Caso BES. Centenas de crimes na mira

Caso BES. Centenas de crimes na mira


As 18 pessoas acusadas pelo Ministério Público cometeram 277 crimes, de acordo com o despacho de mais de quatro mil páginas. Sete empresas também são alvo.


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Cláudia Faria

A antiga diretora-adjunta do departamento financeiro do Banco Espírito Santo (BES) é acusada pelo Ministério Público (MP) de um total de seis crimes: um de associação criminosa, um de corrupção passiva, um de manipulação de mercado, um de infidelidade e dois de burla qualificada. Cláudia Boal de Faria, ex-diretora do departamento de gestão de poupança do BES, foi admitida a 3 de junho de 1996, exercendo funções na área de grandes empresas. Em fevereiro de 2000, ingressou no departamento financeiro de mercados e estudos, durante o qual exerceu funções de diretora-adjunta ao longo de quatro anos, entre 2009 e 2013. Além disso, em 2012 e 2013, Cláudia Faria exerceu funções de coordenação do trabalho de Pedro Pinto – acusado de 18 crimes pelo MP – na área de desintermediação, mas a 6 de março de 2013, assume a direção do departamento de gestão de poupança. Pedro Góis Pinto, recorde-se, é um antigo coordenador da área de conceção de produtos do BES, tendo sido acusado de crimes como burla qualificada, branqueamento, associação criminosa, entre outros.

Pedro Serra

Ex-subdiretor do departamento financeiro do BES, Pedro Cohen Serra é acusado pelo MP_de 7 crimes, entre os quais 1 de associação criminosa, 1 de corrupção passiva, 1 de burla qualificada, 1 de manipulação do mercado e 1 de falsificação de documento, além de 2 crimes de branqueamento. Pedro Serra foi admitido no BES a 1 de junho de 1998, tendo exercido no Departamento Financeiro de Mercados e Estudos – mais concretamente na área de investimento no mercado de obrigações – a gestão de carteira da seguradora Tranquilidade. Em 2006, assumiu mesmo as funções de subdiretor desse departamento, onde acabou por ter, em maio de 2007, a responsabildade pela intervenção no mercado de ações e nos mercados globais. Pedro Serra é considerado um dos altos quadros do BES, assim como Nuno Morgado Escudeiro – acusado de 8 crimes pelo MP – e António Leandro Soares – integrou a administração do BES_Vida e está acusado de 17 crimes.

Nuno Escudeiro

É ex-diretor-adjunto do departamento financeiro do BES e considerado, tal como Pedro Serra, um alto quadro deste banco privado. Está acusado pelo MP, no âmbito do processo principal do designado Universo Espírito Santo, de um total de oito crimes: um crime de corrupção passiva, um de associação criminosa, um de falsificação de documento, dois de burla qualificada, dois de branqueamento e um de manipulação de mercado. Nuno Morgado Escudeiro foi admitido no BES a 3 de novembro de 1998 “para o backoffice da sala de mercados, responsável pela verificação da conformidade de operações ordenadas pelos demais elementos do departamento financeiro de mercados e estudos, com os registos produzidos pelos sistemas informáticos do banco, na parte de liquidação e confirmação das mesmas”, tal como pode ler-se na acusação à qual o i teve acesso. Além disso, em 2001 integrou uma área desse departamento sob o comando de Pedro Costa, acusado de 10 crimes._Logo no início do ano de 2010 assumiu funções de subdiretor do departamento financeiro.

Pedro Pinto

Antigo coordenador da área de conceção de produtos do BES, Pedro Góis Pinto está acusado pelo MP de um total de 18 crimes – 6 de burla qualificada, 6 de branqueamento, 2 de infidelidade, 1 de corrupção passiva, 1 de associação criminosa, 1 de manipulação de mercado e ainda 1 de falsificação de documento. Foi admitido no BES a 16 de dezembro de 1999, tendo assumido funções no Departamento Financeiro de Mercados e Estudos no mesmo grupo de Nuno Escudeiro – acusado de 8 crimes –, sob o comando de Pedro Costa – é acusado pelo MP de 10 crimes. Durante três anos, entre 2006 e 2009, foi destacado para o Departamento de Gestão de Poupança do BES para exercer funções nos serviços de gestão discricionária de carteiras, que o BES ofereceu aos seus clientes. Depois disso, regressou ao departamento financeiro, em dezembro de 2009, para ser coordenador da área de conceção de produtos para oferta a clientes.

Alexandre Kadosch

Presidente da empresa Eurofin e de nacionalidade suíça, é acusado de um total de 18 crimes – sete de branqueamento, seis crimes de burla qualificada, um de corrupção passiva, um de associação criminosa, um de falsificação de documento, um de infidelidade e ainda outro de manipulação de mercado. Iniciou funções nos anos 90 numa companhia que pertencia à Espírito Santo Resources (ESR), denominada GESTAR. Nessa companhia, António Cadosch exerceu as funções de assistente administrativo. Depois, no final da década de 90, passou a integrar os conselhos administrativos das empresas que iniciaram o processo de constituição de um conjunto de entidades com a designação Eurofin. Em 2004, tornou-se acionista da Eurofin, no Reino Unido, e em 2008 assumiu o benefício económico da sociedade Zyrcan. Em 2010 também se tornou acionista da Eurofin na Suíça, passando a integrar o conselho administrativo desta. A empresa Eurofin, recorde-se, ajudou o GES a esconder operações complexas e a desviar milhões de euros do BES para entidades desconhecidas,

