Inqúerito da Ordem dos Médicos revela que quase metade dos profissionais que tiveram contacto com infetados não foram testados

Inqúerito da Ordem dos Médicos revela que quase metade dos profissionais que tiveram contacto com infetados não foram testados


Inquérito revela que anestesiologia, medicina geral e familiar, medicina interna e pediatria foram as especialidades mais afetadas pelo contágio da covid-19.


Quase metade dos médicos que tiveram contacto com pelo menos um caso de covid-19 nunca foi testada para a presença de coronavírus. Os resultados são de um inquérito feito pela Ordem dos Médicos.

“Mais de 47% dos médicos que tiveram contacto com um caso de COVID-19, considerados suspeitos de infeção pelo novo coronavírus ou com sintomatologia compatível com a doença nunca foram submetidos a qualquer teste”, revelou a Ordem dos Médicos (OM), através de comunicado.

“De entre os médicos que fizeram um teste, mesmo assim cerca de 19% tiveram de esperar sete ou mais dias pela sua realização e 21% esperaram entre três e seis dias. Só 59% viram o procedimento concretizado em menos de três dias”, acrescenta aquela entidade.

A realização do inquérito, que contou com a resposta de 6.613 médicos, é justificada, pela OM, com a “escassez ou inconsistência de dados partilhados pelas autoridades de saúde”.

“Os resultados que encontrámos com este trabalho exploratório vão ao encontro de uma das preocupações que temos vindo a manifestar. Muitos médicos não foram devidamente testados e isso sempre foi uma recomendação basilar da Ordem dos Médicos para garantimos a saúde e segurança dos nossos profissionais de saúde e doentes. Numa altura em que estamos progressivamente a alargar a atividade assistencial, tanto ao nível de consultas, como de cirurgias e de exames, é essencial que se testem todos os casos suspeitos de forma célere, mas também regularmente os profissionais de saúde”, explica o bastonário da Ordem dos Médicos, Miguel Guimarães.

Na altura que decorreu o inquérito, perto de 3% dos médicos que responderam estavam ou já tinham estado infetados pelo SARS-CoV-2. Cerca de 6% estavam também impedidos de trabalhar por diagnóstico positivo ou quarentena, por estarem a aguardar teste, sem realização de teste ou sem sintomatologia, mas com contacto de risco).

As conclusões indicam que a anestesiologia, a medicina geral e familiar, a medicina interna e a pediatria foram as especialidades mais afetadas, representando 51% do total. Já os médicos internos representaram 8,2% do total.

“De início registámos vários problemas, sendo que nem todos foram corrigidos. Verificou-se uma grande escassez de equipamentos de proteção individual, sobretudo adequados à função de cada profissional, e também divulgação de informação clara sobre que materiais utilizar e quando. Isso traduziu-se, naturalmente, num número de infeções entre médicos superior ao que poderíamos ter tido. Não podemos correr o risco de não proteger a vida de quem cuida da vida dos doentes”, reforça o bastonário.

Ainda segundo a OM, os números de casos positivos da COVID-19 entre os médicos seguem a tendência do país: 58,5% dos inquiridos que notificam estar com COVID-19 são da região Norte, seguindo-se a região Sul com 21,8% e a região Centro com 19,7%.