Ensino. Há aposentados a aprender línguas pela telescola

Ensino. Há aposentados a aprender línguas pela telescola


Não são só os alunos que têm acompanhado as aulas através da televisão. Ao i, Filinto Lima adiantou que conhece casos de pessoas que também usam a telescola para aprender.


Cerca de um mês depois do seu início, a 20 de abril, a telescola tem sido muito mais do que simplesmente a troca de aprendizagem entre alunos e professores do ensino básico através da televisão. A verdade é que muitas pessoas têm aproveitado este método de ensino para enriquecer os seus conhecimentos nesta fase de covid-19, uma vez que têm mais tempo livre. Ligam a televisão, devidamente sintonizada na RTP Memória, e vão aprendendo como se fossem alunos. Ao i, o presidente da Associação Nacional de Diretores de Agrupamentos de Escolas Públicas, Filinto Lima, admitiu conhecer casos concretos de pessoas aposentadas – e não só – que têm dedicado o seu tempo a aprender através da telescola, que nos anos 80 era muito utilizada, embora em moldes diferentes.

“A telescola é muito mais do que aulas para os alunos. Há pessoas que estão a aprender línguas através da telescola. É engraçado. Aposentados e pessoas que têm tempo para isso, incluindo pessoas com literacia baixa, com dificuldades em ler e escrever, estão a fazê-lo e a tentar elevar a sua escolaridade de um modo informal”, sublinhou, confessando que faz todo o sentido alargar o ensino através da televisão. “Há muita gente que faz isso. Acompanham línguas e outras disciplinas, tais como Geografia, entre outras. Aproveitam isso também para aperfeiçoar a leitura. A ideia da telescola não era esta, mas surgiu esta mais-valia inesperada. A ideia era socorrer os alunos que em casa não têm computador nem esses meios. Mas não tem de ser só para os alunos, também pode ser para os outros. Tem toda a lógica”, atirou Filinto Lima.

O presidente da Confederação Nacional das Associações de Pais, Jorge Ascenção, adiantou ao i que também lhe têm chegado relatos idênticos e vai mais longe, dizendo que ele próprio já quis recordar alguns factos históricos esquecidos. “Devo confessar que eu próprio relembrei algumas coisas em algumas aulas, nomeadamente de História. E relataram-me algumas situações, tanto de avós como de pais, que também acompanham. É um programa de televisão que está aberto e que, de acordo com os interesses de cada um, pode despertar essa curiosidade em acompanhar. Nós próprios falámos com o Ministério da Educação. Mesmo quando acabar esta fase da covid-19, achamos que é um programa que tem um conteúdo educativo e cognitivo e com todo o interesse em continuar. Não tem necessariamente de ter este objetivo de complementar a escola. Penso que há programas bem mais desinteressantes na televisão e que este poderá ser para manter”, sublinhou.

Melhorias na telescola Apesar de existirem sempre arestas por limar, a utilização do método de ensino da telescola tem denotado melhorias e o balanço do primeiro mês é positivo.

“Na maioria dos casos, os alunos estão a utilizar. Faço um balanço positivo, sendo mais um recurso que nós temos. Melhorámos bastante de março até agora, há mais alunos com internet”, garantiu Filinto Lima, apesar das reações diferentes de pais e alunos em como lidar com a telescola. Jorge Ascenção reforçou que continuam a existir cassos complicados.

“Há situações que estão a correr bem e outras que não. Mas tendo em conta as reações, o projeto em si, daquilo que pudemos observar, até está bem construído. Mas, muitas vezes, o que não existe é o acompanhamento aos alunos, que continua a não existir, para que depois possam desenvolver algum trabalho autónomo. Houve e há essas dificuldades do próprio processo. Nalguns casos corrigiu-se, noutros não”, rematou.

Audiências estáveis Depois de ter sido líder de mercado na RTP Memória no dia de estreia em Portugal, a telescola tem vindo a estabilizar mas, também no que respeita aos números das audiências, o balanço do primeiro mês é positivo para pais e diretores escolares.

À Lusa, o presidente da Associação Nacional dos Dirigentes Escolares (ANDE), Manuel Pereira, admitiu que as grandes audiências iniciais são normais e que o entusiasmo de existir algo novo pode ter ajudado a conseguir grandes números. “No início houve uma enorme curiosidade pelas aulas e até de pessoas que não tinham nada a ver com a escola e estiveram a assistir às aulas”, defendeu.

As aulas lecionadas pela telescola foram igualmente averiguadas pela Universidade Nova de Lisboa, através de um inquérito feito a mais de dois mil professores. De acordo com os resultados divulgados, alusivos ao ensino à distância, cerca de 62% dos 2647 professores inquiridos lecionam disciplinas pela telescola. Na avaliação que foi feita, os docentes avaliam em 5,2 – numa escala de 1 a 7 – a qualidade das aulas da RTP Memória e, numa escala de 1 a 5, recomendam o acompanhamento aos alunos em 3,7.

No primeiro dia de telescola, recorde-se, a RTP Memória foi líder de mercado, com 16,3% de share, no horário entre as 9h00 e as 11h20. “A RTP Memória foi o canal mais visto junto do target 04-14 anos, registando 42,3 mil espetadores e uma quota de 16,3%”, referiu, na altura, o canal, em comunicado. Só nesse dia foram mais de 2,6 milhões de pessoas a sintonizar o canal através do serviço TDT e mais de 1,3 milhões em Pay TV, perfazendo um total de perto de quatro milhões de portugueses a assistir à telescola.