Depois de críticas ao entusiasmo da comunicação social em torno do coronavírus – o ponto alto foi a abertura do novo programa de Ricardo Araújo Pereira –, os últimos desenvolvimentos mostram como o tempo em que a imprensa pareceu mais ou menos exagerada na cobertura de casos suspeitos poderia ter sido melhor aproveitado para afinar planos e comunicação. A confusão que se instalou com o aumento de procura no centro de contacto SNS 24 e na explicação sobre como vão funcionar baixas para quem tem de ficar em isolamento, com avanços e recuos e um primeiro anúncio só para funcionários públicos, é paradigmática. Sem alarmismos, é fundamental que a transmissão de informação seja ponderada e coerente, e teria sido um maior sinal de tranquilidade que os planos de contingência que agora o Estado pede aos serviços que estejam prontos em cinco dias pudessem ter sido antecipados. O ministro da Economia garantiu que existe capacidade orçamental para lidar com os desafios causados pelo vírus, que a seu tempo poderá ser ativada. Importa perceber na prática com que meios será gerida a situação e não a posteriori. Na fase atual, de contenção e preparação, já estão a ser mobilizados recursos. Nos serviços de saúde, linha da frente da resposta e ainda na reta final da epidemia de gripe, que habitualmente já é um teste de stresse, mantém-se a necessidade de melhorar infraestruturas e de encurtar lista de espera para cirurgias e consultas – e esse esforço terá de continuar a ser feito mesmo quando o epicentro das preocupações se torna uma nova doença. Ao contrário da epidemia da gripe, quanto tempo durará este novo teste e qual a sua severidade são respostas difíceis de prever. Como noutros momentos e noutras geografias, responsáveis e muitos heróis anónimos farão tudo – e muitos já o estão a fazer – para debelar uma situação de emergência, mas é preciso manter o olhar sobre o todo e não deixar que o cobertor já à justa seja puxado para um lado e destape o outro. Duas notas: Portugal está em 20.o lugar em 195 países num ranking que mede a preparação para combater ameaças de saúde (Global Health Security Index). A análise reconhece fragilidades mas é um bom ponto de partida. E, culpa ou não do debate público que se instalou, a 27 de fevereiro, revelou a OMS, Portugal tinha sido o sexto país em que mais profissionais tinham acedido a um curso online com informação sobre o controlo do Covid-19.
Um teste de stress sem data para acabar
Ao contrário da epidemia da gripe, quanto tempo durará este novo teste e qual a sua severidade são respostas difíceis de prever. Como noutros momentos e noutras geografias, responsáveis e muitos heróis anónimos farão tudo – e muitos já o estão a fazer – para debelar uma situação de emergência.