Nós ou sós?


Num país tão curto em quilómetros entre o sul do Algarve e o norte do Alto Minho mas tão grande em História, Cultura e alma das suas gentes não há o menor motivo para não nos unirmos todos.


Para ser mais preciso, segundo institutos oficiais, conferem à nossa forma retangular o número de 861 quilómetros de comprimento entre o cabo de Santa Maria no Algarve e Cevide, em Melgaço, no Minho. De “lado a lado”, a distância máxima que separa a ponta mais a este de Portugal da sua extremidade mais a oeste é de 218 quilómetros.

Um país demasiado pequeno de tamanho para tamanha verborreia divisória que somos forçados a ler e dar atenção de vez em quando. Não que tenham essas atitudes conteúdo ou relevância suficiente, mas simplesmente porque têm erros demasiado grandes para podermos aceitar com silêncios ensurdecedores de crítica e repúdio.

Se uma cadeia televisiva – neste caso, a TVI – falhou redondamente ao rotular mal a região norte do país, que felizmente e prontamente já emitiu um pedido de desculpas público pelo erro grosseiro que cometeu, não será igual erro agentes de responsabilidade política e pública virem dividir a opinião pelo bairrismo quando no dia-a-dia apelamos à união de todos para fazer frente à Pandemia provocada pela doença Covid-19? Não há “bons do norte” e “maus do sul”, não pode haver nenhuma “portofobia” nem algum “lisbódio”.

É normal que cada um entenda que a sua região é a mais bonita do país. É bom o bairrismo de defender o meu Algarve porque, para mim, é mesmo a melhor e mais bonita região do país. Mas para defender, elogiar e puxar pela nossa região não devemos partir para a crítica das outras. O erro foi esse. De quem se espera um exemplo, vimos por estes dias um dos “não-exemplos” a seguir.

Infelizmente há bons e menos bons em todos os distritos do nosso país. Não temos os bons concentrados no distrito X e os maus todos a viver no distrito Y.

Temos uma região norte que tem dado uma resposta fortíssima à Pandemia provocada pelo vírus SARS-CoV-2, que fortemente afetou aqueles distritos (em números de casos), com profissionais de saúde exemplares e autoridades de segurança atentas que acompanham a população diariamente. Uma região cheia de boa gente. Gente trabalhadora. Boa gente e de trabalho como são as gentes das margens do Mondego, ou aqueles que são de Lisboa, Évora, Portalegre, Madeira, Açores ou no Algarve onde também há jovens com empresas de prototipagem que se dedicaram à comunidade nesta fase pandémica ao produzirem zaragatoas. Temos excelentes exemplos de boa gente na extensão total do país.

Portugal é Portugal. Não é Sul e Norte, é de Sul ao Norte.

Mas há mais exemplos, menos bons, de divisão.

Não é uma altura de certezas. Ainda não temos perceção do impacto social que ficará no Pós-Pandemia mas, infelizmente, sabemos que serão profundos os ferimentos na economia portuguesa em 2020. Basta vermos que o Fundo Monetário Internacional (FMI) prevê um défice de 7,1% com um consequente agravamento da dívida pública para 135% do Produto Interno Bruto (PIB). No sentido de dividir, será esta a altura de ver Partidos políticos com responsabilidade assumirem já que recusam medidas de “Austeridade”? Que não querem nem conversas porque “não”?

Acima de tudo, no momento que vivemos, será esta a hora dos caminhos partidariamente separados quererem vingar por populismo – como os “Anti-Austeridade” – a sós? Será que neste momento não é conveniente unir e ser mais um a contribuir para o esforço conjunto de resolver e mitigar o que aí vem?

Há muito para escrever, pensar e construir em consequência à crise que a pandemia do vírus SARS-CoV-2 e da doença COVID-19.

Mas foquemos na resposta.

A História ensinou-nos que, nas épocas outrora vividas das chamadas “grandes crises”, foram as lideranças unificadoras e não segregadoras que ficaram com a página marcada pelo lado bom na memória da humanidade.

Naturalmente, fica sempre evidente o nome de quem liderou. Nesse sentido, há vários exemplos de grandes líderes, felizmente.

Temos de começar por Abraham Lincoln que há 159 anos (assinalou-se essa data a 12 de abril) iniciou o processo de união do seu país após a célebre Guerra entre o Norte (pró-união) e o Sul (pró-confederados). Foi com o pós-guerra civil americana que Lincoln terminou com a escravidão e abriu um processo de igualdade racial que permitiu, inclusive, 150 anos depois, eleger um presidente negro, Barack Obama. Lincoln é recordado pelo exemplo de união.

