Quem já navegou durante a noite entende perfeitamente a importância das estrelas e dos faróis. Se aquelas em nada dependem da mão humana para cintilar, estes são exemplo extraordinário do engenho e da técnica. Apesar de tudo, por mais belos que sejam, nem as estrelas nem os faróis são um destino em si mesmo, revelando-se úteis ao ajudar o navegador a tomar consciência da sua localização e ao sinalizar perigos.
Quando atingimos a frescura da adolescência, aventuramo-nos sem medo por águas desconhecidas. Num golpe de inconsciência, os jovens facilmente acreditam nos sonhos e na aventura, entregando-se às causas a que aderem de corpo e alma. Fazem-no pela adrenalina, pela novidade, pela provocação, mas acima de tudo, a sua atitude revela uma forte intenção de encontrar o seu lugar no mundo.
Aproveitando-se disso há os que se alimentam dessa energia juvenil. Em oposição à imagem dos abutres – que preferem carne em avançado estado de putrefação – é o comportamento dos vampiros que mais se aproxima daqueles que, sedentos de sangue novo, capturam os mais desprevenidos. Não é em vão que as juventudes partidárias circundam as universidades. É lá que vão pescar os potenciais camaradas, propondo-lhes um lugar de intervenção na primeira fila para mudar o mundo. Infelizmente o que podia ser uma escola de vida torna-se, em demasiados casos, uma escola mafiosa de atropelos e interesses, acabando por formar verdadeiros parasitas da sociedade. Já o padre António Vieira, no famoso Sermão de Santo António aos Peixes, se tinha lembrado de nos alertar para os interesses dos parasitas e oportunistas dos pegadores, da vaidade dos peixes voadores, da soberba e arrogância dos roncadores e da traição do polvo.
O lugar dos jovens é no mundo! No mundo real do trabalho, dos projetos sociais e humanos que não servem propagandas, do amor que não escolhe apelidos… Tudo isto enquanto ganham uma autêntica experiência de vida. Estou certo de que todos gostaríamos de ver no poder político gente completa e dedicada, verdadeiramente vocacionada para servir a construção de uma sociedade organizada e justa em nome dos ideais e dos valores. Começa a ser insuportável e insustentável viver neste clima de conformismo no qual mergulhámos e do qual dificilmente conseguimos emergir.
Todos, sem exceção, devemos ser uma espécie de faróis uns dos outros. Referências e sinais de apoio para que cada um se encontre e consequentemente saiba o rumo que quer tomar. Este exercício contém em si responsabilidade coletiva e pessoal. Trata-se de deixar irradiar uma luz que não nos pertence e que por isso deverá ser sentida como dádiva. Desse modo quem seguir a nossa luz não nos segue a nós, mas a nossa mensagem.
Professor e investigador