Na batalha ideológica a necessidade de um discurso contra o ódio


A batalha ideológica que agora se trava nos media e redes sociais prepara já, de modo muito claro e duro, um outro confronto e o terreno onde ele se irá desenrolar.


Há já muito tempo que se não assistia, um pouco por todo o lado, a uma tão frontal guerra ideológica.

É preciso remontar quase aos tempos da Guerra Fria para recordar tão desenfreada confrontação e propaganda de ideias políticas e visões do mundo.

A covid-19 e os males sociais que a pandemia cruamente expôs têm proporcionado esses ímpetos de crítica e, sobretudo, de defesa violenta do modelo de sociedade em que vivemos.

Uns veem nesses males – e não veem mal – os limites do modelo dominante; outros, porque também os veem, procuram desesperada e cada vez mais ferozmente defender a sua continuidade intocada, mesmo quando, aparentemente, fingem criticá-lo.

Mais do que as mortes provocadas pela pandemia – muitas, inevitáveis, e outras resultantes exatamente da desestruturação dos apoios sociais existentes no modelo atual da sociedade –, discute-se, hoje, o sentido do amanhã: o sentido do nosso amanhã.

Por ora, tal batalha ideológica tem-se desenvolvido sobretudo no plano político-mediático, quer através dos média tradicionais quer, também, por via das redes sociais.

Virá um tempo, fruto da maior evidência das cruas consequências económicas e sociais provocadas pela crise sanitária, em que os cidadãos irão ser confrontados, contudo, com opções políticas necessariamente mais visíveis e antagónicas.

A batalha ideológica que, de forma mais ou menos ínvia, agora se trava nos média e nas redes sociais prepara já, de modo muito claro e duro, esse confronto e a escolha do terreno onde ele irá desenrolar-se.

Em torno dos números das mortes, dos infetados, do levantamento das medidas de confinamento, dos modelos de saúde pública, da qualidade e quantidade dos apoios públicos ao desemprego e aos necessitados, às empresas e, enfim, à retoma da economia, desenvolvem-se já estratégias de propaganda que visam confrontar modelos de sociedade do Norte e do Sul, do Ocidente e do Oriente, do capitalismo mais desregulado e do capitalismo, ainda assim, mais controlado pelo poder político.  

Alguns protagonistas recentes desta guerra – por ora, de palavras – esforçam-se, além disso, por apresentar, ruidosamente, alternativas já tristemente ensaiadas, mesmo que revestidas, agora, de uma roupagem mais condicente com os tempos mas, ainda assim, não menos perigosas e violentas.

É o que sucede quando, por exemplo, desenterram velhos temores e se enxurdam nas situações sociais graves de algumas minorias que, vergonhosamente, pouco mereceram, de facto, a atenção dos poderes públicos e são, por isso, nas atuais circunstâncias, suscetíveis de ser tomadas como alvo do ódio e da demagogia fácil.

Têm tais protagonistas, mesmo quando publicamente censurados, uma atenção mediática desmesurada, que resulta tanto da aparente novidade do discurso como, sobretudo, do escândalo do mesmo – e o escândalo é que alimenta os média.

Esse tom escandaloso, queira-se ou não, promove-os – nem sempre tão inocentemente como se possa supor – a um lugar de destaque no confronto ideológico atual.

O perigo que eles representam não assenta, por ora, na sua capacidade de mobilização ou enquadramento de grandes franjas da população.

Ele resulta sobretudo da pressão ideológica que fazem sobre as forças políticas e sociais mais conservadoras que sempre existiram na sociedade democrática, levando-as, por emulação, a regressar, também elas, a discursos e atitudes políticas impensáveis há anos.

A ocorrência recente de algumas delações públicas – mesmo que ridiculamente despropositadas – é disso um exemplo.

Poder-se- á dizer que, em democracia, tudo isso é possível – e é.

Contudo, a constatação do que vai acontecendo impõe que as forças da democracia constitucional, no seu conjunto, não adormeçam, não condescendam com tais discursos e atitudes, e antes lhes deem uma resposta atenta, estruturada e permanente.

O pior que poderá acontecer será as forças constitucionais – mais conservadoras ou menos conservadoras – permitirem que a estratégia da confrontação ideológica aguerrida, desenvolvida por tais novos protagonistas, consiga dividi-las, enfraquecendo assim a barreira do discurso constitucional e humanista comum, que tem contido, até hoje, os velhos/novos discursos do ódio e da violência.

Se soçobrarem, o terreno e os termos do confronto serão, a partir daí, já outros e, por certo, muito mais brutais: serão o terreno e os termos que os velhos/novos protagonistas do ódio escolherem e que certamente lhes serão mais favoráveis.

Se isso acontecer, se, por oportunismo, alguns quiserem também aproveitar, nem que seja um pouco, de tais estratégias escandalosas e odiosas, todos, mas todos, sairão a perder.

Será, por fim, a própria ordem constitucional e os valores do humanismo, em que ela se fundou e que nos têm orientado, que poderão esboroar-se.


