E se o bicho pega no Ivo ou no Carlos, acaba a justiça?


É importante saber se um problema de saúde pode paralisar os grandes processos da justiça portuguesa.


1. É consabido que a justiça é um elemento essencial para o funcionamento de um país democrático. É consabido que uma das nossas grandes fragilidades é o tempo que ela leva em Portugal, em benefício de culpados e prejuízos de inocentes. É reconhecido, que entre muitos absurdos, há um que faz com que tenhamos na prática apenas dois juízes a gerir os megaprocessos que mancham e descredibilizam o nosso país, envolvendo grande corrupção. Trata-se de Ivo Rosa e de Carlos Alexandre, que acompanham e despacham tudo até à acusação. De facto, só não julgam em definitivo. Os processos são monumentais, como se viu agora pelo caso BES com uma acusação de mais de 4 mil folhas. Falta a fase de instrução contraditória que pode voltar a cair em Carlos Alexandre, uma vez que Ivo Rosa está dado inteiramente ao processo Marquês. Ao que foi dito recentemente, Carlos Alexandre já tem a instrução de 11 mega processos e 330 arguidos a cargo. A situação é absurda. Por muito que trabalhem, os dois juízes não podem objetivamente garantir que não haja problemas processuais mais adiante, ainda que controlem e verifiquem as diligências do Ministério Público que conduz a investigação. Viu-se, aliás, como a montanha pariu um rato nos vistos “gold”. Em tempo de pandemia, também é útil saber e perceber o que aconteceria se um dos dois juízes fosse afetado pelo coronavírus ou outra maleita grave? O que está previsto? Quem substitui? E quanto tempo atrasaria o processo, por exemplo, a necessidade de substituir definitivamente um dos juízes. Talvez fosse útil saber com o que se pode contar neste campo. Como diria Bruno Nogueira: “como é que o bicho mexe?” neste caso concreto com a justiça.

2. As sondagens mais recentes colocam o PS muito perto da maioria absoluta, mas sem lá chegar. Ou seja, os portugueses confiam em Costa, mas não lhe dão carta-branca. Além disso, segundo outro estudo, também acham que o país vai passar por um período de austeridade. É uma questão de perceção porque, na realidade, com a geringonça, a austeridade esteve sempre presente, apesar do crescimento incipiente da economia. Só que Costa, ao contrário de Passos, tinha condições para apertar numa estratégia de impostos indiretos, consubstanciados nas famosas cativações de Mário Centeno. Nos tempos de pandemia que correm, essa tática é impraticável e os portugueses perceberam. Por isso, cortam ao máximo na despesa e não estão a alimentam a procura interna. As nossas estatísticas estavam falseadas no consumo porque boa parte dele resultava do turismo. Agora sobram praticamente só compradores nacionais, uns quantos turistas e alguns emigrantes que não resistem a vir até cá. Evitar o colapso é uma tarefa gigantesca que compete ao governo e ao Presidente Marcelo. Politicamente, contam com o apoio do bloco, enquanto se vê um distanciamento por parte do PCP. O PSD de Rui Rio vai dando ao PS apoios pontuais sempre que necessário, o que deixa o país sem hipótese de alternância. Rio aposta, portanto, no colapso económico. Esperar sentado em momentos de grande crise política não é uma boa estratégia. Até no decurso da Segunda Guerra Mundial, a oposição britânica não deixou de apresentar moções de censura a Churchill e talvez por isso tenha ganho as primeiras eleições a seguir ao conflito. Por cá, hoje, não há nenhum motivo para aliviar o primeiro-ministro da ida quinzenal ao Parlamento. Há, sim, que preparar bem esse momento e colocar-lhe questões substanciais e não apenas temas que ele domina totalmente, os quais naturalmente recebe sem surpresa. Veremos na sexta-feira na discussão do Estado da Nação se o partido alternativo dá sinais de existir de facto, ou está reduzido a apostar num perfil baixo à espera que as coisas mudem por efeito do desgaste de Costa.

3. As transferências de Cristina Ferreira e de Jorge Jesus ocuparam mais tempo mediático no fim de semana do que os incêndios e as negociações de Bruxelas de que dependem as verbas e as condições que Portugal pode usufruir no pós pandemia. É um sinal dos tempos ou uma fuga à antecipação dos problemas que inevitavelmente aí vêm. Faça-se o mesmo neste espaço. Ignoremos o que é mesmo importante. Falemos da festa. Cristina transferiu-se novamente para a TVI. Ela lá sabe e parece que tem como justificação a circunstância de ir assumir responsabilidades de gestão. Já Jesus volta exatamente ao lugar em que já esteve. Há outra diferença. É que a apresentadora nunca disse cobras e lagartos da TVI, enquanto Jesus atacou de forma inaceitável o seu sucessor e o clube da Luz. Há muitos benquistas que certamente não esquece e não perdoarão falhas ou deslizes, nem estarão disponíveis para apoiar quem não teve elevação para com eles.

4. A Gulbenkian atribuiu um prémio para a Humanidade de um milhão de dólares a Greta Thunberg. A jovem ativista sueca diz que vai aplicar o dinheiro no combate às alterações climáticas. É bonito! A fundação sempre viveu do petróleo, a energia fóssil que mais poluiu e permitiu a multiplicação e progresso da humanidade. Assim, dá a volta ao texto e premeia simpaticamente quem denunciou o seu modo de sustentação, até vender a Partex. Há estratégias de comunicação que são um verdadeiro doce, um caramelo, melhor dizendo. O retorno em publicidade justifica o investimento, mas não apagam a realidade.

Escreve à quarta-feira