Gordon Ramsay, o afamado chef britânico que nos entrou pela casa aos berros, estabelecendo um paralelo entre a cozinha de um restaurante dos nossos dias e uma frente de batalha, numa absurda guerra de atrito para servir uns filetes de alabote no ponto, está neste momento debaixo de fogo, e, depois de ter andado a cirandar todo impante em frente das suas tropas entrincheiradas entre fornos e fogões, ninguém parece estar muito interessado em lançar-se para cima de uma granada para salvar a reputação deste impiedoso general. Mas o que foi que este terror da alta cozinha fez agora? Dispensou 500 empregados que tinha na sua folha de pagamentos depois de ter sido obrigado a fechar os seus restaurantes por causa do cerco do novo coronavírus.
Este astuto empreendedor de 53 anos, que tem sabido fazer render o seu tenebroso mau feitio, também sabe mostrar-se tremendamente sedutor quando baixa a bola e se desfralda para dar a ver o miúdo vulnerável. Recentemente, convocou uma reunião com os seus funcionários onde os levou às lágrimas depois de lhes ter dito que os seus contratos seriam anulados. Horas depois, os funcionários receberam um email de Ramsay a explicar-lhes que as contas ficariam saldadas e receberiam a remuneração que lhes era devida até o dia 17 de abril, ficando ressalvada a opção de recorrerem da sua decisão, mas tendo enfatizado o dramatismo da crise que está só a dar os primeiros passos.
Com uma fortuna avaliada em mais de 150 milhões de euros, Ramsay não deu qualquer esperança aos seus funcionários de que, assim que esta situação imprevista seja ultrapassada e as medidas de contenção da pandemia sejam levantadas, eles possam reassumir os seus postos de trabalho. Entretanto, a sua decisão gerou não apenas comoção junto dos funcionários, mas houve também quem tenha dado a provar ao general algum do seu veneno. Foi o caso da chef Anca Torpuc, que pôs a boca no trombone e expressou a angústia e irritação de muitos dos funcionários: “Todos nós demos o litro pelo Gordon Ramsay e agora que mais precisávamos do apoio dele, ele livra-se de nós sem mais”, disse ela ao MailOnline. “Muitos dos funcionários ficaram devastados com a forma como ele nos tratou. Não houve qualquer aviso. Fomos convocados para uma reunião ele disse-nos que os nossos contratos iam ser resolvidos. Foi feito de uma forma brutal”, acrescentou Torpuc.
A reunião teve lugar no restaurante em Heddon Street, e boa parte dos empregados ficaram por ali, como se uma bomba de fragmentação tivesse explodido no meio deles, sem saberem para onde se virar. E se nas primeiras horas a incerteza sobre o futuro fez com que os funcionários ficassem a tentar recolher os cacos de si mesmos, depois de Torpuc ter exposto a situação nas redes sociais o caso começou a atrair a atenção dos media como mais um exemplo da forma como tantos patrões lavam as mãos, cerram as portas, e abandonam os funcionários à sua sorte. “É realmente uma pena ver como uma empresa para a qual trabalhavas e deste tudo o que tinhas nos últimos dois anos se livra de ti como se não fosses mais do que uma fralda suja, especialmente numa hora tão dura como esta, e sendo certo que eles não teriam nada a perder em manter-te na sua folha de pagamentos”, escreveu a chef. “Espero que durma bem esta noite sabendo que há mais de 500 pessoas que, além da incerteza de toda esta crise, têm de lidar com o desgosto de terem perdido o emprego por sua causa”, disse Torpuc dirigindo-se a Ramsay.
Até ao momento, o juiz do célebre programa televisivo MasterChef não se pronunciou publicamente sobre os despedimentos, tendo-se limitado a anunciar no Instagram que os seus restaurantes iam fechar: “A toda a família, amigos e colegas de Gordon Ramsay. Neste momento de grande incerteza, esperamos que estejam a tomar conta uns dos outros e a manterem-se tão resguardados quanto possível. Enquanto a situação evolui, a nossa principal preocupação é com a saúde dos nossos funcionários, convidados e comunidade e em fazer a nossa parte para retardar o contágio do vírus, e, assim, a partir de 21 de março, todos os nossos restaurantes irão encerrar temporariamente”, acrescentou. E no característico tom hipócrita assumido na comunicação ao público, o comunicado conclui expressando afecto e amor por todos: “Não sabendo quando estaremos em condições de reabrir, o que sabemos é que se nos apoiarmos uns aos outros iremos ultrapassar este período terrivelmente difícil, e vamos sair disto mais fortes do que nunca! Muito amor e gratidão para a nossa maravilhosa equipa de todos os restaurantes pela sua paixão e apoio.”