Médica chinesa que alertou para o novo coronavírus está desaparecida

Médica chinesa que alertou para o novo coronavírus está desaparecida


Hospitais estavam a alterar os diagnósticos da agora conhecida como covid-19 para “pneumonia viral” ou “infeção genérica” nos relatórios médicos.


Ai Fen, médica e diretora do Departamento de Emergência do Hospital Central de Wuhan, na China, foi uma das primeiras pessoas no país a saber que o novo coronavírus tinha tudo para se tornar numa pandemia. Depois de publicar o que sabia nas redes sociais, foi obrigada a ficar em silêncio. Agora, Ai Fen está desaparecida.

A denúncia é feita pelo programa ’60 minutes’, da CBS. Ai Fen utilizou a rede social WeChat, depois de analisar várias radiografias, para publicar a imagem de um relatório médico de um doente infetado com o novo coronavírus. A publicação foi feita em dezembro e Ai Fen alertava para o facto de os sintomas do doente serem semelhantes à conhecida gripe SARS. A médica quis também alertar os colegas e acabou por comunicar aos seus superiores que a China podia estar prestes a enfrentar uma nova pandemia. Contudo, Ai Fen foi obrigada a ficar calada.

Em dezembro, os hospitais estavam a alterar os diagnósticos da agora conhecida como covid-19 para “pneumonia viral” ou “infeção genérica”.

Inconformada, Ai Fen criticou as autoridades chinesas por suprimir alertas precoces do surto numa entrevista à revista chinesa Renwu, que foi publicada no passado dia 10 de março.

“Se eu tivesse tido a noção do que ainda aí vinha não tinha ligado nenhuma à reprimenda e tinha falado com ainda mais gente, com qualquer pessoa, em qualquer lado”, disse a responsável de saúde.

Segundo a investigação da CBS, o próprio Presidente da China, Xi Jinping, ordenou que a entrevista fosse removida da Internet, mas era tarde demais.

Recorde-se que esta não é a primeira história semelhante sobre a pandemia na China, tal como Ai Fen, também o seu colega Li Wenling alertou para a perigosidade do vírus. Além de denunciar que tinha sido silenciado, o médico acabou mesmo por morrer com a doença.

Just two weeks ago the head of Emergency at Wuhan Central hospital went public, saying authorities had stopped her and her colleagues from warning the world. She has now disappeared, her whereabouts unknown. #60Mins pic.twitter.com/3Jt2qbLKUb

— 60 Minutes Australia (@60Mins) March 29, 2020