Créditos. Consolidar pode ser a melhor resposta em tempos de crise

Créditos. Consolidar pode ser a melhor resposta em tempos de crise


Numa altura em que se estima que os rendimentos vão ser mais curtos, poderá valer a pena juntar empréstimos passados num novo empréstimo, beneficiando de taxas de juro mais reduzidas.


Em alturas de crise, o risco de sobre-endividamento volta a pairar sobre a vida dos portugueses. Nesta fase em que muitos dos trabalhadores estão em casa com menores rendimentos face à pandemia do novo coronavírus, esta questão pode ganhar maiores contornos. E cair nesta situação não é difícil: basta começar com uma pequena dívida no cartão de crédito que acaba por se acumular com outros empréstimos: crédito pessoal, crédito automóvel e/ou crédito à habitação. “Depois, quando menos espera, já não consegue fazer face às prestações no final do mês”, lembra o ComparaJá.pt.

Para esta plataforma, a consolidação de créditos poderá ser vista como uma verdadeira alternativa para não se cair numa situação de asfixia financeira. “Uma solução que começou a popularizar-se para ajudar os consumidores a recuperarem o controlo das suas finanças: a possibilidade de juntarem os vários créditos num só através do crédito consolidado”, garante.

Como funciona? Basta um banco ceder um empréstimo para cobrir todos os créditos já contraídos, alargando o prazo de reembolso, com o objetivo de reduzir as prestações mensais. “Com a consolidação é possível, em alguns casos, diminuir o esforço financeiro mensal das famílias em mais de 60%”, diz o estudo feito para o i pelo ComparaJá.pt, acrescentando que também poderão ser “conseguidas poupanças com a eventual redução da taxa de juro (particularmente se a consolidação abranger dívidas de cartões de crédito, cujas TAEG estavam acima de 25% ainda recentemente) e ainda pela eliminação de múltiplas comissões”.

No entanto, deixa um alerta: para se consolidar créditos é necessário, antes do mais, ter em atenção a ocasião certa. Há sobretudo duas alturas em que se deve considerar pedir um novo empréstimo para pagar empréstimos antigos: num período de queda das taxas de juro ou face à alteração da situação pessoal, nomeadamente pela quebra de rendimentos ou pela acumulação de demasiados empréstimos.

O certo é que a taxa de juro oferecida pelos bancos varia de acordo com a análise feita pela instituição em relação ao risco do cliente. “Neste sentido, um cliente com um melhor perfil de risco pode conseguir taxas mais competitivas, bastando para tal apresentar fatores como, por exemplo, estabilidade profissional, garantias hipotecárias ou até fiadores”, refere o CEO do ComparaJá.pt.

E José Figueiredo lembra que esta altura é vantajosa, já que se pode beneficiar da redução das taxas de juro. Não é só no crédito à habitação que as taxas de juro estão em queda. A TAEG máxima aplicada aos contratos de crédito pessoal e cartões de crédito caiu para metade desde 2012.

O especialista da plataforma de comparação de créditos alerta ainda para o facto de ser “fundamental encarar a consolidação de empréstimos como uma solução para a prevenção do sobre-endividamento, isto é, as famílias devem procurar este produto logo que a sua taxa de esforço comece a ficar demasiado elevada, e não apenas numa situação-limite, quando já acumularam várias prestações em atraso”.

Mas vamos a números. Num casal com rendimentos de 2000 euros mensais que tenha de despender 350 euros para o crédito à habitação, 195 euros para crédito automóvel, 160 euros para crédito pessoal e 150 euros para cartão de crédito, isso significa que as despesas mensais exclusivas para pagamento de créditos são de 835 euros. Ou seja, a taxa de esforço está nos 42%, um valor já bastante elevado face ao limite recomendável, situado entre 30% e 35%.

Neste cenário, se esse casal optar por consolidar o empréstimo automóvel, o crédito pessoal e o cartão de crédito, que representam um encargo mensal de 505 euros, e alargar o prazo de pagamento para 72 meses, é possível reduzir quase para metade o peso conjunto destes empréstimos, passando a prestação a oscilar entre 247 e 290 euros, de acordo com as ofertas das diferentes instituições (ver quadro em baixo).

 

Cuidados a ter

Um dos fatores a ter em conta diz respeito ao indexante no crédito à habitação. A explicação é simples: os créditos mais pequenos têm taxa fixa e a maioria dos empréstimos à habitação estão indexados à taxa Euribor. Além disso, ao consolidar os diversos créditos – liquidando os anteriores –, os clientes vão pagar uma comissão por amortização antecipada desses empréstimos. Por isso mesmo, há que fazer bem as contas e verificar se vale ou não a pena.

Geralmente, o crédito da casa tem o prazo mais longo e a taxa de juro mais baixa, pelo que compensa associar os restantes a este. Fica a pagar em 30 anos a acumulação dos vários empréstimos. A curto prazo, ganha em liquidez mas, a longo prazo, paga mais juros.

No entanto, se decidiu que a melhor solução é mesmo consolidar créditos, então terá de decidir se quer optar pelo crédito com ou sem hipoteca. No primeiro caso pode obter um prazo mais alargado e uma taxa de juro inferior, mas suporta custos iniciais mais elevados. No segundo, as despesas iniciais são menos pesadas, mas os montantes e o prazo são inferiores.

Sem um crédito hipotecário, a consolidação passa por um crédito pessoal. Mas a redução mensal das prestações é inferior (cerca de 20%), já que o volume total de juros aumenta substancialmente. Convém não esquecer que muitas instituições financeiras exigem como garantia um imóvel que deverá ter um valor comercial igual ou superior ao dobro do total de créditos. Aliás, muito dificilmente os consumidores conseguirão uma consolidação se não tiverem uma habitação para dar como garantia.