A EMEL e os pequenos poderes


Como outras empresas públicas, a EMEL faz dos cidadãos utentes meros joguetes nas suas mãos, utilizando indiscriminadamente o seu pequeno poder.


Um cidadão cumpridor e consciente dos seus deveres dirige-se à EMEL para adquirir um dístico de residência para o seu automóvel. Fica a saber, logo à entrada, que tem de fazer marcação prévia para poder ser atendido. Para isso, em letras garrafais, está afixado um número de telefone.

Pois bem. O cidadão, cumpridor e consciente dos seus deveres, telefona. Durante 15 minutos, ouve uma música e, vezes sem conta, uma voz que lhe diz que, se quiser, pode deixar o seu contacto, pois terá resposta no prazo de 24 horas úteis, seja lá o que isso for.

O cidadão volta a ligar, duas horas depois. Quinze minutos de espera e sempre a mesma música. Tenta mais uma vez, horas depois. Nada. Decide deixar o contacto. Vai esperar, portanto, as tais 24 horas úteis.
Entretanto, acede ao sítio da EMEL. Ali tem hipótese de fazer o pedido online. Assim faz. Recebe um email que promete que “o pedido será analisado e respondido no mais curto espaço de tempo possível”.

E o cidadão espera. Espera e vai pagando o estacionamento porque, entretanto, os fiscais da EMEL atuam sem qualquer complacência, fingindo desconhecer que a empresa para onde trabalham tem, neste momento, cerca de três mil pedidos de dísticos em atraso, não se sabendo quando vão despachá-los.

Trata-se de um caso típico da “síndrome do pequeno poder”, que alguns conhecem pela “síndrome do porteiro de discoteca”. A EMEL – aliás, como outras empresas públicas – faz dos cidadãos utentes meros joguetes nas suas mãos, utilizando indiscriminadamente o seu pequeno poder de passar multas e decidir bloqueios e reboques de viaturas. 
Funcionários com pouca preparação foram, num ápice, equiparados a polícias. 

A empresa, com cerca de 700 funcionários, não consegue dar resposta a uma situação de emergência. No entanto, atua no lado sancionatório como se tudo estivesse a funcionar normalmente. 

A EMEL é apenas um dos vários exemplos da degradação dos serviços públicos, sobretudo na sua relação com os utentes. 

Uma boa parte dessas empresas são o reflexo das suas administrações, muitas delas incompetentes, usadas para colocar amigos e correligionários do poder vigente.

Uma frase atribuída a Abraham Lincoln define bem esta situação: “Se quiser pôr à prova o caráter de um homem, dê-lhe poder”.

Esta máxima de Lincoln tanto se aplica aos seres humanos como às empresas. 
No caso da EMEL, o caráter da empresa está à vista de todos. 

Jornalista


A EMEL e os pequenos poderes


Como outras empresas públicas, a EMEL faz dos cidadãos utentes meros joguetes nas suas mãos, utilizando indiscriminadamente o seu pequeno poder.


Um cidadão cumpridor e consciente dos seus deveres dirige-se à EMEL para adquirir um dístico de residência para o seu automóvel. Fica a saber, logo à entrada, que tem de fazer marcação prévia para poder ser atendido. Para isso, em letras garrafais, está afixado um número de telefone.

Pois bem. O cidadão, cumpridor e consciente dos seus deveres, telefona. Durante 15 minutos, ouve uma música e, vezes sem conta, uma voz que lhe diz que, se quiser, pode deixar o seu contacto, pois terá resposta no prazo de 24 horas úteis, seja lá o que isso for.

O cidadão volta a ligar, duas horas depois. Quinze minutos de espera e sempre a mesma música. Tenta mais uma vez, horas depois. Nada. Decide deixar o contacto. Vai esperar, portanto, as tais 24 horas úteis.
Entretanto, acede ao sítio da EMEL. Ali tem hipótese de fazer o pedido online. Assim faz. Recebe um email que promete que “o pedido será analisado e respondido no mais curto espaço de tempo possível”.

E o cidadão espera. Espera e vai pagando o estacionamento porque, entretanto, os fiscais da EMEL atuam sem qualquer complacência, fingindo desconhecer que a empresa para onde trabalham tem, neste momento, cerca de três mil pedidos de dísticos em atraso, não se sabendo quando vão despachá-los.

Trata-se de um caso típico da “síndrome do pequeno poder”, que alguns conhecem pela “síndrome do porteiro de discoteca”. A EMEL – aliás, como outras empresas públicas – faz dos cidadãos utentes meros joguetes nas suas mãos, utilizando indiscriminadamente o seu pequeno poder de passar multas e decidir bloqueios e reboques de viaturas. 
Funcionários com pouca preparação foram, num ápice, equiparados a polícias. 

A empresa, com cerca de 700 funcionários, não consegue dar resposta a uma situação de emergência. No entanto, atua no lado sancionatório como se tudo estivesse a funcionar normalmente. 

A EMEL é apenas um dos vários exemplos da degradação dos serviços públicos, sobretudo na sua relação com os utentes. 

Uma boa parte dessas empresas são o reflexo das suas administrações, muitas delas incompetentes, usadas para colocar amigos e correligionários do poder vigente.

Uma frase atribuída a Abraham Lincoln define bem esta situação: “Se quiser pôr à prova o caráter de um homem, dê-lhe poder”.

Esta máxima de Lincoln tanto se aplica aos seres humanos como às empresas. 
No caso da EMEL, o caráter da empresa está à vista de todos. 

Jornalista