Enquanto português interessado na qualificação do nosso país, tenho frequentemente ficado perplexo e confundido, ao longo desta pandemia que assola o mundo, com a forma como o Governo tem gerido o país.
Não há qualquer justificação sensata que legitime a organização de ajuntamentos em manifestações em que, como foi visível para todos os que viram as imagens, durante as fases mais duras de confinamento tenha sido possível não cumprir as regras básicas de distanciamento social, constituindo em si potenciais focos de contágio e dando ao resto do país um grave sinal de que eram aceitáveis comportamentos que, por alguma razão, todos até aí estávamos convencidos de não serem nem adequados nem legais.
A limitação dos horários nas superfícies comerciais, é fácil de observar, teve como única consequência uma maior concentração de pessoas. O próprio Governo anuncia, com mais de dez membros juntos, a proibição de ajuntamentos com mais de dez pessoas. Infelizmente, é a vida real que a gestão do país nos traz. Para ser franco, parece brincadeira (de muito mau gosto). Porém, não é brincadeira, é muito mais grave: é falta de competência, rigor, planeamento e estratégia.
Quando ouvimos as inúmeras conferências de imprensa ficamos sempre convencidos, com base no discurso realizado, que estamos perante especialistas em controlo absoluto da situação. A verdade mostra-nos, todavia, que a forma como os dados da pandemia têm evoluído em Portugal não gerou os resultados extraordinários que o Governo e, em particular, o primeiro-ministro tanto querem fazer crer. Basta comparar a realidade por milhão de habitantes e facilmente percebemos a fraca performance portuguesa. Tanto assim é que vários são os países que impuseram restrições às viagens de e para Portugal.
Essas restrições levantam sérios problemas à economia portuguesa, fazendo-se sentir com maior intensidade, nesta fase do ano, em setores ligados ao turismo. O resultado constitui um gigantesco problema para empresários afastados de rendimentos que assegurem a sustentabilidade dos investimentos e famílias que enfrentam a calamidade do desemprego. Estas matérias impactam diretamente no bem-estar de centenas de milhares de famílias em Portugal, que sofrem de forma abrupta as consequências da má gestão dos dinheiros e causas públicas.
E se olharmos por trás do folclore diário a que somos expostos pelos diferentes intervenientes, assistimos, no dia-a–dia urbano, a uma perigosa exposição dos utilizadores de transportes públicos que, sem alternativa, correm riscos. Basta observar os transportes na região metropolitana de Lisboa e facilmente se verifica que o Governo não fez qualquer esforço nem investimento no sentido de garantir distanciamento social e salubridade nos transportes, que circulam em horas de ponta com níveis de ocupação nada adequados às recomendações de proteção e distanciamento social.
Esta negligência para com os mais necessitados convive no mesmo espaço temporal com a exagerada e despesista intervenção na TAP – prioridades do Governo de uma esquerda muito pouco preocupada com os mais pobres e desfavorecidos.
Onde, numa lógica de serviço público, seria necessário e relativamente simples intervir para salvar e proteger a população mais necessitada, o Estado falha e distrai-se. Para manter e arrastar o problema da má gestão crónica da TAP, o Governo não hesita em injetar centenas de milhões de euros dos contribuintes, utilizando para isso um vasto conjunto de argumentos bem ao seu estilo acrobático e eleitoralista.
A ausência de linha estratégica condutora, associada à falta de rigor, é bem demonstrativa da competência deste grupo de governantes que diariamente aparece a falar para as câmaras de televisão com dados e medidas avulso. E se tal é verdade para o Governo, facilmente verificamos que as câmaras de Lisboa, Sintra e Amadora pouco fizeram para contrariar os índices de contágio que agora se fazem sentir. E se o presidente da Câmara de Lisboa, na minha apreciação, infantilmente acusa não percebemos bem quem, o presidente da Câmara de Sintra pura e simplesmente desapareceu, não tendo durante estes meses todos dado o mínimo contributo para a resolução do problema.
Os brilhantes resultados no combate à pandemia nestes concelhos estão à vista de todos e, não tenhamos dúvidas, estão na base das restrições e limitações que internacionalmente foram impostas a Portugal. É este o brilhante grupo de competências que coloca em causa a estabilidade de milhares de postos de trabalho e a rentabilização de centenas de milhões de euros de investimentos públicos e privados. Eles e elas continuaram e continuarão, ininterruptamente, a receber o salário.
Socialismo? Qual socialismo?
Professor de Gestão no ISCTE e CEO do Taguspark
Subscritor do “Manifesto: Por Uma Democracia de Qualidade”