Em Portugal, a pandemia está razoavelmente controlada. Ganhou-se tempo para equipar o SNS e adequar os serviços a novos procedimentos. Adquiriram-se ventiladores, puseram-se de pé equipas. Perdeu-se diagnóstico e tratamento nas áreas não covid-19, e isso terá reflexos negativos. Os números são preocupantes. É tempo de dizer aos doentes que têm de ir às urgências, consultar o médico ou fazer exames, pois não apenas de ou com covid-19 se morre, muito pelo contrário. De resto, cumprir normas para evitar o segundo surto e ser exigente na proteção dos grupos mais vulneráveis. Este é o pressuposto para avançar. Portugal precisa de avançar.
A frente económica faz vítimas. A miséria e a pobreza também matam. Matam projetos de vida, matam sonhos e matam pessoas. Ainda não é possível ver os estragos, muitos estarão debaixo do tapete, mas não é difícil antevê-los. O processo de reabertura da economia vai ser doloroso. Pode ser simples reabrir muitas atividades – outras, nem tanto –, mas será extraordinariamente difícil recuperar a procura agregada. Muitos que ainda têm esperança ficarão desiludidos, não vão partir do ponto a que tinham chegado. As dúvidas sobre o futuro que se avolumam – quando vem a vacina, haverá um segundo surto, vou continuar a ter trabalho – vão retrair o consumo, consumo esse já deprimido pela austeridade expressa em layoffs, no aumento do desemprego, na mera inatividade. Quer isto dizer que os padrões de consumo vão alterar-se, pelo menos numa primeira fase. Quem vai comprar carro ou casa no meio da incerteza? Quem vai investir num novo negócio, exceto os mais óbvios e que permitem ganhos de resposta à crise, satisfazendo novas necessidades? Ninguém vai, ou poucos vão. Uns porque não têm dinheiro, outros porque, compreensivelmente, têm medo.
Portugal, pior um pouco. Algumas das nossas atividades mais pujantes vão demorar mais tempo a recuperar e o problema que hoje é apenas de liquidez pode vir a ser de solvabilidade. Para serem viáveis, muitas empresas não podem esperar um ano sem faturação e com encargos. E a banca não quer emprestar dinheiro a empresas que estejam nessas condições, o que pode gerar um desequilíbrio em desfavor de setores que têm a variável tempo como fator crítico da retoma. Avista-se muito desemprego. Pior, também, porque o primeiro-ministro deseja uma bazuca, mas reconhece ter na mão uma fisga, declarando a sua impotência face à situação e face a outros países em muito melhores condições que nós.
Se temos menos que os outros, vamos ter de ser melhores que os outros. Nos programas feitos à medida, no escrúpulo na aplicação dos dinheiros públicos, na exigência de escolhas que vamos ter de fazer.
Para isso, temos de ter um quadro de saída previsível: as pessoas têm de conseguir perceber o que as espera. Até onde o Estado pode ir, sem ilusão e expetativas defraudadas, para que seja um esforço comum e transparente, o qual terá sempre maior adesão.
Todos temos de saber o diagnóstico, todos devemos conhecer a terapia. Está na hora de saber qual é.
Deputado do PSD