Donos de bares elogiam secretário de Estado e criticam Governo

Donos de bares elogiam secretário de Estado e criticam Governo


A mensagem do Governo é dúbia. Se, por um lado, o Conselho de Ministros decidiu restringir o consumo de álcool e manter os bares fechados, por outro, o secretário de Estado da Educação da Juventude admitiu a abertura de bares para controlar ajuntamentos.


Poucas horas depois de o Conselho de Ministros ter tomado uma posição clara e o primeiro ministro ter anunciado as novas medidas de restrição na região de Lisboa devido à covid-19 – determinando o fecho de espaços que vendam álcool à noite –, o secretário de Estado da Juventude e do Desporto, João Paulo Rebelo, veio a público admitir a reabertura gradual de bares, com o objetivo de conseguir um maior controlo dos mais jovens. Num Governo a duas vozes, esta última versão foi a que mereceu aplausos tanto da Associação da Hotelaria, Restauração e Similares de Portugal (AHRESP) como da Associação de Discotecas de Lisboa. Ao i, Paulo Dâmaso, vice-presidente da AHRESP e administrador do grupo K, explicou que as palavras de João Paulo Rebelo só vêm reforçar que não é possível confinar os jovens – ainda menos quando estamos muito perto das férias escolares, que começam já na sexta-feira, dia 26.

“As declarações do secretário de Estado estão em linha com uma evidência, ou seja, é uma utopia pensar que os jovens vão continuar confinados. Faz parte da essência da juventude a necessidade de conviver. Vejo, através desse comentário do secretário de Estado, a abertura de uma janela que me parece evidente. Fala-se em medidas para prevenir ajuntamentos de jovens, mas as nossas forças de segurança, ainda mais numa altura em que estamos perto das férias escolares, não vão ter a capacidade de evitar a multiplicação deste tipo de situações. Vão ser situações diárias e não se pode tapar o sol com a peneira”, confessou.

A mesma linha de raciocínio é transmitida por José Gouveia, da Associação de Discotecas de Lisboa e do grupo JNcQUOI, que admitiu ao i que o Governo, nesta altura, está a ter um comportamento “bipolar” devido à difícil gestão da situação que se está a viver em Lisboa e Vale do Tejo, com centenas de casos diários de covid-19.

“Nós somos parte da solução e não parte do problema. Efetivamente a reabertura dos bares e das discotecas iriam controlar estes ajuntamentos descontrolados. Podemos fazer, dentro dos nossos espaços, um controlo que não é feito. Mas ninguém pense que vão conseguir manter os jovens em casa, principalmente agora com o início das férias de verão e com as deslocações para o Algarve em massa”, atirou, reforçando que manter o encerramento dos espaços está a entrar numa situação “incomportável”. “Há espaços que já ponderam abrir insolvência e falência das empresas, porque não conseguem suportar mais tempo este silêncio por parte do Governo e a ausência de apoios. Se estamos condenados a ficar fechados, então tem de haver apoios nesse sentido”, concluiu.

Confrontado pelo i com as declarações de João Paulo Rebelo, contrárias à posição do Governo, o Ministério da Educação defendeu oficialmente que não lhe cabe “tomar qualquer posição sobre o assunto”. E justificou que o que o secretário de Estado pretendia era comentar uma proposta da JSD. Assim, o Ministério da Educação reitera que a posição oficial do Governo não é a que resulta das declarações de João Paulo Rebelo, mas sim a que saiu do Conselho de Ministros: “As decisões de restrições às diversas atividades são tomadas em Conselho de Ministros, acompanhadas pelos pareceres das autoridades de saúde”.