Fruto da abertura de algum comércio, haverá já esta semana mais gente nas ruas. E, depois do período de confinamento, há, apesar de todos os constrangimentos, valores positivos que não podem ser deixados de lado. Como explicou ao SOL Margarida Pedroso Lima, psicóloga na área do bem-estar e professora na Faculdade de Psicologia na Universidade de Coimbra, «devemos centrar-nos nos aspetos positivos» e esta pausa em modo obrigatório fez com que as pessoas se acalmassem, grande parte descansou mais e também dormiu mais.
E António Coimbra de Matos, psiquiatra e psicanalista, concorda com esta visão de que houve aspetos positivos: «Este tempo de vida suspensa, muito para além do medo, e pela redução da pressão de domínio e obediência, facilitou a emergência e expansão da verdadeira essência da natureza humana – a necessidade de amar e ser amado. Nunca se viu tamanha explosão da solidariedade».
Ao SOL, Coimbra de Matos fez ainda um desabado sobre o que espera para os próximos tempos: «Saibamos nós aproveitar o momento para rodar do paradigma da competição para o da cooperação».
Mas afinal o que é que este tempo permitiu a muitos fazer? «Estranhamente, algumas pessoas aumentaram o exercício, começaram com as aplicações a fazer ginástica, yoga e conheço até muitas pessoas que começaram a fazer meditação», explica Margarida Pedroso Lima. Existe todo um conjunto de boas práticas que começaram durante a quarentena, porque, de facto, o travão na azafama diária o permitiu.
O teletrabalho, por exemplo, chegou aos mais céticos e aos que não estavam tão habituados a lidar com a tecnologia. Além de «ficarmos todos mais informatizados», lembra a psicóloga especialista na área do bem-estar, o contacto com os amigos tornou-se mais frequente, ainda que à distância. E até os bebés que nasceram em plena pandemia recebem agora mais sossego. Apesar de todos os cuidados adicionais necessários, os recém-nascidos «têm menos aquela excitação das visitas e estão mais resguardados».
Depois do desconfinamento será necessário continuar as boas práticas adquiridas durante os dias de quarentena. Margarida Pedroso Lima tem até pacientes que dizem: «Agora vai acabar o confinamento e ainda tinha coisas que queria fazer». «Claramente, as pessoas começaram a dar conta da multiplicidade de coisas que podem fazer e melhorar e até de algumas vantagens. Eventualmente, as casas estão mais limpas, muitas coisas foram arrumadas que estavam em baús, por exemplo», explicou.
O peso da responsabilidade social é enorme. Até aqui ouvia-se ‘ele que faça’. Agora é diferente, «somos todos importantes, estamos todos juntos, em rede, todos somos responsáveis, e isto é uma coisa positiva que vamos herdar de tudo o que aconteceu».
Os dois polos que se criam
Com a saída à rua, explica Margarida Pedroso Lima, não se sabe, objetivamente o que vai acontecer. Há, no entanto, algumas certezas: as pessoas precisam de ver outras pessoas, de sair de casa, vai existir mais medo, estranheza e desconfiança, «o que, de certa maneira vai pautar o futuro». E vai existir também «algum fundamentalismo, que é uma tendência bastante comum». Ou seja, haverá a tendência para que as pessoas se posicionem num de dois grupos. Um grupo onde estão os mais otimistas e com sentimento de que o pior já passou e ninguém vai ficar infetado e outro grupo onde estão os mais cautelosos. «Vai haver um bocadinho esta parte crítica em relação aos outros que vão ser menos rigorosos e esta separação entre estas duas formas de estar».
Grupos à parte, as pessoas precisam de sair de casa, «porque isto de estar fechado tem as suas desvantagens – apanhamos menos ar, menos sol, estamos menos felizes em alguns aspetos, algumas pessoas não, mas muitas estão».