O Conselho Europeu arrasta-se sem fumo branco. Uns, como é o caso de Portugal, encaram um robusto pacote a fundo perdido como condição indispensável para que a resposta à crise não venha a ser obliterada por um estrondoso crescimento da dívida que, a verificar-se, os conduziria a uma situação de insustentabilidade, com custos sociais que agora se desejam evitar. Essa é a razão próxima que leva a que Portugal tenha um dos mais exíguos e modestos programas de resposta à crise – comparando-se mal com 26 dos 28 países da UE –, a que o Governo apelida de fase de estabilização, mas que, em boa verdade, não é nem mais nem menos que a paralisação resultante de termos uma dívida elevada, no limite do descontrolo. Em todos os momentos, em todas as turbulências, todos os espirros, constipações ou pneumonias nos damos conta de como, no longuíssimo prazo, se paga em perda de autonomia, de liberdade, até de dignidade o que não se pagou antes, e que isso é muito mais comum numa economia globalizada, marcada pela interpenetração, em que não há quem não sofra ou beneficie da ação de terceiros.
Outros, chamados frugais, olham para uma resposta concertada pela União Europeia baseada no acesso a mercados por via de empréstimos, e menos construída numa lógica solidária, a qual só deve existir com recíprocos condicionalismos. A regra da unanimidade faz o resto. Não vale a pena discutir quem tem razão nem vale a pena apodarmos esses de malditos avarentos quando a sua posição é um retrato, tal como a nossa, do sentimento reinante nas suas democracias.
Vale a pena tentar obter um compromisso. E esse compromisso, relativamente à proposta, recebida com júbilo, da Comissão Europeia, apenas deve poder ser atingido com algumas perdas. O ponto é que nos encontramos em estado de necessidade. Vamos ser das economias mais afetadas, somos das que têm menor músculo financeiro, logo, o fator tempo é crítico. Não desejamos um pacote excelente para lidar com um monte de escombros; devemos dar preferência a um apoio menor mas mais expedito, de modo a “sobreviver”.
A lição é sempre a mesma: independentemente da incidência, seja ela ou não responsabilidade nossa, temos de estar sempre numa forma melhor, com menos dívida, com melhores condições de crescimento, para que Portugal lide melhores com fenómenos disruptivos.
Deputado do PSD