As alegações do Governo venezuelano, na semana passada, de que mercenários teriam invadido o país por via marítima, vindos da Colômbia em lanchas rápidas, sendo oito abatidos e 16 detidos, incluindo dois norte-americanos, parecia algo saído de um filme do Rambo.
Contudo, a história, que terá sucedido nas províncias de La Guaira e Aracas, ganha fundamento. Na quarta-feira, Juan José Rendón, um dos principais conselheiros do autoproclamado Presidente interino da Venezuela, Juan Guaidó, admitiu à CNN ter assinado um contrato com a Silver Corp, a empresa norte-americana suspeita de organizar a incursão. O objetivo? Sequestrar, ou “capturar e entregar à justiça”, nas palavras de Rendón, altos dirigente do regime.
Rendón, responsável pelo comité de estratégia de Guaidó. explicou que a empresa de segurança privada, baseada na Florida, teria “o encargo de analisar todos os cenários possíveis para o fim da usurpação”. E lembrou: “O Governo legítimo do Presidente Guaidó não controla uma força policial dentro do país”,.
O preço terão sido 50 mil dólares (44 mil euros), mas era apenas um plano preliminar: a Silver Corp nunca terá recebido luz verde, disse o conselheiro. Que, ainda assim, sublinhou: “Como bem disse o Presidente, estamos a analisar coisas em cima da mesa e por baixo da mesa”.
Afinal, o que se passou? Logo após os confrontos em La Guaira, Maduro gabou-se da capacidade das suas secretas e das forças armadas e de segurança. “Sabíamos tudo: o que eles diziam, o que estavam a comer, o que não estavam a comer, o que estavam a beber e quem os financiava”, afirmou o Presidente.
Contudo, se a acusação inicial de Caracas era que os norte-americanos capturados eram agentes da DEA, dado que o Departamento de Justiça dos EUA anunciou uma recompensa de 15 milhões de dólares pela captura de Maduro, acusado de “narcoterrorismo” com o objetivo de “inundar os EUA de cocaína”, rapidamente ficou claro que os homens eram mercenários.
O próprio fundador da Silver Corps, Jordan Goudreau, antigo barrete-verde norte-americano de origem canadiana, viria a admiti-lo num vídeo, obtido pelo New York Times, ao lado de Javier Nieto, um capitão venezuelano reformado. “É óbvio que as medidas eleitorais, democráticas e políticas se esgotaram”, disse Nieto, segundo o qual 60 homens estiveram envolvidos na operação.
Caracas acrescentou foram apreendidas armas e documentos norte-americanos e peruanos na incurssão. Os dois cidadãos dos EUA detidos foram Airan Berry e Luke Denman, ex-militares. Denman terá confessado que planeavam tomar as torres de controlo do aeroporto de Caracas para fazer entrar um avião que levaria Maduro para os EUA.
Entre os mortos, segundo o regime, estaria o ex-general Clíver Alcalá Cordones, que se entregou às autoridades norte-americanas em março deste ano, através da Colômbia: ofereciam 10 milhões de dólares pela sua detenção, acusado de narcotráfico.
Após os incidente, a oposição negou estar envolvida, mas Guaidó acusou o Governo de atrocidades. “Nicolás Maduro, és responsável. O regime sabia da operação, havia infiltrados e esperaste para os massacrar”, declarou.
Pescadores
Uma das embarcações do grupo, com oito pessoas a bordo, terá sido detetada por pescadores da pequena aldeia de Chuao, que contactaram as autoridades locais e auxiliaram na detenção. As imagens mostram os homens presos no chão, amarrados com linhas de pesca.
“Eles são Rambos e nós somos um povo humilde”, disse, depois, um dos pescadores. “Não sabiam da surpresa que lhes íamos dar”, garantiu, em tom orgulhoso, à Telesur, a televisão estatal.