamento consultou o Ministério da Cultura, mas Graça Fonseca, na resposta aos deputados, considera que, «neste momento, não existe matéria suficiente para pronúncia».
O documento enviado ao Parlamento, há menos de um mês, argumenta que os autores da iniciativa «não divulgaram, até à data, o programa e os conteúdos do museu».
Câmara mantém projeto para casa do Vimieiro
A discussão sobre a construção de um museu dedicado a Salazar é antiga e não é a primeira vez que o assunto é discutido na Assembleia da República.
Em 2007, a Câmara de Santa Comba Dão, liderada pelo social-democrata João Lourenço, chegou a anunciar a criação de um museu que teria por base o espólio pessoal de Salazar. A intenção da autarquia, nessa altura, era transformar a casa do ditador, na aldeia do Vimieiro, num «centro de estudos históricos e num importante pólo de atração turística para a região». Mas o Governo e a maioria dos deputados distanciara-se, nessa altura, do projeto – que nunca se concretizou. A então ministra da Cultura, Isabel Pires de Lima, definiu o projeto como «muito vazio do ponto de vista dos conteúdos».
Há um ano, a autarquia, que passou a ser governada pelos socialistas, voltou a colocar a hipótese de construir um museu sobre o Estado Novo. Leonel Gouveia, presidente da Câmara, chegou a anunciar que queria inaugurar a obra até ao final do ano de 2019, mas nada aconteceu.
Perante a polémica, o autarca socialista explicou que a ideia não é construir um museu dedicado a Salazar, mas sim «um projeto cultural agregador do potencial turístico da região, visando a criação de uma rede de Centros Interpretativos de História e Memória Política da Primeira República e do Estado Novo».
José Junqueiro, que foi deputado do PS pelo distrito de Viseu durante quase vinte anos, lembra que esta discussão já tem «mais de uma década». O socialista concorda com o projeto do presidente da câmara de Santa Comba Dão e lamenta que a ideia tenha sido «mal compreendida». Junqueiro argumenta que «não se trata de nenhum museu do Salazar», mas de um centro interpretativo do Estado Novo. «Não estaria de acordo com um museu sobre o Salazar, mas a ideia é criar um museu do Estado Novo com uma fotografia do que aconteceu naquela altura. A inexistência de liberdades políticas, a guerra colonial, os movimentos estudantis… As múltiplas realidades daquela época».
O SOL tentou saber se está prevista alguma data para a abertura do museu, mas autarquia não quis prestar qualquer esclarecimento.