João Martins Pereira

O antigo assessor da administração do BES é acusado pelo MP de 3 crimes de burla qualificada. João Martins Pereira foi admitido no banco privado a 15 de abril de 2003, a convite de Ricardo Salgado, para exercer funções de assessor no conselho administrativo do BES, como diretor coordenador. Além disso, liderou o departamento de compliance e de auditoria. Depois, entre setembro de 2013 e fevereiro de 2014, passou a residir em Londres, Inglaterra, uma vez que fez parte do conselho administrativo da empresa holding Espírito Santo Financial Group (ESFG) – que agregava as participações do GES no setor financeiro nacional e internacional. Em novembro de 2013, integrou um grupo informal de pessoas para acompanhar os assuntos da Espírito Santo Internacional. E no dia 11 de março de 2014 foi ainda designado para fazer parte de um núcleo de peritos que assistiria a Espírito Santo Internacional, antes de ter solicitado um período de baixa médica em abril de 2014, segundo revelou o MP. Recorde-se que João Martins Pereira entrou no BES com o objetivo de criar de raiz um departamento de compliance e de auditoria que chegou depois a liderar.

Michel Creton

Tal como Alexandre Cadosch, também Michel Creton é de nacionalidade suíça. Administrador da empresa Eurofin, é acusado pelo MP de 17 crimes: 6 de burla qualificada, 7 de branqueamento, 1 de associação criminosa, 1 de corrupção passiva, 1 de falsificação de documento, 1 de manipulação de mercado e outro de infidelidade. Iniciou funções antes de 2006 na Eurofin do Reino Unido, sociedade da qual se tornou acionista em 2008. Dois anos depois, em 2010, passou a integrar o Conselho Administrativo desta empresa, assumindo posteriormente a presidência do Conselho Administrativo da Eurofin Capital.

António Soares

Foi administrador financeiro da seguradora BES Vida e está acusado pelo MP de 17 crimes: um de corrupção passiva, um de associação criminosa, seis de burla qualificada, seis de branqueamento, um de infidelidade, um de manipulação de mercado e ainda um de falsificação de documento. Começou as suas funções no BES em dezembro de 1991 e, entre junho de 2012 e agosto de 2014, integrou o conselho administrativo da seguradora BES Vida.

João Alexandre Silva

Pertencente à Comissão de Auditoria do BES e ex-diretor da sucursal do banco na Madeira, João Alexandre Silva é acusado_de 2 crimes de falsificação de documento. Entrou no BES em 1994, exercendo funções de subdiretor num departamento na unidade madeirense, tendo sido posteriormente nomeado diretor adjunto do Departamento de Private Banking, em 1998, e depois diretor, em 2000. Foi ainda diretor do Departamento da Banca Transacional de Negócio Internacional, no qual “teve intervenção no desenvolvimento do negócio bancário internacional do BES”. Em junho de 2017, cessou o contrato de trabalho já no Novo Banco.

Paulo Ferreira

O antigo trabalhador na área financeira do BES, tendo sido subdiretor do departamento financeiro, mercados e estudos, é acusado de sete crimes, entre os quais um de corrupção passiva, um de associação criminosa, três de burla qualificada, um de manipulação de mercado e um de branqueamento. Começou a exercer funções no BES em 1992 e, a partir de 1996, desenvolveu trabalho na emissão de dívida com Isabel Almeida, ex-administradora do BES acusada de 21 crimes.

Paulo Jorge

Ex-diretor de banca privada do BES que acompanhava clientes sul-americanos e uma ponte nos negócios com a Venezuela, Paulo Nacif Jorge é acusado de um crime de falsificação de documento. É o arguido que é acusado de menos crimes. Foi admitido no BES a 2 de julho de 2007, depois de ter trabalhado durante cinco anos, entre 2002 e 2007, na sucursal portuguesa do Banco do Brasil. Em Portugal, iniciou funções em dezembro de 2008, como diretor-adjunto de um departamento e, a partir de setembro de 2009 começou a acompanhar, enquanto diretor, clientes institucionais sul-americanos.

Pedro Costa

Administrador da empresa Espírito Santo Ativos Financeiros (ESAF), é acusado pelo MP de 10 crimes: três de infidelidade, um de corrupção passiva, três de burla qualificada, dois de branqueamento e um de manipulação de mercado. Em 1998, Pedro Costa exerceu funções de assistente de direção no departamento financeiro de mercados e estudos. Em 2004 e 2005, foi diretor nas áreas de desintermediação e de crédito da seguradora BES_Vida, sob a coordenação de Isabel Almeida, acusada de 21 crimes.

 

Sete empresas acusadas

Além das “18 pessoas singulares”, também sete empresas foram acusadas pelo MP, perfazendo um total de 25 arguidos: Espírito Santo Internacional (12 crimes), Rioforte Investments (7), Eurofin Private Investment (15), Espírito Santo irmãos – Sociedade Gestora de Participações Sociais (2), ES Tourism Europe (1), Espírito Santo Resources Limited (1) e ES Resources Portugal (1). No que respeita a todas estas empresas, o despacho a que o i teve acesso fala em crimes que vão desde corrupção passiva e branqueamento de capitais até falsificação de documentos e burla qualificada. De acordo com o que avançou a Procuradoria-Geral da República (PGR), este processo principal do Universo Espírito Santo teve por objeto a investigação de dados patrimoniais de várias empresas do Grupo Espírito Santo (GES), juntando, no total, 242 inquéritos e queixas de mais de 300 pessoas a residir em Portugal e no estrangeiro. Os instrumentos de dívida e de capital da ESFG, empresa holding financeira de topo do grupo, com participações em várias unidades bancárias, recorde-se, foram excluídos, tendo sido extraídas certidões para que a investigação continue em inquéritos autónomos, com o objetivo de apurar infrações tributárias e crimes alusivos a titulares de cargo político estrangeiros.