Israel. Pacientes infetados nos EUA responsáveis pela grande parte dos casos

Israel. Pacientes infetados nos EUA responsáveis pela grande parte dos casos


Estudo concluiu que 70% dos pacientes em Israel foram infetados com uma mutação originada nos EUA.


Um estudo israelita descobriu que mais de 70% dos pacientes infetados com o coronavírus em Israel estão relacionados com uma cadeia de transmissão originária dos Estados Unidos – algo que está a levantar questões pois, segundo o Jerusalem Post, enquanto vários voos provenientes de países europeus foram suspensos no dia 26 de fevereiro, aqueles com origem nos EUA foram apenas suspensos no dia 9 de março.

A análise foi liderada por biólogos da Universidade de Telavive. Foram sequenciados genomas de várias amostras aleatoriamente selecionadas de 200 pacientes de seis hospitais diferentes, espalhados por todo o país. Com este sequenciamento, foi possível aos investigadores identificar as mutações específicas do vírus – ao mesmo tempo revelando a sua cadeia infecciosa, como o vírus entrou no país e como se propagou.

Estas mutações não afetam as características do vírus nem os seus potenciais danos, mas permitem traçar a cadeia de infeção de país para país. Por exemplo, na China, onde surgiu, o vírus sofreu uma ou duas mutações. Ao viajar para a Europa e para os EUA, adquiriu outras mutações, e assim sucessivamente.

O grupo de biólogos, liderado pela investigadora Adi Stern, concluiu ainda que a maioria das infeções em Israel ocorreram devido aos “superpropagadores”. Ou seja, 10% ou menos dos pacientes produziram cerca de 80% dos casos do novo coronavírus em Israel: até esta quarta-feira, o país registou quase 17 mil infeções e mais de 270 óbitos. De acordo com o estudo, citado pelo diário liberal Haaretz, a percentagem de infetados em Israel não deve exceder 1%, estando assim longe de se atingir a imunidade de grupo.

Estes dados contrastam ainda com os 27% de passageiros vindos dos EUA, comparando com todos aqueles que vieram de fora e acusaram positivo nos testes. Tendo o objetivo de guiar futuras políticas públicas para a gestão da crise sanitária, os investigadores levantam dúvidas sobre a decisão do Governo de só suspender os voos provenientes dos EUA no dia 9 de março. “Uma fração substancial das cadeias de transmissão em Israel podiam ter sido evitadas”, concluem, citados pelo New York Times

“Embora o número de pacientes provenientes dos EUA tenha abrandado a certa altura, totalizando 27% de todos os pacientes que vieram de fora, vemos que teve uma contribuição muito mais significativa no alastramento da infeção em Israel”, disse Adi Stern, citada pelo Haaretz. 

O documento apresenta percentagens sobre a origem das infeções. Depois dos EUA (responsáveis pelos tais 70%), tem-se: Bélgica (8%), França (6%), Reino Unido (5%), Espanha (3%), Itália (2%), Austrália (2%), Filipinas (2%) e Rússia (2%). “Olhando para a frente, talvez no futuro devêssemos fechar os portões do país imediatamente depois do surto pandémico, e assim reduzir significativamente a possibilidade de o vírus entrar em Israel”, notou Stern, criticando também a não imposição de quarentena para aqueles que chegaram dos EUA. “Se todos os pacientes que chegaram dos EUA tivessem entrado em quarentena imediatamente, o seu papel poderia ter sido negligenciável. Contudo, não lhes foi requerido que entrassem em quarentena”.

Do lado positivo, o estudo estima que o fechar das portas aos turistas, a aplicação de medidas de distanciamento social e a imposição de quarentena aos cidadãos cortou o rácio de transmissão do vírus em cerca de dois terços. Assim, a investigadora sublinhou a importância de seguir “as medidas de quarentena” onde possível e do “encerramento de fronteiras” para conter a pandemia.

Caso mais de 1% da população tivesse sido contagiada, Stern acrescenta que se teriam visto muitas mais mutações do vírus: “É como uma árvore evolucionária que cria mais e mais ramificações. É provável que o número de pessoas infetadas em Israel seja muito semelhante ao número de pacientes verificado”.