Com a Europa a aproximar-se a passos rápidos do milhão de casos registados de covid-19, quase o dobro de há 10 dias atrás, as próximas semanas serão “criticas”, avisou ontem a Organização Mundial de Saúde (OMS). Apesar de vários países europeus estarem, pouco a pouco, a diminuir as medidas de isolamento social, “não há nenhum atalho para voltar ao normal”, assegurou Hans Kluge, diretor da OMS na Europa. Entretanto, a presidente da Comissão Europeia, Ursúla Von der Leyen, já pediu umas “sentidas desculpas” a Itália pela inação europeia face à catástrofe no país.
“Muitos não estiveram lá quando a Itália precisou”, admitiu Von der Leyen. No início, quando o alastrar da covid-19 se fazia sentir sobretudo no norte de Itália, os seus pedidos de ajuda material de proteção, ventiladores e kits de testes foram ignorados durante dias – alguns países europeus, como a Alemanha, França e República Checa chegaram a proíbir a exportação destes materiais.
“Perante a necessidade de uma resposta europeia comum, muitos pensaram apenas nos seus próprios problemas domésticos“, reconheceu a presidente da Comissão Europeia, numa carta publicada no La Reppublica, acrescentando que as desculpas “só contam se algo mudar no comportamento”. Por agora, a União Europeia conseguiu pôr de parte as exigências dos países do sul, de apoio financeiro através dos “coronabonds”, a troco de um pacote de resgate de 500 mil milhões de euros. Só o tempo dirá se a sua posição mudará quanto ao assunto.
Vidas colocadas em risco Em França, a escala da ameaça ficou bem patente para os quase 1800 tripulantes a bordo do porta-aviões Charles de Gaulle, 668 dos quais estão infetados.
Mesmo tendo em conta a inevitável proximidade em alto mar, com milhares de pessoas confinadas a pequenas cabines – vimos algo semelhantes em cruzeiros e no porta-aviões USS Theodore Roosevelt – o número de casos registados no Charles Gaulle é particulamente elevado. E deverá aumentar nos próximos dias: ainda não se sabe o resultado dos testes de 30% da tripulação.
“As forças armadas brincaram com a nossa saúde, a nossa vida”, queixou-se um tripulante infetado, que preferiu manter-se anónimo, em declarações à France Bleu. O Charles de Gaulle, o único porta-aviões francês, movido a energia nuclear, partiu de Toulose a 21 de janeiro, passou várias semanas no Mediterrâneo e seguiu para o Atlântico. Vários tripulantes contaram que quando o navio saiu de Brest, a 15 de março, já havia tripulantes com sintomas, ignorados pelas lideranças: pensavam tratar-se se constipações, apanhadas no gelado mar do Norte.
Entretanto, começou a desinfeção ao navio e os tripulantes foram postos de quarentena. 31 estão hospitalizados em Toulose, um deles nos cuidados intensivos, declarou ontem a ministra da Defesa francesa, Florence Parly, que também anunciou um inquérito ao que se passou no Charles de Gaulle.
No resto do país, o número de casos de covid-19 registados já vai nos …, com … mortes. Ainda na quarta-feira o número de mortes: foram registadasmais 1438 mortos. O aumento está relacionado com o acréscimo das mortes em lares de idosos, que ficaram por registar desde o domingo de Páscoa.
Receios e esperança O cenário foi semelhante na Catalunha, cujo número de mortes quase duplicou ontem, com mais 3,242 mortes, num total de 7,097. É que foram adiçionados os dados de lares e funerárias, quando até então eram contadas apenas as mortes em hospitais. Se Espanha já tem … casos e … mortes, o temor é que os números reais sejam muito superiores por todo o país.
Nem tudo são más notícias. As autoridades de Madrid anunciaram que, esta quinta-feira, pela primeira vez em semanas, o número de pacientes hospitalizados desceu abaixo dos 10 mil – um alívio para os sobrecarregados serviços de saúde.
Nesse mesmo dia, em Sevilha, às 7h da manhã, voltou ao trabalho o primeiro turno da fábrica da Renault, um grande empregador na região. As filas foram enormes, enquanto era medida a temperatura aos funcionários, que usavam máscaras, avançou a EFE. O receio é que com o regresso à atividade emsetores não-essenciais venha um novo pico de infeções.
Sonhar com a praia Até Itália, um dos países mais afetados pela covid-19, com mais … caso registados e … mortes, já sonha com o retorno à normalidade.
“Estamos a trabalhar para que seja possível ir à praia este verão”, prometeu Lorenza Bonaccorsi, secretária de Estado do ministério da Cultura, esta semana, sugerindo que sejam impostas regras de isolamento próprias. Num país muito dependente do turismo, cuja economia foi posta de rastos pelo novo coronavírus, não faltarão apoios à ideia.
Dê por onde der, não parece que a época balnear em tempos de pandemia seja semelhante à de 2019. Aliás, uma empresa italiana, a Nuova Neon Group 2, já se prepara para produzir cubículos de alumínio e plástico, com espaço para dois chapéus de sol, para manter a distância de segurança entre veraneantes.