Depois, mais tarde, há exemplos como o de Franklin Roosevelt que ficou na história enquanto líder de maior longevidade na Presidência Americana mas, sobretudo, porque liderou o seu país unindo vários setores naquela que foi a maior depressão económica dos Estados Unidos da América.

No mesmo período da história, mas na Europa, havia Winston Churchill que hoje é recordado por ter liderado e levado o seu país à vitória na segunda grande Guerra Mundial (sendo que, posteriormente, até perdeu as eleições de 1945) e ficou eternizado pelos discursos históricos, motivadores e agregadores da sociedade britânica. Ficará sempre o exemplo que deixou em meados dos anos 30, quando se insurgiu (foi dos primeiros) contra a liderança política alemã de Hitler até declarar-lhe mesmo Guerra após a invasão germânica à Polónia já em 1939. A história recorda-o pela união e pelo exemplo agregador de vontades durante um período civil muito turbulento. A sua marca e liderança valeram-lhe, seguramente, um regresso ao cargo de Primeiro-Ministro, anos mais tarde, em 1951.

No continente africano é a história do líder Nelson Mandela que mais marcou o mundo. E, novamente, porquê? Porque foi um líder que conseguiu unir um povo profundamente dividido. Neste caso, até por lei – o Apartheid -, a divisão era mais vincada por ser racial. Presidiu a África do Sul entre 1994 e 1999 e seguramente foi o mais conhecido presidiário do mundo por ter passado 27 anos na prisão da ilha de Robben. O prémio nobel da Paz que ganhou em 1993 é resposta a como foi um acérrimo defensor da liberdade e dos direitos dos desfavorecidos, um autêntico mosqueteiro da igualdade de oportunidades e do fim de todas as formas de opressão. Ficou eterno na história como bom exemplo de líder mundial por ter unido um país dividido pela cor de pele. Venceu o Apartheid que durava desde 1948. Uniu, agregou e a história o recorda.

Há vários casos de quem pensou no “nós” em vez de seguirem “sós” no seu caminho da espuma dos dias. Basta pensar em Líderes mundiais como Gandhi (liderou movimentos de resistência) ou Martin Luther King (deu voz a oprimidos).

O que fica deste rápido exame de memória? É que ficou na história quem ousou pensar em todos e não só em si. Quem abdicou de exclusões e permitiu uniões. Quem, em tempos difíceis, aceitou ser parte da solução.

E em Portugal nesta “guerra” moderna em que não vemos o inimigo? Falemos de política e dos políticos.

Registo um bom exemplo: Rui Rio. Chegou-se à frente, mesmo quando alguns dos que o acompanham têm uma atitude miserável de descrédito às instituições de saúde, e meteu Portugal à frente do PSD. E bem. Não sei se será mais ou menos patriótico, mas sei que é evidentemente positivo o maior partido da oposição em Portugal estar disposto a fazer parte da solução.

Em sentido oposto, o PCP e o Bloco de Esquerda já traçaram as linhas vermelhas para o combate à crise pós-Covid-19. Assumem já que “não querem austeridade”. Mas sabem ao certo em que ponto ficaremos no amanhã que não sabemos? Fazem futurologia? Não sei se adivinham o futuro mas acredito que esta atitude irrevogável é pouco para o muito que os portugueses necessitam.

Será que, nesta ala mais à esquerda do hemiciclo português, se quiserem ser honestos intelectualmente, não sabem que a crise que virá necessitará de medidas ditas “menos populares” mas que serão vitais para servir de ventilador à economia nacional de todos?

Na política devia poder dizer-se as verdades. Ser populista vale meia dúzia de likes nas redes sociais e uns chavões bonitos para cativar os imediatistas, serve para abanar umas bandeiras mas não resolve qualquer problema deste País.

É altura de pensar e moldar o que queremos nesta fase pós-pandémica ao nível da Saúde, da Economia mas também da Política e da própria Cultura.

É altura de unir. É altura de ver de que fibra são feitos aqueles que se apregoam de líderes. É o momento certo de colocar primeiro o país e só depois os partidos. É a hora de juntar os esforços e não de separar todas as ideias.

É altura de se escrever uma página de história com quem for capaz de ser parte de “nós” e ajudar aqueles que hoje e de futuro se sentirão tão “sós”.

