“A estupidez coloca-se na primeira fila para ser vista; a inteligência coloca-se na retaguarda para ver”
Bertrand Russell
Perante uma situação grave de saúde pública, já decretada como pandemia pela Organização Mundial da Saúde, e que aconselha a que se evitem ao máximo contactos pessoais, o que fazem milhares de portugueses?
Vão para a praia, aproveitando, muitos deles, o fecho de escolas ou de serviços públicos.
O que será necessário fazer mais para que as pessoas percebam que vivemos uma situação excecional, que exige medidas também excecionais e, sobretudo, uma elevada responsabilidade individual?
Posso estar errado, mas a cobertura inicial por parte da comunicação social, com especial relevo para as televisões, terá ajudado a algum descrédito em relação à gravidade da situação.
A ânsia que parecia existir para que em Portugal surgissem os primeiros casos causou rejeição pelo assunto e, consequentemente, a sua desvalorização.
A crise mundial motivada pelo coronavírus tomou conta do noticiário nacional, ao mesmo tempo que inundou as redes sociais de informações falsas, meias verdades, especulações e, claro, também informação verdadeira. O problema, como sempre, é o cidadão comum saber distinguir o trigo do joio.
É nestas alturas que o papel do jornalismo se revela essencial.
No entanto, se a informação das televisões, sobretudo destas, confundir o essencial com o acessório e privilegiar a quantidade sobre a qualidade, o jornalismo coloca-se ao nível das informações anónimas das redes sociais.
Desta forma, contribui mais para confundir do que para esclarecer.
Um exemplo da loucura que está a atingir algumas redações, e não só, foi a receção ao ex-infetado, Adriano Maranhão, que foi notícia diária por ter sido o primeiro caso conhecido de um cidadão nacional, quando ainda não havia nenhum caso em território nacional. Esteve isolado num navio de cruzeiro ao largo do Japão.
No regresso a Portugal, teve direito a diretos nos principais canais de notícias e às boas-vindas do secretário de Estado da Saúde. Durante o direto, um dos canais tinha o seguinte título: “Adriano teve coronavírus”.
Mais palavras para quê?
Os telejornais têm dedicado mais de 50% da sua emissão ao coronavírus, atingindo mesmo, nalguns casos, 80% do seu tempo.
Para que não sejamos obrigados a concordar com Bernard Shaw quando afirmou que “um jornal é um instrumento incapaz de discernir entre uma queda de bicicleta e o colapso da civilização”, convém que não se caia na tentação do jornalismo populista e, nalguns casos, saloio.
O Governo, por seu turno, depois da confusão generalizada, parou um pouco para pensar.
Pensou, pensou e publicou um Plano Nacional de Preparação e Resposta à Doença por novo coronavírus (Covid-19). São 80 páginas!
Pergunta: onde está o resumo para português ler?
Finalmente, da reunião do Conselho de Saúde Pública saiu uma recomendação sensata, que aponta para que as escolas só fechem por decisão das autoridades de saúde.
Os próximos dias são decisivos para se perceber a dimensão da epidemia e a forma como os serviços de saúde estão ou não preparados para a enfrentar.
Um difícil teste para o Serviço Nacional de Saúde e, por via dele, para o próprio Governo.
Jornalista