Coreia do Norte rebentou com o seu gabinete de ligação ao Sul

Coreia do Norte rebentou com o seu gabinete de ligação ao Sul


Entre a liderança do regime norte-coreano, Kim Yo-jong, irmã do supremo líder, mostra cada vez mais poder.


A Zona Desmilitarizada da Coreia (DMZ na sigla inglesa) é amplamente considerada uma das mais tensas fronteiras do planeta. Ao longo dos 250 quilómetros de muros e fortificações que dividem a península ao meio, vigiados por cerca de um milhão de soldados, sul-coreanos e norte-americanos observam com suspeição a Coreia do Norte, que mantém os seus mísseis e artilharia de longo alcance apontados a Seul, e vice-versa. Mas a situação escalou ontem quando Pyongyang explodiu os seus gabinetes na cidade fronteiriça de Kaesong. Foi uma resposta a panfletos enviados do Sul por ativistas contra o regime norte-coreano, que já ameaçou com ação militar na DMZ.

Nesta escalada das hostilidades pela Coreia do Norte, a mais séria provocação desde há anos, vemos um novo ator além do supremo líder, Kim Jong-un, cuja saúde foi recentemente questionada: a sua irmã, Kim Yo-jong, anunciou ter dado ordens ao exército para “transformar a linha da frente numa fortaleza e aumentar a vigilância militar” – uma demonstração clara do seu poder dentro do regime. “Sinto que é altura de romper com as autoridades sul-coreanas”, considerou Yo-jong no comunicado, rematando: “O lixo deve ser deitado no caixote”.

Ainda não se sabe exatamente o que a ameaça significa. Contudo, pensa-se que tropas norte-coreanas possam ocupar um parque industrial abandonado em Kaesong que costumava ser partilhado com a Coreia do Sul, assim como uma antiga estância turística conjunta no leste da península, no sopé do monte Kumgang, avançou a agência sul-coreana Yonhap.

Entretanto, todas as linhas de comunicação diplomáticas entre os dois países, centradas no gabinete de Kaesong, que estava vazio devido à pandemia de coronavírus, já tinham sido cortadas a semana passada.

O gabinete de Kaesong funcionava desde 2018, após as conversações pioneiras entre Kim Jong-un e o Presidente sul-coreano, Moon Jae-in. Deixaram muitos com esperança de uma aproximação entre os dois países, que tecnicamente ainda estão em guerra, dado que o cessar-fogo de 1953 nunca deu lugar a um acordo de paz.

Dias antes da explosão, Yo-jong tinha profetizado que “brevemente seria vista a trágica cena do inútil gabinete de ligação norte-sul completamente colapsado”, lembrou o New York Times. Segundo os média estatais norte-coreanos, a explosão do edifício refletiu “a mentalidade de um povo furioso”.

É que Pyongyang não gostou que grupos de norte-coreanos fugidos do regime continuassem a enviar balões de hélio sobre a DMZ a partir do sul, com panfletos, comida, notas de um dólar ou pens USB com telenovelas e notícias sul-coreanas. Seul pediu publicamente aos ativistas que deixassem de o fazer, argumentando que punham em risco os habitantes da fronteira – no entanto, para o regime norte-coreano, tal não foi suficiente.