João Quintal vivia com a família – a mulher e o filho autista de 15 anos – em Genebra, na Suíça, até há um ano, altura em que decidiu voltar às origens para preparar o regresso da família – especializado em medicinas alternativas, João decidiu vir para Portugal por não se rever na forma de estar daquele país. Até aqui via a mulher e o filho “regularmente”, mas agora estão forçosamente afastados devido às medidas de contenção. E, apesar do desejo de estarem juntos ser “incalculável”, não é possível sair da Suíça e “atravessar França” para chegar a São Pedro do Sul, em Viseu, onde reside atualmente. “Não conseguem, por via aérea há voos limitados e por via terrestre é impossível. Até entre bairros suíços estão a fazer controlos. E em Paris, tenho uma amiga que não sai de casa sem imprimir um documento que diga para onde é que ela vai. Estão mesmo a controlar tudo”, contou ao i, dando até o exemplo de alguém que tentou sair de Genebra quatro vezes sem sucesso.
No que toca à educação, pensando também no futuro do filho, João Quintal defende que o sistema helvético deixa muito a desejar, ainda mais quando se tem um filho com necessidades especiais. “Parece tudo perfeito, mas esconde-se muita coisa na Suíça”, sublinhou. “Vim com algum tempo para preparar as necessidades dele. As escolas lá conduzem mal os alunos. Ele não é acompanhado como deve ser. O meu filho está numa escola especial, mas levam-no sempre para os parâmetros deles, da própria escola. A informação que nos chega aqui está muitas vezes filtrada. A Suíça é um dos países que estão com graves problemas, em vários sentidos”, atirou o português, que agora vive o seu tempo numa quinta abandonada de um amigo, longe da televisão e dedicado ao agroturismo. “Tenho um projeto em marcha, numa quinta, e decidi vir para aqui porque estou mais seguro. A minha família não está segura. A minha mulher trabalha numa clínica de psiquiatria em Genebra, agora está em teletrabalho, mas não sei até que ponto podem ficar contaminados com o novo coronavírus”, reforçou.
Mas este é apenas um exemplo de milhares. Apesar de existirem muitos casos de famílias que estão longe, separadas por fronteiras, o embaixador de Portugal em Paris, Jorge Torres Pereira, considera que está a diminuir o número de emigrantes em França que querem regressar a Portugal numa tentativa de se protegerem do surto. “A situação acalmou um bocado. Apercebi-me de que havia pessoas que estavam a ver a coisa de uma forma mais frívola e menos adequada à gravidade da situação e por isso quis chamar a atenção. Mas, entretanto, as pessoas têm consciência que ficar em casa é fundamental”, disse à Lusa, depois de há uns dias apelar aos emigrantes para que não viajassem para Portugal.
Jorge Torres Pereira disse ainda não conhecer casos positivos de covid-19 na comunidade portuguesa em França e que, de uma forma geral, os consulados e a embaixada estão a funcionar sem problemas, apesar de se encontrarem encerrados.“Os consulados continuam a receber questões por telefone às quais vão dando resposta. De uma forma geral, os consulados têm noção de situações que podem ser problemáticas de trabalhadores de empresas que vão deixar de ter trabalho e dão resposta a esses pedidos”, esclareceu, pedindo calma para as próximas semanas.
“Não vamos exagerar o que não precisa de ser exagerado”, rematou, dizendo estar em contacto permanente com a ministra francesa dos Assuntos Europeus e os restantes embaixadores da União Europeia em França.