Pulverização em massa com desinfetante é “ridícula”

Pulverização em massa com desinfetante é “ridícula”


Alguns países, como a Indonésia ou os Emirados Árabes, começam a usar drones para pulverizar as ruas com desinfetante, algo nada recomendado pela OMS.


Face à ameaça da pandemia de covid-19, a Indonésia colocou drones nos céus da sua segunda cidade, Surabaya, pulverizando desinfetante – cenas semelhantes foram vista em países como os Emirados Árabes Unidos ou no Irão. O que é que poderia correr mal? Muita coisa, segundo a Organização Mundial de Saúde. "Não creio que adicione nada à resposta e pode ser tóxico para pessoas", explicou o responsável da organização para a pandemia, Dale Fisher, lembrando que "as pessoas geralmente não tocam no chão". "É uma imagem ridícula o que se vê em muitos países", considerou Fisher. A explicação dada pela câmara de Surabaya à Reuters parece ter pouco de científico: o desinfetante, feito com cloreto de benzalcônio, que tem propriedades irritantes na pele humana, "ajuda a enfraquecer o vírus para que não entre no corpo", explicou um porta-voz de Surabaya.

Desinfetar espaços públicos através de pulverização é "uma maneira barata e visível de o fazer, mas atenção cuidadosa à higiene pessoal e do ambiente é provavelmente mais eficiente", explicou à agência noticiosa Paul Tambyah, da Sociedade de Microbiologia Clínica da Ásia Pacífico. O especialista, à semelhança da OMS, sugere o incentivo a lavar as mãos e limpar superfícies muito tocadas, como butões de elevador ou de máquinas de venda.

Apesar das contraindicações, não são só drones que têm pulverizado desinfetante. Recentemente, na Índia, trabalhadores migrantes regressaram ao estado de Uttar Pradesh e foram recebidos com um banho de uma "solução química" pelas autoridades. As imagens, divulgadas por jornalistas do Times of India, mostram centenas de homens, mulheres e crianças agachados, a levarem com mangueiras do químico – alguns ficaram com os olhos inflamados e irritações na pele, segundo o Indian Express.

Imediatamente, houve ferozes críticas nas redes sociais. "O que é que estão a tentar matar, coronavírus ou humanos?", questionou um utilizador do Twitter. Outro lembrou que seria impensável tratar assim pessoas ricas ou visitantes doutros países, na chegada ao aeroporto, algo que "mostra bem a mentalidade das autoridades quando é para lidar com os pobres". Os trabalhadores migrantes que sofreram do banho de desinfetante tiveram de regressar a casa depois do Governo proibir que os cerca de 1,3 milhões de indianos ficassem em casa, com menos de quatro horas de antecedência. Neste caso, regressavam de autocarro – muitos tiveram de fazer centenas de quilómetros a pé, após fecho das carreiras.