Brasil. Receios de manipulação de estatísticas da covid-19

Brasil. Receios de manipulação de estatísticas da covid-19


Em guerra com os média, Bolsonaro não quer que saiam os números cumulativos de casos e mortes, numa altura em que o Brasil é o segundo país com mais casos registados.


O Presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, deu outro passo na sua guerra aos média e às medidas de isolamento social, proibindo o Ministério da Saúde de divulgar as estatísticas cumulativas de casos de covid-19, este sábado. A decisão surgiu após dois dias em que o Brasil, o segundo país com mais infeções registadas, bateu recordes no número diário de mortes. Mesmo assim, Bolsonaro diz que os números cumulativos “não retratam o momento do país”, acrescentando que “acabou a matéria no Jornal Nacional” e que no Governo “ninguém tem que correr para atender a Globo”, mantendo o seu discurso recorrente de que a pandemia é empolada pelos seus rivais políticos e pelos média. Ao mesmo tempo, aumentam os receios de manipulação de dados pelo Governo federal.

“Parece que esse pessoal que faz… o Globo, Jornal Nacional, gosta de dizer que o Brasil é recordista em mortes. Agora falta inclusive seriedade. Bote mortes por milhões de habitantes. Nem isso faz”, criticou Bolsonaro. Mas esta análise não mostra um cenário muito melhor: a nível de mortes por milhão, o Brasil continua a ser dos países mais afetados do planeta, com mais de dez vezes de mortos per capita que a vizinha Argentina.

Além disso, o Presidente também defende não incluir nos números de mortos aqueles cujo resultado do teste ao novo coronavírus saia nos dias posteriores – algo que terá um impacto sério nas estatísticas. Uma “tentativa autoritária, insensível, desumana e antiética de dar invisibilidade aos mortos pela covid-19”, descreve o Conselho Nacional de Secretários de Saúde.

No seu continuado desprezo pela pandemia e pelo isolamento social, Bolsonaro tem um aliado no Presidente norte-americano, Donald Trump. O Presidente brasileiro já declarou: “Os Estados Unidos saíram da OMS. A gente estuda, no futuro, ou a OMS trabalha sem o viés ideológico ou nós vamos estar fora também. Não precisamos de gente de fora dar palpite na saúde aqui dentro”.