Exames nacionais. “Faz-me confusão como é possível manter o distanciamento”

Exames nacionais. “Faz-me confusão como é possível manter o distanciamento”


Professor da Escola Secundária de Barcelos questiona distanciamento físico entre alunos e professores nas provas. No primeiro dia da época de exames nacionais, muitos alunos do 12.º ano faltaram à prova de Português.


Tempos diferentes requerem adaptações. E numa fase de pandemia de covid-19, também os exames nacionais do 12.º ano merecem especial atenção por parte de professores e alunos. Houve docentes que fizeram simulações para preparar os alunos a usarem máscara durante três horas seguidas – o que acontece em praticamente todas as provas que começaram na segunda-feira – e outros a quem faz “confusão” manter o distanciamento físico durante um exame nacional, uma vez que são os professores que têm de ir fazer as verificações dos cabeçalhos das provas. Ao i, Alexandra Justiça, professora de Matemática na Escola Joaquim Gomes Ferreira Alves, em Valadares, Vila Nova de Gaia, admitiu que a questão da utilização obrigatória das máscaras foi devidamente preparada para o exame nacional da sua disciplina que acontece a 15 de julho.

“A fase que antecedeu os exames nacionais foi um desgaste muito grande para os professores. Mas a maioria dos alunos sente-se bem, porque o exame vai ter também perguntas opcionais, o que os faz sentir ainda mais à vontade. Se alguma coisa correr mal numa das alíneas, têm as outras para responder. Claro que alguns, num sistema como este e que tenham mais problemas de concentração, é pior. Mas antes de as aulas acabarem fiz um teste presencial com máscara, como simulação de exame. Estiveram 2h30 ou três horas com máscara a fazer o teste. E eles não se sentiram tão mal como estavam à espera. Aquela simulação fez com que se sentissem mais aliviados. Antes do teste disseram que não iam conseguir aguentar o tempo todo com máscara, mas não correu mal”, revelou.

Mas outra das medidas de contenção obrigatória durante os exames nacionais é o distanciamento físico. E é esse fator que Paulo Correia, professor de Matemática na Escola Secundária de Barcelos, considera questionável. “Estamos a tentar fazer a mesma coisa de uma forma diferente. Mas faz-me confusão como é possível manter o distanciamento aos alunos se os professores têm de ir verificar os cabeçalhos dos exames ou vigiar numa sala de aulas. Temos de fazer um esforço para as duas coisas funcionarem. Não sei se é possível manter o distanciamento entre alunos e professores. Ainda não estive a vigiar nenhum exame, mas isso faz-me alguma confusão”, confessou ao i.

Apesar disso, tanto o distanciamento físico como a utilização obrigatória de máscaras não têm sido um grande tormento para os alunos, que já vêm minimamente preparados das aulas presenciais, durante as quais precisaram de usar as máscaras. E foi isso que revelou ao i Bruna Azevedo, aluna do 12.º ano na Escola Secundária de Barcelos, que vai fazer o exame de Matemática. “Nós já estamos habituados. Não é uma situação assim tão nova. Nas aulas presenciais, tivemos de usar máscara. Não vai ser fácil fazer o exame por causa das temperaturas elevadas, mas são circunstâncias que não podemos deixar que atrapalhem”, contou.

Muitos alunos faltaram no primeiro dia No exame nacional de Português, que se realizou na segunda-feira, houve muitos alunos que não marcaram presença – estavam inscritos cerca de 41 mil. “Há escolas em que muitos alunos não apareceram e onde quase um terço dos alunos não apareceu para fazer exame no primeiro dia. Mas possivelmente tinham feito a inscrição num tempo em que pensavam que podiam ir e depois acabaram por não ir. Mas as escolas têm tudo organizado, em termos de segurança. Para já está tudo a correr bem”, explicou o presidente da Associação Nacional de Dirigentes Escolares (ANDE), Manuel Pereira.

Concurso externo No que respeita ao concurso externo para professores, 872 docentes passaram a integrar os quadros do Ministério da Educação – mais 330 comparativamente ao ano passado. Cerca de 36 mil professores ficaram de fora das listas. “O número de docentes candidatos a este concurso voltou a subir, passando de 34 mil para quase 37 mil candidatos, do ano passado para este ano”, avançou o Ministério da Educação em comunicado.

A Federação Nacional dos Professores (Fenprof) defendeu que este número é insuficiente, comparando com aquilo que as escolas realmente precisam atualmente. “É um número absolutamente insuficiente face às reais necessidades das escolas e para combater o sistémico abuso no recurso à contratação a termo. É um número que fica muito aquém dos 2010 docentes que se aposentaram em 2019 e no primeiro semestre de 2020”, avançou a Fenprof.

“A fase que antecedeu os exames nacionais foi muito desgastante para os professores”