A origem do surto de covid-19 no serviço de hematologia do IPO de Lisboa ainda está a ser investigada, mas o caso fez soar o alerta dentro da instituição e o hospital garantiu ontem que a situação está controlada. Os primeiros dois casos foram detetados na segunda-feira no âmbito do plano interno de rastreios a profissionais de saúde, uma medida instituída no IPO de Lisboa nos últimos meses. Confirmados dois casos positivos, as análises foram estendidas a todos os profissionais e doentes ligados ao serviço e confirmaram que havia mais casos.
Ontem ainda se aguardavam resultados da equipa de enfermagem e estavam confirmados um total de 18 casos, no total oito profissionais infetados e 12 doentes, no que é o maior cluster de casos detetados no hospital desde o início da epidemia. Segundo o i apurou, os doentes estão estáveis. Até aqui os rastreios a profissionais e também os testes feitos aos doentes admitidos para tratamentos e internamentos tinham detetado 54 casos positivos: 12 doentes, 26 profissionais de saúde e 14 prestadores de serviço, como funcionários de limpeza e segurança.
Depois de a situação ter sido confirmada na conferência de imprensa da Direção Geral da Saúde, a administração do IPO de Lisboa assegurou que a situação está controlada, apelando para que os doentes não tenham receio de ir ao hospital, o que a par do reforço da prevenção é agora uma das preocupações. Numa conferência de imprensa, os responsáveis explicaram que os doentes infetados foram transferidos para outros hospitais e outros doentes internados no serviço, que testaram negativo, permanecem internados no hospital.
Antes de serem internados, todos os doentes são previamente testados, não sendo certo como terá o vírus entrado no serviço e como se desenrolou a transmissão entre colegas e doentes. Desde março já foram feitos mais de 6 mil testes no IPO, com 2700 doentes e 1500 profissionais testados.
Na conferência de imprensa, a diretora-geral Geral da Saúde esclareceu que o surto no IPO de Lisboa está a ser seguido pelas autoridades e adiantou também que desde o início da epidemia, de acordo com a última avaliação, menos de 1% das infeções confirmadas no país ocorreram em instituições hospitalares. “Felizmente em Portugal a segurança nos nossos estabelecimentos de saúde tem sido bastante boa e portanto não é significativo aquilo a que se chamam surtos nosocomiais”, disse Graça Freitas.
O i tentou perceber se está a ser equacionada a uniformização dos rastreios a profissionais de saúde nos hospitais, mas não foi possível ter resposta antes do fecho desta edição. Este tipo de rastreios têm sido implementados por algumas unidades, com diferentes periodicidades em função da avaliação de risco feita pela saúde ocupacional. Atualmente as normas da DGS estabelecem apenas procedimentos para o teste do vírus em profissionais com suspeita de exposição à covid-19, mas tanto a ordem dos médicos como a ordem dos enfermeiros já defenderam rastreios mais regulares. Em maio, o ministério da Saúde chegou a admitir uma revisão da atual norma, mas não houve entretanto atualizações.
Lares e lagos preocupam Esta quarta-feira foram confirmados 336 novos casos de covid-19 no país, 286 na região de Lisboa e Vale do Tejo, onde a maioria dos casos se mantém nos concelhos de Loures, Amadora, Sintra, Odivelas e Lisboa. Embora com uma desaceleração dos novos casos, ao passo que se regista um ligeiro aumento no Norte, Sintra passou ontem a barreira dos 2000 casos, o que até aqui só tinha acontecido na capital.
A par desta situação, novos focos em dois lares com mais de duas dezenas de casos em ambos, em Cinfães e Alcobaça, levaram a DGS a sublinhar que estas são áreas de preocupação e a apelar à necessidade de reforçar a prevenção para proteger os mais vulneráveis. Também a festa ilegal do passado sábado no concelho de Lagos, onde prossegue o inquérito epidemiológico e à qual tinham sido até ontem associados 36 casos positivos para o novo vírus, levou a um apelo para que sejam evitadas concentrações. A estratégia está a ser o confinamento de todos os participantes e contactos dos infetados, sublinhando a necessidade de uma resposta rápida. Ao final do dia, a autarquia anunciou uma campanha massiva para testar todos os que estiveram na festa ou que tenham ligação com quem tenha estado.
Sobre a dexametasona, ontem aprovada para o tratamento de casos graves de covid-19 no Reino Unido após o anúncio de que reduz a mortalidade em doentes ventilados, o presidente do Infarmed recomendou prudência nas conclusões, admitindo no entanto que poderá ser útil e que possa até já estar a ser usada em alguns casos graves, uma vez que é um medicamento comum nos hospitais.