Portugal vítima de cerca sanitária


Portugal é, por estes dias, um pária internacional, sujeito a uma intolerável cerca sanitária, a qual tem vindo a adensar-se ao longo das últimas semanas.


No dia 1 de julho, perante a inquietação nascida de notícias da semana anterior, o ministro dos Negócios Estrangeiros qualificava o andamento das negociações com o Reino Unido para estabelecimento de um corredor aéreo com Portugal como “bastante bom”. Já antes o tinha feito no Parlamento perante questão idêntica que lhe tinha formulado.

Dois dias depois, os piores receios confirmaram-se. Portugal continental foi excluído da lista de destinos seguros e todos aqueles que entrem no Reino Unido provindos diretamente do nosso país são sujeitos a uma dissuasora quarentena de 14 dias. Vista hoje, a garantia de Augusto Santos Silva é uma confissão de incompetência ou de desonestidade, ou de ambas.

Portugal é, por estes dias, um pária internacional, sujeito a uma intolerável cerca sanitária, a qual tem vindo a adensar-se ao longo das últimas semanas e conta já com a adesão de um rol de países cujas imposições mancham a nossa reputação, destroem emprego e empresas e corroem qualquer esperança de que seria possível mitigar as perdas no setor turístico.

Podemos discutir as razões: o frenesim com que os países se digladiam pelo turismo que sucumbe conduz a todo a espécie de desonestidades, desde não declarar mortos a campanhas internacionais difamatórias contra concorrentes, mas, por muito que tentemos, não podemos ignorar o descontrolo evidente da pandemia na Área Metropolitana de Lisboa. E essa é uma responsabilidade só nossa, mas justificação óbvia das autoridades britânicas.

Estamos com esta situação em Lisboa desde o fim de maio! Desconhecíamos que iria ter repercussões? Porque não tomámos medidas para acompanhar aqueles que são diagnosticados? Como temos ainda situações em que o resultado do exame demora quase uma semana? Porque não providenciamos alojamento e alimentação para aqueles que não têm alternativa, já que se sabe que um dos maiores focos de infeções se situa no enquadramento familiar?

Estas e outras perplexidades não escapam ao observador mais desatento, por estes dias descrente do anunciado milagre português.

E sendo Lisboa a razão, as diligências do Governo, a sua ação diplomática deveriam ter sido orientadas para libertar o resto do país deste jugo insuportável – em particular, o Algarve, que responde por 70% dos turistas britânicos e que, com esta decisão, vê escapar a última réstia de esperança de salvar o ano de 2020. É xeque-mate numa região que, por todas as razões e mais alguma, justifica um plano económico e social específico para responder à devastação que está a sofrer, radicalmente ampliada por comparação a qualquer outro ponto do país.

O Governo tem de reabrir as negociações com o Reino Unido. Tem de conseguir alterar rapidamente a situação para que as empresas e os trabalhadores que não desistiram, que tomaram as medidas de controlo sanitário para se adaptarem a uma nova realidade, tenham pelo menos a oportunidade de tentar sobreviver e não vejam o seu destino traçado às mãos de um Governo apático, inútil na ação diplomática, ineficaz no controlo sanitário, que deixa o país ser consumido por uma tragédia económica e social que poderia ser evitada.

 

Deputado