O país continua em estado de emergência e não há previsões sobre quando a vida voltará à normalidade. Mais pessoas em casa, mais empresas a aderir ao teletrabalho ou até ao layoff e, por outro lado, pessoas que todos os dias têm de sair de casa para trabalhar em setores fundamentais. Serviços que, inevitavelmente, têm e terão de continuar a contratar pessoas.
Um dos grandes exemplos são as pastelarias e os restaurantes que aderiram ou reforçaram os seus serviços de entrega, contratando assim várias pessoas para que possam levar os seus produtos a casa dos clientes.
E com a crise veio também a mudança. A Uber, por exemplo, com a pandemia decidiu fazer pequenas alterações ao seu serviço: os motoristas TVDE passam a poder fazer entregas de compras ao domicílio e a UberEats vai poder entregar produtos de conveniência, que não passem apenas pelas refeições.
No entanto, no caso da UberEats, o aumento de entregas não tem sido muito sentido. “Na verdade o movimento não é igual para todos os estafetas. Tenho alguns a trabalhar comigo e nem todos aumentam a faturação”, diz ao i um funcionário da UberEats que prefere o anonimato. E explica as mudanças: “O que se está a passar é que as distâncias passaram a ser maiores e, como se ganha ao quilómetro, o rendimento é maior mesmo com menos entregas”, explica. “São maiores [as distâncias], porque a maioria dos restaurantes fechou e a Uber aumentou o raio para se conseguir fazer um pedido”, acrescenta.
Questionado sobre o aumento de estafetas, este funcionário não tem dúvidas: “A Uber não contrata ninguém. E, neste momento, tem as ativações da conta suspensas.”
Também Hugo Santos, motorista da UberEats e da ChefPanda refere que neste momento a empresa [UberEats] não tem estado a contratar, uma vez que já tinha vários trabalhadores. “Penso que durante muito tempo a Uber meteu muitas pessoas, mas a certa altura pararam porque já há muitas pessoas a trabalhar”, diz ao i. Mas considera que o aumento de entregas “foi muito grande”. “Temos tido muito mais entregas, especialmente no ChefPanda”, explica. Esta última empresa não é uma aplicação como a UberEats ou a Glovo, mas também faz entregas. Neste caso, entregas de padaria e pastelaria. Comparativamente o número de funcionários é muito menor, no entanto as entregas “cresceram muito” e já foi necessário contratar mais uma pessoa.
No lado da Glovo, a história repete-se: o número de encomendas registou um forte aumento. A garantia é dada ao i por Eliel Almeida, motorista da empresa. “Com a restauração praticamente fechada e a operar em take away há um grande aumento nos pedidos. Principalmente na restauração, mas também nos pedidos de mercado, naquela opção que a Glovo tem que é ‘Qualquer coisa’”, garante o funcionário, que explica que o facto de as pessoas estarem em casa também faz com que os pedidos aumentem. “Há um aumento de pedidos para ir buscar vários tipos de coisas, porque as pessoas têm mais necessidade e não podem sair para comprar – ou porque estão com medo ou porque são grupos de risco e convém que fiquem em casa”.
Mas também nesta empresa, o aumento de pedidos e entregas não significa um aumento de estafetas: “A Glovo interrompeu a aceitação de novos estafetas. Está suspensa. Não sei se é por uma questão financeira ou por uma questão de pagamento aos estafetas”, diz Aliel.
Já a Glovo garante que, em termos de entregas, observou um aumento de 112% na categoria de parafarmácia em comparação com o número médio semanal de pedidos feitos entre janeiro e a primeira semana de março. “Também sinalizamos um aumento de 92% nos pedidos para a categoria ‘Qualquer coisa’. Nas duas categorias, os principais produtos encomendados foram termómetros, testes de gravidez, soluções para dores no pescoço e álcool anti-séptico”, explica a empresa.
Neste momento, no topo de pedidos mais feitos na Glovo estão compressas, testes de gravidez, soro fisiológico, resguardos de bebé descartáveis, emplastros para alívio de dores, creme de rosto, vitamina C e luvas de látex.
Nem a Glovo nem a Uber falam em números de trabalhadores ou entregas. No entanto, a Uber a refere um aumento de restaurantes na lista da App, que soma agora mais de três mil restaurantes.
Outros casos Quem também não pára nem pode fechar portas são os supermercados, que já começaram a contratar mais pessoas para fazer face ao aumento de procura. Lidl, Pingo Doce, Continente ou El Corte Inglés já anunciaram o reforço das suas equipas e a contratação de mais funcionários.
Além do setor da distribuição alimentar, também o setor da comunicação social está a apostar na entrega de jornais porta a porta. E, mais uma vez, é necessário recorrer a empresas de distribuição.