 


Nós ou sós?


Num país tão curto em quilómetros entre o sul do Algarve e o norte do Alto Minho mas tão grande em História, Cultura e alma das suas gentes não há o menor motivo para não nos unirmos todos.


Para ser mais preciso, segundo institutos oficiais, conferem à nossa forma retangular o número de 861 quilómetros de comprimento entre o cabo de Santa Maria no Algarve e Cevide, em Melgaço, no Minho. De “lado a lado”, a distância máxima que separa a ponta mais a este de Portugal da sua extremidade mais a oeste é de 218 quilómetros.

Um país demasiado pequeno de tamanho para tamanha verborreia divisória que somos forçados a ler e dar atenção de vez em quando. Não que tenham essas atitudes conteúdo ou relevância suficiente, mas simplesmente porque têm erros demasiado grandes para podermos aceitar com silêncios ensurdecedores de crítica e repúdio.

Se uma cadeia televisiva – neste caso, a TVI – falhou redondamente ao rotular mal a região norte do país, que felizmente e prontamente já emitiu um pedido de desculpas público pelo erro grosseiro que cometeu, não será igual erro agentes de responsabilidade política e pública virem dividir a opinião pelo bairrismo quando no dia-a-dia apelamos à união de todos para fazer frente à Pandemia provocada pela doença Covid-19? Não há “bons do norte” e “maus do sul”, não pode haver nenhuma “portofobia” nem algum “lisbódio”.

É normal que cada um entenda que a sua região é a mais bonita do país. É bom o bairrismo de defender o meu Algarve porque, para mim, é mesmo a melhor e mais bonita região do país. Mas para defender, elogiar e puxar pela nossa região não devemos partir para a crítica das outras. O erro foi esse. De quem se espera um exemplo, vimos por estes dias um dos “não-exemplos” a seguir.

Infelizmente há bons e menos bons em todos os distritos do nosso país. Não temos os bons concentrados no distrito X e os maus todos a viver no distrito Y.

Temos uma região norte que tem dado uma resposta fortíssima à Pandemia provocada pelo vírus SARS-CoV-2, que fortemente afetou aqueles distritos (em números de casos), com profissionais de saúde exemplares e autoridades de segurança atentas que acompanham a população diariamente. Uma região cheia de boa gente. Gente trabalhadora. Boa gente e de trabalho como são as gentes das margens do Mondego, ou aqueles que são de Lisboa, Évora, Portalegre, Madeira, Açores ou no Algarve onde também há jovens com empresas de prototipagem que se dedicaram à comunidade nesta fase pandémica ao produzirem zaragatoas. Temos excelentes exemplos de boa gente na extensão total do país.

Portugal é Portugal. Não é Sul e Norte, é de Sul ao Norte.

Mas há mais exemplos, menos bons, de divisão.

Não é uma altura de certezas. Ainda não temos perceção do impacto social que ficará no Pós-Pandemia mas, infelizmente, sabemos que serão profundos os ferimentos na economia portuguesa em 2020. Basta vermos que o Fundo Monetário Internacional (FMI) prevê um défice de 7,1% com um consequente agravamento da dívida pública para 135% do Produto Interno Bruto (PIB). No sentido de dividir, será esta a altura de ver Partidos políticos com responsabilidade assumirem já que recusam medidas de “Austeridade”? Que não querem nem conversas porque “não”?

Acima de tudo, no momento que vivemos, será esta a hora dos caminhos partidariamente separados quererem vingar por populismo – como os “Anti-Austeridade” – a sós? Será que neste momento não é conveniente unir e ser mais um a contribuir para o esforço conjunto de resolver e mitigar o que aí vem?

Há muito para escrever, pensar e construir em consequência à crise que a pandemia do vírus SARS-CoV-2 e da doença COVID-19.

Mas foquemos na resposta.

A História ensinou-nos que, nas épocas outrora vividas das chamadas “grandes crises”, foram as lideranças unificadoras e não segregadoras que ficaram com a página marcada pelo lado bom na memória da humanidade.

Naturalmente, fica sempre evidente o nome de quem liderou. Nesse sentido, há vários exemplos de grandes líderes, felizmente.

Temos de começar por Abraham Lincoln que há 159 anos (assinalou-se essa data a 12 de abril) iniciou o processo de união do seu país após a célebre Guerra entre o Norte (pró-união) e o Sul (pró-confederados). Foi com o pós-guerra civil americana que Lincoln terminou com a escravidão e abriu um processo de igualdade racial que permitiu, inclusive, 150 anos depois, eleger um presidente negro, Barack Obama. Lincoln é recordado pelo exemplo de união.

