Nova Deli. Uma em cada quatro pessoas foi infetada, diz estudo

Nova Deli. Uma em cada quatro pessoas foi infetada, diz estudo


Há muito que se especulava que o número de casos na Índia era muito superior ao registado.


Quase um quarto dos habitantes de Nova Deli já terá sido exposto à covid-19, indica um estudo do Governo indiano. A recolha aleatória de amostras a mais de 21 mil pessoas mostrou que 23,48% tinham anticorpos ao vírus, logo, teriam sido infetados em algum ponto. Se os resultados forem representativos da realidade, implicaria que 4,65 milhões de pessoas teriam sido infetadas numa cidade que registou apenas 123 747 casos e menos de quatro mil mortes. O próprio Governo avisou que a percentagem de infetados na capital pode ser maior do que a sugerida pelo estudo, dado haver vários bairros pobres com elevada densidade populacional.

Enquanto são diagnosticados cada vez mais casos entre as elites indianas, com lendas de Bollywood, como o ator Amitabh Bachchan, a serem admitidas de imediato nas melhores instalações médicas do país, mesmo tendo sintomas ligeiros, a pandemia deixa um rasto de destruição entre os pobres e miseráveis. Não só estão mais expostos – uns 74 milhões de indianos vivem em bairros de lata, com pouco acesso a saneamento básico ou água para lavar as mãos – como são barrados à porta dos hospitais da capital, assoberbados pelo surto.

A Índia já conseguiu chegar ao top 3 de países mais afetados pela pandemia, ficando apenas atrás dos Estados Unidos e do Brasil, apesar de ter uma taxa de testagem terrivelmente baixa – fizeram quase 15 vezes menos testes per capita que Portugal, por exemplo. Vários epidemiologistas estimavam que o número real de casos indianos pudesse estar entre os 30 e os 40 milhões, quando no mundo todo foram registados menos de 15 milhões e este estudo à imunidade, o primeiro na Índia, vem reforçar essas estimativas.

Contudo, o grande mistério continua a ser o número de mortes registadas na Índia: vai apenas nos 25 mil mortos, uma tragédia de proporções muito inferiores aos cerca de 80 mil mortos no Brasil e 145 mil mortos nos EUA. Geralmente, por pouco que se teste, as mortes costumam ser um indicador relativamente seguro do alastrar real da pandemia – sempre com desfasamento do tempo que as pessoas demoram a sucumbir, sendo afetado por quão bem se protege, ou não, os grupos de risco.

Na Índia, uma fator óbvio para explicar esta discrepância é o quão jovem é a população: segundo o censo mais recente, menos de 5% dos indianos têm mais de 65 anos e metade tem menos de 25 anos. Outra explicação pode ser o facto de, na Índia, muitos dos que morrem adoecem em zonas rurais, com poucos cuidados médicos ou registos do que se passou. Ou então os dados estão a ser propositadamente manipulados, como se suspeita que a Rússia, que também tem uma baixíssima taxa de mortalidade, esteja a fazer.