O braço de ferro entre o Presidente brasileiro, Jair Bolsonaro e o seu próprio ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, agravou-se, com mais de 1300 morte e 23 mil casos registados de covid-19 como pano de fundo – estima-se que o número real de infeções possa ser até 12 vezes superior. Após Mandetta perder muito do seu apoio entre a cúpula militar, que a semana passada impediu que o Presidente demitisse, Bolsonaro prepara-se para voltar à carga, avançou a Folha de S.Paulo.
Os militares não ficaram nada satisfeitos com uma recente entrevista do ministro da Saúde à Globo, em que este “cruzou a linha da bola”, nas palavras do vice-Presidente, Hamilton Mourão. O general declarou que Mandetta “merece um cartão” por voltar a afrontar o chefe de Estado, ao avisar que os meses de maio e junho serão duros, devido à pandemia de covid-19, que Bolsonaro continua a desvalorizar. O ministro também se queixou que o povo brasileiro “não sabe se escuta o Presidente ou o ministro”.
É que Bolsonaro tem desrespeitado sucessivamente as orientações das autoridades de saúde, tanto a nível pessoal – abraçando apoiantes, por exemplo – como a nível de políticas públicas. Não que a rutura seja só com Mandetta, atenção: o Presidente continua apostado em torpedear as medidas de isolamento social impostas por governadores brasileiros.
A situação chegou a tal ponto que um juiz Supremo Tribunal foi obrigado a emitir um parecer, esta segunda-feira, em que salienta que o governo federal não pode “afastar unilateralmente” medidas impostas por estados e municípios. Entretanto, a justiça já tinha proibido uma campanha publicitária do Governo, chamada “o Brasil não pode parar”, incentivando os brasileiros a não se isolarem.
Entre os principais alvos de Bolsonaro está um dos seus antigos aliados, João Dória, governador de São Paulo, o estado mais afetado pela pandemia no Brasil. Aliás, Dória já declarou, publicamente, que a reação do Presidente à crise revela que não está na plena posse das suas faculdades mentais.