Com “zero paciência” e à procura de voltar a dar voz ao silêncio que se abateu sobre os estabelecimentos noturnos do país, os empresários da noite voltam hoje às ruas de Lisboa com uma missão: entregar simbolicamente ao Governo as “chaves” de todas as casas que continuam encerradas. “Chegou-se à conclusão de que, ao fim de três meses fechados e sem perspetivas e apoios, talvez seja o Governo melhor gerente das discotecas do que propriamente as pessoas que estão à frente delas”, atirou ao i José Gouveia, da Associação de Discotecas de Lisboa e do grupo JNcQUOI. E este é o lema da manifestação – denominada “Silêncio da Noite” – que se realiza hoje, às 15h, junto à Assembleia da República, mas foi criada no norte do país – mais de 300 estabelecimentos noturnos estão unidos neste protesto. Foi através de um grupo de WhatsApp que foi proposto este movimento, com o objetivo de “demonstrar o desagrado e o silêncio” que dizem sentir por parte do Estado.
“O Governo tem de balizar um prazo para que os empresários possam gerir as suas vidas. Neste momento são casas fechadas e funcionários que têm as suas vidas pendentes a aguardar por uma data de reabertura. Tem de haver algum pragmatismo”, sublinhou José Gouveia, reforçando a importância do apoio financeiro por parte do Estado. “Se for no sentido de continuarmos encerrados, tem de haver apoios estatais, porque não laborando por iniciativa governamental e em benefício da saúde pública, os estabelecimentos têm de ser apoiados financeiramente. E tem de ser apoio a fundo perdido, não podemos estar a falar de crédito que, no fim, acaba por ser só o adiar do problema. Estes empresários começam a ficar descapitalizados”, revelou.
Já no caso de ser para reabrir em breve, a Associação de Discotecas de Lisboa mostra-se disponível para avançar com uma “reabertura gradual” dos espaços noturnos. E a expetativa é essa, que o primeiro-ministro, António Costa, anuncie a reabertura pelo menos dos bares até ao final do mês. “Acredito que os Santos Populares também tenham sido um argumento para que não se abrissem os bares, para evitar ajuntamentos”, revelou José Gouveia, esperando que não se dê em Portugal o que acabou por acontecer em Ibiza – ou melhor, nas ilhas Baleares, em Espanha. Aí, o Governo já proibiu a reabertura de discotecas e de outros locais de diversão noturna este ano.
Mas para o vice-presidente da Associação da Hotelaria, Restauração e Similares de Portugal (Ahresp) e administrador do grupo K, Paulo Dâmaso, existe confiança necessária para afirmar que os estabelecimentos noturnos vão reabrir em breve em Portugal. Na terça-feira, um documento que serve como guia de boas práticas para o setor da animação noturna foi entregue ao Governo – com o objetivo de se assegurar as questões de segurança devido à covid-19 –, pelo que resta agora aguardar pela decisão do Governo.
“A Ahresp tem mantido essa troca de informações que viabilize a rápida reabertura e tem estado a trabalhar com os ministérios competentes do Governo para reabrir os estabelecimentos. Estamos confiantes de que, a curto prazo, seja possível a reabertura de toda a tipologia de estabelecimentos, sem e com pista de dança, cumprindo e salvaguardando a saúde pública”, explicou Paulo Dâmaso ao i.
Festas ilegais A Direção-Geral da Saúde (DGS) confirmou ontem 39 casos de covid-19 com origem numa festa ilegal em Lagos, no Algarve, que decorreu no fim de semana. Este tipo de eventos também estão a ser severamente criticados e José Gouveia alerta para estes perigos. “Estão a acontecer em espaços não controlados. Nós temos uma proposta em que nos comprometemos a manter a segurança dos utentes. E essas festas não têm qualquer controlo nem cuidado nessa matéria. São aglomerados de pessoas a divertirem-se sem máscara, sem nada”, realçou. E Paulo Dâmaso acrescenta, sem esconder a preocupação: “As festas ilegais causam risco para a saúde pública”.
“Sentimos alguma injustiça pelo facto de ainda não estarmos a funcionar, mas temos a expetativa de que todas as medidas serão cumpridas. Só o setor da animação noturna tem um peso de 1% no nosso produto interno bruto, representando 1,1 mil milhões de euros em termos de pagamentos de contribuições e impostos e englobando 140 mil trabalhadores. E o setor continua paralisado. Não pode ser”, remata Paulo Dâmaso.