Países devem reabrir por pequenas zonas geográficas, recomenda ECDC. Escolas? Abaixo dos 10 anos

Países devem reabrir por pequenas zonas geográficas, recomenda ECDC. Escolas? Abaixo dos 10 anos


Centro Europeu de Controlo e Prevenção de Doenças alerta que reabertura demasiado cedo e sem um sistema de monitorização adequado pode levar ao rápido ressugirmento de novos focos de doença. Numa altura em que há vários países a planear o regresso, recomenda critérios e lança uma ideia: microcomunidades. Estar com os mesmos colegas e amigos,…


Como vai ser o regresso à normalidade? O Governo anunciou já a apresentação de um plano na próxima semana e que as medidas serão vigiadas a cada 15 dias. Esta quinta-feira, o Centro Europeu de Controlo e Prevenção de Doenças (ECDC na sigla inglesa) publicou novas recomendações em que torna a alertar para a necessidade de garantir que a situação epidemiológica está suficientemente controlada e de preparar um regresso faseado para diminuir o risco de um rápido aumento de casos de covid-19.

O organismo da UE responsável por orientações de saúde pública recomenda mesmo que as medidas de resposta à covid-19 comecem a ser ajustadas, se possível uma de cada vez, “em áreas geográficas pequenas ou localizadas”, o que parece numa primeira fase desincentivar cenários de reabertura de setores em todo o país ao mesmo tempo, lê-se na nova avaliação de risco, centrada especificamente nos desafios do relaxamento do atual confinamento e encerramento de espaços públicos – que permitiu aos países conter o vírus nas últimas semanas. O ECDC recomenda aos países que deixem passar “tempo suficiente” entre o levantamento ou aliviamento de medidas para avaliar o impacto na circulação do vírus, incidência da doença e mortalidade, alertando que os efeitos podem levar duas a quatro semanas a tornarem-se percetíveis nos sistemas de vigilância epidemiológica.

Quanto à forma de decidir o que deve reabrir primeiro, o ECDC recomenda prioridade a medidas dirigidas a grupos etários onde existe evidência de que a transmissão cause menor impacto em termos de saúde pública. Mas deixam um alerta, que desincentiva a reabertura numa primeira fase de liceu ou universidades, planos que têm estado a ser discutidos em Portugal nas últimas semanas. “Até ao momento, isto poderá só a aplicar-se a crianças com menos de 10 anos (e que não sejam de grupos de alto-risco), apesar de ainda existir evidência limitada sobre o papel das crianças na transmissão da doença”, diz o ECDC.

Já para o distanciamento social, o conselho é para os países recomendarem medidas que possam manter-se por longos períodos – por exemplo, permitir às pessoas que saiam de casa mas mantendo uma distância de dois metros uma das outras, abrir atividades em que a distância física possa ser assegurada, sejam ao ar livre ou interiores, e dar continuidade ao teletrabalho. Para as medidas terem sucesso, devem ser acompanhadas de um sistema robusto de monitorização, adverte o ECDC. O organismo recomenda os indicadores a monitorizar, que vão além dos dados recolhidos pelos serviços de saúde, como casos confirmados, doentes hospitalizados ou a precisar de cuidados intensivos. Empresas, escolas e instituições devem fazer parte do sistema, por exemplo, percebendo se um funcionário ou aluno, que falte num determinado dia, ficou em casa por ter sintomas compatíveis com a infeção pelo novo vírus.

Quando reabrir? Para o ECDC, está em causa permitir a retoma da economia dentro de dois objetivos de saúde pública que poderão ter de manter-se ao longo dos vários anos – até que exista uma vacina ou tratamento eficaz: reduzir morbilidade e mortalidade da população, com especial atenção aos grupos de risco, e limitar a circulação do vírus – o achatar da curva – e nos próximos anos manter os casos de covid-19 dentro de patamares geríveis para os sistemas de saúde, possivelmente permitindo gradualmente adquirir imunidade populacional.

Para decidir quando levantar medidas, traçam recomendações semelhantes às que já tinham sido feitas pela OMS: os países devem ter um robusto sistema de vigilância epidemiológica, capacidade de testagem, uma moldura para o rastreio de contactos com casos suspeitos (e aqui voltam as ferramentas tradicionais mas não descartam o uso de meios digitais e apps, em particular em doentes que possam ter estado noutros países).

Monitorizar a capacidade de resposta dos sistemas de saúde também é um dos aspetos centrais, com o ECDC a defender que para relaxar medidas, a ocupação das camas de cuidados intensivos é um indicador importante mas também os serviços de saúde já terem recuperado a sua capacidade para atenderem outros doentes além de covid-19. E é preciso continuar a estimar os recursos que serão necessários.

O ECDC recomenda também o reforço da comunicação, apontando duas mensagens essenciais nesta fase. A primeira tem a ver com as expectativas que se cria na população, alerta o organismo, recomendando a ideia de que se está perante uma maratona e não um sprint. “Isto não vai acabar rapidamente e as pessoas têm de estar preparadas mentalmente para isso”.

Outra ideia é transmitir que não se pode baixar a guarda mesmo quando as medidas passarem a ser menos restritivas, para que as pessoas se continuem a proteger a si e aos outros com medidas de higiene e distanciamento. O ECDC alerta que 30% da população europeia está em risco elevado por ter outras doenças crónicas e que, por isso, mesmo medidas estruturadas não deixam de poder ter “custos societais elevados”. Com o relaxamento das medidas, a população deverá ser aconselhada a ter cuidado com as pessoas com quem contacta e a manter grupos sociais relativamente pequenos – incluindo os amigos com quem está presencialmente, considera o ECDC. O pressuposto é que círculos alargados de convívio serão nos próximos tempos um risco acrescido: “encontrar-se de forma consistente com os mesmos colegas e pequenos grupos de amigos vai levar a taxas de transmissão mais baixas do que estar com grupos que variem”, recomendam os peritos, lançando a ideia: “A promoção de microcomunidades vai permitir o trabalho e a interação social para promover o bem-estar, limitando ao mesmo tempo a propagação da infeção”.