Dia Internacional da Mulher. Vamos lá falar dos homens… melhor, dos casais. Sempre é mais completo e na minha visão conservadora e pouco popular nos dias de hoje, um homem precisa de uma mulher, assim como a mulher precisa de um homem na sua vida. Se podem prescindir um do outro? Claro que sim! A vida é possível e acontece na ausência um do outro, mas de uma forma incompleta, digam o que disserem.
O primeiro sentido de comunidade verifica-se na relação constituída entre um homem e uma mulher, e na família que constroem. Posteriormente, esta organização replica-se nas relações comunitárias extravasando do seio familiar para a sociedade e assim sucessivamente, partindo do particular para o geral. Deixemos de lado as discussões sobre a ideologia de género e da (des)construção social do indivíduo, enquanto produto socio-cultural de uma aprendizagem universalista e nada antropológica.
Centremo-nos nas relações nucleares de afeto e nas dinâmicas de construção das mesmas entre duas pessoas. Um casal encerra em si todo um manancial de variáveis relacionais, desde o simples poder exercido pelo elemento dominante ao efeito sedutor do elemento que procura atenção.
Até há bem pouco tempo o homem dominava a relação conjugal, dispondo dela a seu bel-prazer, tal como na sociedade a mulher reproduzia o papel que desempenhava no matrimónio. A mimetização desta relação para toda a restante organização da sociedade era evidente, ou não estivéssemos nós, nos dias de hoje, a fomentar a discussão de igualdade de oportunidades no trabalho e de igualdade salarial entre homens e mulheres.
Daí regressar novamente à centralidade entre o homem e a mulher a partir da relação conjugal, porque me merece maior enfoque, dado que considero que na intimidade (à porta fehada) se estabelecem muitos compromissos que têm reflexo no que acontece fora de portas, assim como também acontecem revelações que justificam a natureza de cursos da história e porque razão durante muito tempo mulher foi cristalizada num papel que lhe serviu, mas não serve mais.
Numa discussão em que se quer à viva força esbater as diferenças entre homens e mulheres, como tentativa de salvar a mulher dos séculos de condenação ao papel secundário, numa relação que se quer igual, há que começar por aceitar que os homens têm menos jeito para a relação conjugal do que as mulheres, segundo vários psiquiatras que dedicaram a sua vida às crises matrimoniais e foram árbitros num campo de guerra minado, em que cada um dos beligerantes se encontrava numa trincheira cavada a muito custo com dor e desilusão.
Esta aceitação não fragiliza a mulher; confere-lhe serenidade perante a evidência. Há uma certa complacência no que acabei de escrever, salpicada com uns pozinhos de poder e de controlo sobre uma constatação que me inquieta, se eu insistir em mudar a realidade. O exercício deste poder não é sobre o outro, mas sim sobre mim e nas minhas expetativas para o outro enquanto metade desta relação.
É certo que ainda se verificam muita assimetrias entre homens e mulheres e no tratamento que cada um recebe mediante situações semelhantes, e que mesmo em Portugal, o discurso da igualdade é só uma troca de palavras que não se traduz em efeitos na vida real. Contudo, cada vez que me recordo da alteração que foi realizada à Lei do Divórcio, em 2008, como símbolo da luta contra as desigualdades de género e reconhecimento jurídico da igualdade de tratamento entre homens e mulheres, mais convencida fico que nós, mulheres, estamos a ultrapassar os homens na sua falta de discernimento e na ausência de sensatez.
Em poucas décadas estamos a criar assimetrias que começámos por combater e que as próximas gerações irão ter de corrigir, simplesmente porque não tivemos a paciência para pôr em funcionamento uma engrenagem que, por si só, iria revelar-se frutífera na geração seguinte e de uma forma natural. Ao invés, apressámos a inversão de uma situação que pode gerar mais conflituosidade entre homens e mulheres, desestabilizando a instituição familiar e profissional. Quantas mulheres puderam recorrer ao divórcio após a alteração à lei, sem correrem o risco de não ver reconhecido o seu contributo para a família?
Se há discussão que cada vez mais se impõe é esta: que tipo de mulheres é que são reconhecidas? Haverá só o modelo estereotipado da mulher-profissional? Somente este modelo de mulher é elegível como exemplar para todas nós e a partir deste, e de mais nenhum outro, é que se pode partir para a discussão do papel da mulher na sociedade?
Uma visão redutora de todas nós e da nossa pluralidade e complexidade. Construída por outras mulheres que olhando para a floresta somente viram árvores da sua espécie, esquecendo que há muitas outras, com outras ambições e vivendo realidades tão diferentes quanto a sua essência.
Foi ontem. Mas hoje volto a desejar a TODAS e a TODOS: que todos os dias sejam dias universais da mulher e do homem.
Escreve quinzenalmente