O presidente do Governo Regional da Madeira, Miguel Albuquerque (PSD) ainda não tomou qualquer decisão sobre uma candidatura às próximas presidenciais (estará disposto a ponderá-la, segundo apurou o i) mas já tem um apoio com peso político no partido, o do seu antecessor, Alberto João Jardim.
Em declarações ao i, por telefone, Alberto João Jardim não poupa nas palavras sobre o que considera ser a “dupla Costa/Marcelo”, leia-se primeiro-ministro e Presidente da República. “Se ele [ Miguel Albuquerque] avançar eu vou apoiá-lo”, assegurou ao i. O ex-presidente do Governo Regional da Madeira e ex-líder do PSD/Madeira explicou as suas razões, contestando a “dupla Costa/Marcelo” e usando sempre esta expressão para se referir a ambos. “Apoiarei o Miguel Albuquerque nesta perspetiva de ser uma candidatura nacional, não é para discutir as questões da Madeira. Embora, a dupla Costa/Marcelo estivesse junta numa política de secundarização da Madeira e dos Açores”. No fundo, uma candidatura de Miguel Albuquerque “é sobretudo um grito regionalista, descentralizador de todo o país. Costa e Marcelo são os símbolos de uma situação concentrada e centralizada em Lisboa”, argumentou o ex-líder regional da Madeira para explicar porque o apoiará (se avançar).
Miguel Albuquerque ainda não se pronunciou sobre uma potencial candidatura, mas Jardim já lhe faz (quase) o manifesto eleitoral: “ Nós madeirenses, como portugueses que nos orgulhamos de ser, temos esse dever perante a comunidade nacional de dizer: ‘Há aqui uma alternativa. E a alternativa é também a regionalização, a descentralização do continente’”.
Alberto João Jardim desabafa sobre a relação da Madeira com o continente: “Não há qualquer ideia separatista por parte Madeira, ao contrário do que se passa noutros países da União Europeia. Não só o estado central nunca reconheceu o patriotismo dos madeirenses como, ainda por cima, nos carimbou um estado unitário. O estado unitário é uma situação centralista, uma situação colonial, e o que nós aqui defendemos [ na Madeira] é unidade nacional, que é muito diferente de estado unitário”. Feita esta análise, Jardim volta à carga sobre a relação entre António Costa e Marcelo Rebelo de Sousa.
“Marcelo é no fundo o candidato da situação. Isto é, é situacionista no apoio ao Governo e é situacionista no apoio ao sistema constitucional que o país tem urgência em rever”, advoga Jardim. Que sempre foi crítico do resultado final do teor da Constituição de 1976. Para Jardim, o atual Presidente da República é também o recandidato herdeiro dessa realidade.
Questionado se Marcelo não avalia também esses riscos, Jardim tem resposta pronta: “Penso que Marcelo pensou que todos os sociais-democratas portugueses iam passar-lhe um cheque em branco e que ele iria bater o próprio Dr. Mário Soares nos resultados eleitorais”.
O contexto das movimentações O que motivou todo o conjunto de movimentações à esquerda e à direita para as presidenciais de janeiro de 2021, foi o desafio (e o estender de tapete) de Costa a Marcelo numa visita a Autoeuropa. Mas para Alberto João Jardim esses sinais não o surpreenderam: “Marcelo Rebelo de Sousa e António Costa estão ideologicamente coincidentes na medida em que travaram um projeto de regionalização”. [O projeto] está pronto e eu fui um dos seus autores, e percorremos o país. Todo o país quer a regionalização, é desejo dos portugueses e a dupla Costa/Marcelo impediu a regionalização no continente, para deixar tudo na mesma, tudo sempre debaixo dos poderes em Lisboa e dos grupos de pressão que sustentam esses poderes”.
Os recados para Rui Rio ler Neste xadrez como fica o PSD? Em maus lençóis por ter de apoiar Marcelo? Para Alberto João Jardim não é o PSD que fica em “maus lençóis” neste processo. Mais “quem está em maus lençóis é o Partido Socialista, porque Rui Rio não tem qualquer compromisso com o Marcelo [Rebelo de Sousa]. E mais, é natural que Rui Rio pense duas vezes antes de apoiar Marcelo, na medida em que quando foram as eleições internas no PSD, a Presidência da República estendeu a passadeira vermelha para os adversários de Rui Rio desfilarem”, argumenta o senador do PSD. Que apoiou Rio na contenda. Por isso, haverá uma análise que o líder do PSD terá de fazer, segundo Alberto João Jardim: “A partir do momento em que o PSD tenha o seu candidato próprio, das duas uma: ou Rui Rio apoia esse candidato próprio ou, então, dá liberdade de voto. Agora, não vejo é Rui Rio estar a apoiar o candidato do António Costa. Marcelo é apenas o candidato do António Costa”, porque, insiste Jardim, o Presidente da República “colou-se demasiado aos interesses do Partido Socialista”. Para o efeito, acrescenta que “António Costa como primeiro-ministro não é um estadista. António Costa é sempre e será sempre um homem de partido, um aparathick”. E para Jardim este foi o “erro fatal de Marcelo Rebelo de Sousa”.
Numa análise ao que se antecipa para as presidenciais de 2021, Jardim ainda volta a fazer mais um contexto (para o líder do PSD avaliar).”Neste momento, vejo aqueles pequenos de extrema-direita do Chega a quererem avançar. Ainda hoje li no seu jornal que no CDS se desenha um candidato presidencial. Não vejo como é que Rui Rio se vai colar ao Costa numa candidatura presidencial, mais a mais, havendo um candidato na área do PSD”.
E conclui que também não vê “o PCP e o BE a apoiarem Marcelo, se não estaria tudo louco”. Finalmente, “acho que há muito boa gente no PS que adora as loucuras de Ana Gomes e que não vai votar em Marcelo Rebelo de Sousa”, afirma Jardim.
No PSD, o tema das presidenciais ainda não foi abordado ao nível da direção, ainda que Rio tenha dito várias vezes que era preciso esperar por uma decisão do Presidente da República. Apesar disso, um eventual apoio será sempre gerido com cuidado para não haver colagens ao PS. E há quem receie, no PSD, que a abstenção possa aumentar no centro-direita nas eleições presidenciais.
Ao i, antes das declarações de Jardim, o também ex-deputado do PSD (e madeirense) Guilherme Silva contextualizou a possível candidatura de Albuquerque como resultado “desta conjuntura pandémica relativamente à qual os órgãos de soberania têm tido uma atitude de alguma indiferença e de algum desinteresse em relação às regiões autónomas e que esta iniciativa tem vista também chamar a atenção para esta circunstância”.