Adeptos nos estádios.  A nova moldura humana começa a ganhar forma

Adeptos nos estádios. A nova moldura humana começa a ganhar forma


Adeptos já voltaram aos estádios em alguns países, nomeadamente na Dinamarca, Hungria ou Rússia. Nos Países Baixos, o regresso também está em agenda – mas os adeptos estão proibidos de entoar cânticos. Nesta nova realidade, como sempre, há bons e maus exemplos.


“Futebol sem adeptos é como comida sem sal”; “Jogo sem público é como uma salada sem tempero”; “Não faz sentido jogar sem adeptos”. É indiscutível: a nova realidade do futebol europeu retira grande parte da alma ao desporto-rei – para além de ser impensável a medida perdurar por muito mais tempo sob pena de vários clubes agravarem ainda mais a sua saúde financeira. Com a porta fechada, o espetáculo do jogo tornou-se mais pobre e as tentativas que pretendem amenizar o impacto da falta de público vão-se revelando infrutíferas. Se alguns clubes optaram por reproduzir sons e cânticos de adeptos para colmatar esta lacuna, também as operadores de televisão avançaram com medidas neste sentido – nomeadamente a Sport TV, disponibilizando uma música de suspense nos últimos instantes dos encontros (embora nem sempre bem recebida por parte dos telespetadores). Por enquanto, por cá, ainda não é possível afirmar quando é que voltará a ser seguro ter adeptos nas bancadas, como já reforçou várias vezes a Direção-Geral da Saúde (DGS), mas, lá fora, há campeonatos que já deram os primeiros passos neste sentido.

Voltar aos jogos… mas sem cânticos Países Baixos, Hungria, Dinamarca ou Rússia são apenas alguns países em que a porta dos recintos desportivos já está entreaberta. Após ter sido retomada no final de maio à porta fechada, a Liga dinamarquesa já voltou a ter adeptos nas bancadas: esta semana o clássico Brondby-Copenhaga contou com três mil pessoas na assistência (num estádio com lotação para 29 mil). Ainda antes, durante o fim de semana, o jogo entre Horsens e Randers, a contar para as meias-finais da Taça do país, foi o primeiro a contar com público após a paragem forçada devido à covid-19 – 800 pessoas apoiaram as respetivas equipas, num recinto que tem capacidade para 10 mil. Nos dois casos, as medidas sanitárias foram cumpridas, com destaque para o distanciamento social. No âmbito da terceira fase de desconfinamento na Dinamarca, o número de ajuntamento de pessoas permitido passou de 10 para 50, subindo para 500 no caso de eventos em que o público esteja maioritariamente sentado, como é o caso dos jogos de futebol – um número que pode, de resto, variar consoante a capacidade de cada recinto desportivo.

Também a Federação Russa de Futebol (RFS) já deu luz verde para que 10% da capacidade de cada estádio seja ocupada por espetadores como medida preventiva face ao novo coronavírus.

Porém, neste caso em particular, o regresso aos estádios já deu lugar a um episódio infeliz: o CSKA de Moscovo foi multado em 1280 euros na sequência dos insultos racistas dirigidos pelos adeptos moscovitas ao brasileiro Malcom (Zenit), durante o encontro de sábado, referente à 23.ª jornada da Liga russa.

Já diretamente relacionado com a atual crise pandémica, uma referência para o mau exemplo vindo da Hungria, onde o governo autorizou a entrada de adeptos no jogo que entregou o título de campeão nacional ao Ferencváros. Sem a imposição de medidas de segurança anti covid-19, e sem distanciamento social, uma multidão de adeptos celebrou no último fim de semana o bicampeonato húngaro, após vitória (1-0) sobre o Újpest.

Entretanto, já com data em agenda para voltar a assistir a um jogo de futebol in loco estão os adeptos holandeses. Contudo, nos Países Baixos só será permitido voltar aos estádios em setembro, ou seja na próxima época – e os adeptos estão proibidos de entoar cânticos!

Mark Rutte, primeiro-ministro holandês, disse que a distância de segurança de pelo menos 1,5 metros entre as pessoas tem que ser cumprida e assegurou: em caso de incumprimento as portas voltam a fechar-se. De acordo com os cálculos feitos por alguns clubes, a aplicação da prática desta medida significa uma taxa de ocupação entre 20% e um terço da capacidade dos recintos desportivos. O jogo entre seleção dos Países Baixos e a Polónia, a 4 de setembro, na Arena Johan Cruyff, em Amesterdão, referente a Liga das Nações, vai inaugurar esta nova realidade, uma vez que o campeonato nacional deverá arrancar apenas a 11 do mesmo mês.

Apesar de o cenário ainda estar longe do desejável, aos poucos a nova moldura humana nos estádios vai começando a ganhar forma. Recorde-se que em cima da mesa tem sido colocada a possibilidade de poder vir a haver público na final a 8 da Liga dos Campeões, que vai ser disputada em Lisboa (no estádio da Luz e José Alvalade). A UEFA já fez saber que a última resposta (afirmativa ou não) pertence às autoridades portuguesas.

A resposta final só deverá ser conhecida em meados de julho, mas – a confirmar-se –, a solução deverá basear-se nalguns destes exemplos. A partir daqui pode também assumir-se que os moldes serão depois readaptados para o arranque da nova época da Liga portuguesa. Até porque se se abre uma vez a porta…