Ora, já vi em muitos locais do mundo episódios como este ou piores, com o estádio inteiro a fazer “uh-uh” sempre que alguns jogadores negros mais odiados pelos adeptos (como Balotelli) tocam na bola.
E há o célebre caso do brasileiro do Barcelona Dani Alves, a quem atiraram bananas para o campo. E ele, o que fez? Agarrou numa banana, descascou-a e comeu-a. Foi a reação mais inteligente que vi num episódio deste tipo. Porque ridicularizou quem quis humilhá-lo.
A reação de Marega, pelo contrário, ao sair do campo indignado, mostrou aos agressores que eles tinham conseguido o seu objetivo: humilhá-lo. Magoá-lo.
E se toda a equipa tivesse saído do campo, os agressores ainda ririam mais – pois o FC Porto perderia o jogo e o Guimarães seria declarado vencedor. Dirão alguns que tal não aconteceria, pois seria encontrado um modo de resolver o problema. Ora, a lei não prevê exceções. Nem pode prever: não pode admitir-se que, por uma equipa se achar ofendida por qualquer razão, abandone o campo.
Se isso fosse legitimado, instalar-se-ia o caos no futebol, com adeptos a grunhir para os adversários levando-os a sair do campo… E a repressão não resolveria o problema, pois, se o estádio inteiro fizesse “uh-uh” – como o próprio Marega diz que aconteceu em Guimarães –, não seria possível prender milhares de pessoas. E se fossem os clubes os punidos gerar–se-iam terríveis injustiças, com equipas a perderem campeonatos por ações praticadas por claques que nem os clubes conseguem controlar.
A reação dos jogadores alvo de insultos terá, pois, de ser outra: ignorá-los. Não lhes ligar. Fingir que não ouvem. E os agressores acabarão por desistir, por cansar-se, ao verem que os insultos não produzem efeito.
A reação primária raramente é a mais eficaz. A reação de Marega não foi a melhor. Não basta indignarmo-nos para ganharmos as causas: temos de ser racionais, capazes de vencer os adversários (que são mais numerosos) não pela força, mas pela astúcia.
O abandono do campo por parte do jogador do Mali pode ter sido um gesto bonito, mas não pode ser um exemplo a seguir. Os estrangeiros que criticaram o FC Porto por não ter saído do campo em solidariedade com Marega não disseram o mesmo ao Barcelona quando os adeptos do clube adversário atiraram bananas a Dani Alves. Falar é fácil, sobretudo quando se trata dos portuguesinhos, que são uns “labregos” e não sabem comportar-se bem nos estádios nem reagir “convenientemente” aos insultos.