Deixem os Discos Girar #6. YESS dos Paus

Deixem os Discos Girar #6. YESS dos Paus


A banda de Fábio Jevelim, Hélio Morais, Makoto Yagyu e Quim Albergaria lançaram em outubro do ano passado o seu mais recente disco, Yess. Em entrevista ao i, a banda explica como este disco é uma forma de se sentirem melhor “num mundo que não parece querer ajudar nessa procura”.


Os Paus estavam fartos da apatia e da má disposição no mundo, por isso decidiram criar um álbum positivo. Esse álbum é YESS.

O quinto disco da sua discografia, sucessor de Madeira, álbum gravado no Brasil e considerado um dos melhores registos do quarteto lisboeta, abandona alguns dos elementos mais comuns e mais rapidamente associados ao grupo de forma a atualizar e a manter mais atual o som de uma banda que, à data do lançamento do disco, estava a celebrar o seu décimo aniversário.

Como foi feita esta metamorfose?

A banda explica:

Fizemos um disco novo numa bolha..

Mas deixámos entrar o Rodrigo Coelho e o Grassmass, um amigo novo que fizemos no Brasil, que faz música que junta as muitas expressões do swing brasileiro com as possibilidades da electrónica modular.

Este é um disco onde vamos ao encontro de uma vontade nossa de nos sentirmos melhor num mundo que não parece querer ajudar nessa procura.

A vida, por natureza, não te pergunta se estás bem, assume o não como default.

Mas tens de lhe responder, e, para sobrevivermos, com dignidade, temos de contrariar esse lado default da vida. Assim, na iminência da mudança, a resposta é YESS. Tem de ser.

YESS 

O início do nosso disco, o primeiro single e, curiosamente, uma das últimas a ter sido composta e gravada. Foi um dos rascunhos pelo qual não dávamos muito. Em bruto, não nos pareceu excepcional. Mas, depois, surgiu uma linha de voz – “yes, mato hoje este stress”. E esta vontade de virar o bico ao prego e libertarmo-nos de uma ansiedade aculturada, transformou esta canção num botão para te ejectar do cockpit de um avião em espiral descendente. E põe logo o disco num tom de “tou-me a cagar. Agora mando eu.” E isso deixou-nos felizes.

Passos Largos

Um 6/4 com o pulso no offbeat, põe esta canção entre Trás-os-Montes e o Mali. O groove puxa para trás, mas a letra puxa para a frente, e ficas preso numa corrente de água quente, tipo St Torpes. É uma canção sobre emancipação dos nossos próprios medos para ganhar espaço público para a expressão do que te é intimamente verdadeiro. Temos de caminhar ao tamanho dos nossos próprios passos.

Atletas de Kispo

Canções de trabalho sempre existiram. Para marcar o ritmo da enxada, para sincronizar a puxada das redes, para simplesmente doer menos. Esta é uma canção de trabalho para quem não gosta de trabalho. Especialmente numa altura onde se elogia a ausência de descanso como uma necessidade e consequência do sucesso. Não paramos, a nossa religião é a rotina, o trabalho, o sucesso.

Iran Costa

Esta canção é o resultado de um amor antigo – o grime. E este balanço mecânico, frio e exótico, das Caraíbas para uma sala de servidores refrigerada, é no meio da distopia que nos dá vontade de dançar. A presença do bicho do fascismo, do populismo, da iminência da extinção e de um futuro muito complicado para os nossos filhos, às vezes faz-nos querer desligar e ser hedonistas da forma mais simples, como numa canção do Iran Costa.

Medronho

O medronho é uma jam entre o Makoto e o Rodrigo. Como uma conversa que esqueceu o tema e nem tem intenções de se calar. É tipo uma madrugada de verão movida à destilada local. É um bálsamo e uma purga.

Não aviso cabeças

Às vezes, esquecemo-nos que somos uma banda rock. Às vezes, lembramo-nos.

Lúzia Veneno

Esta canção é uma chula virada ao contrário e a querer ser dancehall, como o serpentear de uma cobra que dança para se livrar da pele velha. É uma canção de amor sobre aprender a não ter medo de mudar e que o amor sobre alimentar e deixar voar.

Chega aqui

O Fábio disse que faltava música rápida no disco. E fizemos esta. É tipo se o Wiley quisesse fazer ska. Londres e Lisboa, via Kingston.

Jorge

Começa com uma ideia de serenidade. Depois, vamos perturbando essa serenidade no ritmo, na melodia e o que tinha começado como bálsamo acaba como um enxame de preocupações. Até mudarmos de canção. Jorge é uma canção que muda, de uma forma um pouco dolorosa até. É uma espécie de sumário do disco.

Missa de Relva

 Passamos por algo juntos e esta canção é o sacudir dos restos de pele velha do corpo que saiu renovado deste disco. Aqui o Rodrigo toma um pouco mais a rédeas e dá ao tema um lado de adult contemporary, quase lounge, criando um sentimento de calma apreensão, de não saberes o que vem a seguir. Mas está-se bem.