Depois, mais tarde, há exemplos como o de Franklin Roosevelt que ficou na história enquanto líder de maior longevidade na Presidência Americana mas, sobretudo, porque liderou o seu país unindo vários setores naquela que foi a maior depressão económica dos Estados Unidos da América.

No mesmo período da história, mas na Europa, havia Winston Churchill que hoje é recordado por ter liderado e levado o seu país à vitória na segunda grande Guerra Mundial (sendo que, posteriormente, até perdeu as eleições de 1945) e ficou eternizado pelos discursos históricos, motivadores e agregadores da sociedade britânica. Ficará sempre o exemplo que deixou em meados dos anos 30, quando se insurgiu (foi dos primeiros) contra a liderança política alemã de Hitler até declarar-lhe mesmo Guerra após a invasão germânica à Polónia já em 1939. A história recorda-o pela união e pelo exemplo agregador de vontades durante um período civil muito turbulento. A sua marca e liderança valeram-lhe, seguramente, um regresso ao cargo de Primeiro-Ministro, anos mais tarde, em 1951.

No continente africano é a história do líder Nelson Mandela que mais marcou o mundo. E, novamente, porquê? Porque foi um líder que conseguiu unir um povo profundamente dividido. Neste caso, até por lei – o Apartheid -, a divisão era mais vincada por ser racial. Presidiu a África do Sul entre 1994 e 1999 e seguramente foi o mais conhecido presidiário do mundo por ter passado 27 anos na prisão da ilha de Robben. O prémio nobel da Paz que ganhou em 1993 é resposta a como foi um acérrimo defensor da liberdade e dos direitos dos desfavorecidos, um autêntico mosqueteiro da igualdade de oportunidades e do fim de todas as formas de opressão. Ficou eterno na história como bom exemplo de líder mundial por ter unido um país dividido pela cor de pele. Venceu o Apartheid que durava desde 1948. Uniu, agregou e a história o recorda.

Há vários casos de quem pensou no “nós” em vez de seguirem “sós” no seu caminho da espuma dos dias. Basta pensar em Líderes mundiais como Gandhi (liderou movimentos de resistência) ou Martin Luther King (deu voz a oprimidos).

O que fica deste rápido exame de memória? É que ficou na história quem ousou pensar em todos e não só em si. Quem abdicou de exclusões e permitiu uniões. Quem, em tempos difíceis, aceitou ser parte da solução.

E em Portugal nesta “guerra” moderna em que não vemos o inimigo? Falemos de política e dos políticos.

Registo um bom exemplo: Rui Rio. Chegou-se à frente, mesmo quando alguns dos que o acompanham têm uma atitude miserável de descrédito às instituições de saúde, e meteu Portugal à frente do PSD. E bem. Não sei se será mais ou menos patriótico, mas sei que é evidentemente positivo o maior partido da oposição em Portugal estar disposto a fazer parte da solução.

Em sentido oposto, o PCP e o Bloco de Esquerda já traçaram as linhas vermelhas para o combate à crise pós-Covid-19. Assumem já que “não querem austeridade”. Mas sabem ao certo em que ponto ficaremos no amanhã que não sabemos? Fazem futurologia? Não sei se adivinham o futuro mas acredito que esta atitude irrevogável é pouco para o muito que os portugueses necessitam.

Será que, nesta ala mais à esquerda do hemiciclo português, se quiserem ser honestos intelectualmente, não sabem que a crise que virá necessitará de medidas ditas “menos populares” mas que serão vitais para servir de ventilador à economia nacional de todos?

Na política devia poder dizer-se as verdades. Ser populista vale meia dúzia de likes nas redes sociais e uns chavões bonitos para cativar os imediatistas, serve para abanar umas bandeiras mas não resolve qualquer problema deste País.

É altura de pensar e moldar o que queremos nesta fase pós-pandémica ao nível da Saúde, da Economia mas também da Política e da própria Cultura.

É altura de unir. É altura de ver de que fibra são feitos aqueles que se apregoam de líderes. É o momento certo de colocar primeiro o país e só depois os partidos. É a hora de juntar os esforços e não de separar todas as ideias.

É altura de se escrever uma página de história com quem for capaz de ser parte de “nós” e ajudar aqueles que hoje e de futuro se sentirão tão “sós”.