Ontem, num repente, muitos tomaram de assalto os acessos à Ponte 25 de Abril, rumo a sul. Alguns seguramente com justificação, outros, ansiosos por beneficiar de uma janela de liberdade, cuja reclusão suscita ímpetos quase irreprimíveis. Prontamente repelidos, e bem, pelas forças de autoridade, cuja presença, por ora pedagógica e dissuasora, é da maior importância. Alguns deles repetiram a investida. Há pessoas que mentem porque acham que não faz mal, é apenas uma escapadinha inconsequente. Mentem porque o inimigo é invisível e insidioso. Mentem porque sabem que não morrem. Mentem mesmo que morram. Como pedir solidariedade a outros – à União Europeia – quando entre nós há quem falhe clamorosamente nesse dever de preservação da nossa comunidade, de respeito pelos mais velhos e vulneráveis? Não estão apenas a violar a lei, o estado de emergência e os deveres que lhes são impostos, estão a falhar tragicamente do ponto de vista ético-moral, num egoísmo intolerável que não pode recrudescer com o passar do tempo.
Marcados pela fadiga da quarentena – sentimento precoce –, adivinha-se que este movimento tenda a reproduzir-se, com voragem implacável, no período de Páscoa. No imaginário de muitos está a tradição de que não desejam abdicar, um resquício fugaz da normalidade das suas vidas, por estes dias tão atormentadas por angústias e preocupações. O Algarve tem 200 mil segundas habitações! Qualquer movimento dessa natureza, qualquer ponto de encontro de pessoas oriundas de todo o país – fosse no Algarve ou noutro lugar qualquer – seria um caldeirão de risco em tamanho gigante, um foco imparável de propagação, projetando o vírus a longas distâncias e tornando mais difícil o controlo que temos de exercer de modo férreo. Itália foi um mau exemplo de deslocação massiva de pessoas e dos seus efeitos, fosse por ignorância ou por refúgio. Está certo o ministro da Administração Interna quando impõe, e assume que vai reforçar, operações de controlo e fiscalização nas vias de comunicação, zelando pelo cumprimento da lei.
Somos deputados eleitos pelo Algarve: com o bem de Portugal, uno e indivisível, só se compara o bem da nossa região. Nada nos compraz mais, como algarvios, que receber bem, termos orgulho na nossa cultura, praias e gastronomia. Nada nos honra mais do que a romaria ao Algarve e o “apetite” que todos têm por estar na nossa terra. O Algarve sem vós não é a mesma coisa para nós. Ninguém depende tanto do turismo como o Algarve. Por isso, é muito provável que os efeitos na região sejam mais perniciosos do que no resto do país. Custa dizer não, mas é, por agora, necessário.
Este artigo não é sobre o Algarve: é sobre Portugal, sobre o que cada um tem de fazer, sobre o que cada um pode fazer, sobre o que somos e o que temos para dar.
Não vá ao Algarve, mas também não vá visitar a família às Beiras ou ao Minho, abdique do Alentejo e deixe para outra oportunidade a tão ansiada visita a Trás-os-Montes.
Temos tamanha dificuldade pela frente, não lhe acrescentemos mais obstáculos.
Marcamos encontro lá mais para a frente!
Deputados do PSD
Cristóvão Norte
Rui Cristina
Ofélia Ramos