O jogador da seleção nacional Ricardo Quaresma fez duras críticas a André Ventura numa mensagem que está a ser partilhada nas redes sociais por políticos de esquerda e de direita. Francisco Louçã, do BE, Ana Gomes, do PS, ou Teresa Leal Coelho, do PSD, foram alguns dos políticos que elogiaram o jogador e lamentaram a posição do deputado do Chega em relação à comunidade cigana.
A polémica começou com André Ventura a criticar a postura da comunidade cigana perante a pandemia. O Chega revelou na edição de segunda-feira do i que quer criar “um plano específico para as comunidades ciganas em matéria de saúde e segurança”.
As críticas à comunidade cigana não são novas, mas ganharam relevo com a resposta de Ricardo Quaresma. O jogador escreveu uma mensagem a alertar que “o populismo racista do André Ventura apenas serve para virar homens contra homens em nome de uma ambição pelo poder que a História já provou ser um caminho de perdição para a humanidade”. Ricardo Quaresma recorda que “a seleção nacional de futebol é de todas as cores, pretos, brancos e até ciganos”, e nenhum português celebra menos um golo porque o jogador é preto, branco ou cigano. “Eu sou cigano. Cigano como todos os outros ciganos e sou português como todos os outros portugueses, e não sou nem mais nem menos por isso”, escreve.
Ventura reagiu de imediato e considerou “lamentável que um jogador da seleção nacional se envolva em política”. E apelou às autoridades do futebol para que “não deixem que isto se torne o novo normal”. Mais tarde, nas redes sociais, o deputado do Chega defendeu que Quaresma deveria sensibilizar a comunidade cigana para “cumprir as mesmas regras a que todos os restantes cidadãos estão obrigados” durante a pandemia.
A mensagem de Ricardo Quaresma foi partilhada por milhares de pessoas nas redes sociais. Um conjunto de personalidades lançou uma carta aberta a denunciar que a proposta do Chega “viola grosseiramente a Constituição, ao discriminar uma comunidade pelas suas características étnico-raciais e ao propor retirar-lhes direitos, liberdades e garantias de forma desproporcional face aos restantes cidadãos, como um confinamento específico motivado apenas pela sua origem étnica”. A carta aberta conta com o apoio de mais de uma centena de personalidades, entre as quais Ana Gomes, Francisco Louçã, Marisa Matias, Luís Filipe Menezes, Joana Mortágua, Helena Roseta e Isabel do Carmo. O secretário de Estado Carlos Miguel, a deputada Beatriz Dias e o ator António Capelo também subscreveram o documento.
Ana Gomes escreveu no Twitter que o deputado do Chega faz “baixa política perigosa e sem escrúpulos”. Para a ex-eurodeputada do PS, “era o que mais faltava internar os portugueses de etnia cigana” e “internados em segurança máxima devem ser os psicopatas que querem retorno a métodos nazis”.
Francisco Louçã criticou o deputado do Chega por “mandar calar o Quaresma”. Na sua página do Facebook, o ex-deputado bloquista escreve que André Ventura anda “incomodado por haver muita gente que se lembra de que ele queria fechar todos os hospitais públicos” e “procurou alguma forma de dar nas vistas” com uma proposta sobre a comunidade cigana.
Teresa Leal Coelho, vereadora na Câmara de Lisboa e ex- -vice-presidente do PSD, também partilhou a mensagem do jogador da seleção nacional. “Tolerância zero para comportamentos de natureza racista e discriminatória”, escreve a ex-deputada social-democrata.
Isabel Moreira, Tiago Barbosa Ribeiro e Catarina Marcelino, do PS, José Gusmão e Moisés Ferreira, do Bloco de Esquerda, e Joacine Katar Moreira também estiveram entre os deputados que aplaudiram a postura de Ricardo Quaresma.
A polémica entre André Ventura e a comunidade cigana renasceu com a proposta do Chega para criar um plano especial durante a pandemia. Desde que chegou à política que André Ventura ataca a comunidade cigana. Num entrevista ao SOL, questionado sobre se não teme estar a ser injusto para uma comunidade ao generalizar determinados comportamentos, o deputado do Chega disse que prefere ser “injusto e resolver um problema do que fazer como nos últimos 45 anos”.
A comunidade cigana já tinha feito duras críticas à proposta apresentada pelo Chega. Olga Mariano, ativista pelos direitos da comunidade cigana, defendeu, em declarações ao i nesta terça-feira, que o líder do Chega “coloca tudo no mesmo saco” e está “a fazer um jogo que só no tempo do Hitler é que se fazia”.
O presidente da União Romani Portuguesa também defendeu que “não devemos meter tudo dentro do mesmo saco” e que André Ventura esquece que os ciganos são portugueses como ele. “Cada vez que falo de alguma pessoa da sociedade maioritária que comete um crime, eu falo no nome desse senhor, não falo no geral. E cada vez que um cigano comete um crime, este senhor fala dos ciganos – onde me está a incluir”, lamenta José Maria Fernandes.
“Eu sou cigano. Cigano como todos os outros ciganos e sou português como todos os outros portugueses, e não sou nem mais nem menos por isso”