Na batalha ideológica a necessidade de um discurso contra o ódio


A batalha ideológica que agora se trava nos media e redes sociais prepara já, de modo muito claro e duro, um outro confronto e o terreno onde ele se irá desenrolar.


Há já muito tempo que se não assistia, um pouco por todo o lado, a uma tão frontal guerra ideológica.

É preciso remontar quase aos tempos da Guerra Fria para recordar tão desenfreada confrontação e propaganda de ideias políticas e visões do mundo.

A covid-19 e os males sociais que a pandemia cruamente expôs têm proporcionado esses ímpetos de crítica e, sobretudo, de defesa violenta do modelo de sociedade em que vivemos.

Uns veem nesses males – e não veem mal – os limites do modelo dominante; outros, porque também os veem, procuram desesperada e cada vez mais ferozmente defender a sua continuidade intocada, mesmo quando, aparentemente, fingem criticá-lo.

Mais do que as mortes provocadas pela pandemia – muitas, inevitáveis, e outras resultantes exatamente da desestruturação dos apoios sociais existentes no modelo atual da sociedade –, discute-se, hoje, o sentido do amanhã: o sentido do nosso amanhã.

Por ora, tal batalha ideológica tem-se desenvolvido sobretudo no plano político-mediático, quer através dos média tradicionais quer, também, por via das redes sociais.

Virá um tempo, fruto da maior evidência das cruas consequências económicas e sociais provocadas pela crise sanitária, em que os cidadãos irão ser confrontados, contudo, com opções políticas necessariamente mais visíveis e antagónicas.

A batalha ideológica que, de forma mais ou menos ínvia, agora se trava nos média e nas redes sociais prepara já, de modo muito claro e duro, esse confronto e a escolha do terreno onde ele irá desenrolar-se.

Em torno dos números das mortes, dos infetados, do levantamento das medidas de confinamento, dos modelos de saúde pública, da qualidade e quantidade dos apoios públicos ao desemprego e aos necessitados, às empresas e, enfim, à retoma da economia, desenvolvem-se já estratégias de propaganda que visam confrontar modelos de sociedade do Norte e do Sul, do Ocidente e do Oriente, do capitalismo mais desregulado e do capitalismo, ainda assim, mais controlado pelo poder político.  

Alguns protagonistas recentes desta guerra – por ora, de palavras – esforçam-se, além disso, por apresentar, ruidosamente, alternativas já tristemente ensaiadas, mesmo que revestidas, agora, de uma roupagem mais condicente com os tempos mas, ainda assim, não menos perigosas e violentas.

É o que sucede quando, por exemplo, desenterram velhos temores e se enxurdam nas situações sociais graves de algumas minorias que, vergonhosamente, pouco mereceram, de facto, a atenção dos poderes públicos e são, por isso, nas atuais circunstâncias, suscetíveis de ser tomadas como alvo do ódio e da demagogia fácil.

Têm tais protagonistas, mesmo quando publicamente censurados, uma atenção mediática desmesurada, que resulta tanto da aparente novidade do discurso como, sobretudo, do escândalo do mesmo – e o escândalo é que alimenta os média.

Esse tom escandaloso, queira-se ou não, promove-os – nem sempre tão inocentemente como se possa supor – a um lugar de destaque no confronto ideológico atual.

O perigo que eles representam não assenta, por ora, na sua capacidade de mobilização ou enquadramento de grandes franjas da população.

Ele resulta sobretudo da pressão ideológica que fazem sobre as forças políticas e sociais mais conservadoras que sempre existiram na sociedade democrática, levando-as, por emulação, a regressar, também elas, a discursos e atitudes políticas impensáveis há anos.

A ocorrência recente de algumas delações públicas – mesmo que ridiculamente despropositadas – é disso um exemplo.

Poder-se- á dizer que, em democracia, tudo isso é possível – e é.

Contudo, a constatação do que vai acontecendo impõe que as forças da democracia constitucional, no seu conjunto, não adormeçam, não condescendam com tais discursos e atitudes, e antes lhes deem uma resposta atenta, estruturada e permanente.

O pior que poderá acontecer será as forças constitucionais – mais conservadoras ou menos conservadoras – permitirem que a estratégia da confrontação ideológica aguerrida, desenvolvida por tais novos protagonistas, consiga dividi-las, enfraquecendo assim a barreira do discurso constitucional e humanista comum, que tem contido, até hoje, os velhos/novos discursos do ódio e da violência.

Se soçobrarem, o terreno e os termos do confronto serão, a partir daí, já outros e, por certo, muito mais brutais: serão o terreno e os termos que os velhos/novos protagonistas do ódio escolherem e que certamente lhes serão mais favoráveis.

Se isso acontecer, se, por oportunismo, alguns quiserem também aproveitar, nem que seja um pouco, de tais estratégias escandalosas e odiosas, todos, mas todos, sairão a perder.

Será, por fim, a própria ordem constitucional e os valores do humanismo, em que ela se fundou e que nos têm orientado, que poderão esboroar-se.