Em 2016 proliferavam na opinião, pública e publicada, as mais variadas críticas, especialmente vindas da direita, a Fernando Medina por ter desencadeado obras que, em meu entender, mudaram significativamente para melhor o espaço público e a vida da cidade de Lisboa.
Falo de obras que, essencialmente devolveram espaço público aos cidadãos e que permitiram a existência de espaços especialmente destinados à mobilidade suave (ciclovias). Foram executadas alterações em todo o espaço público entre Entrecampos e o Marquês (Eixo-Central), Campo das Cebolas, Cais do Sodré e Santos.
Foram ouvidas todo o tipo de críticas, desde que as obras em curso iriam levar o Município à falência (a título de exemplo: João César das Neves em “O Vírus do Faraó”, DN de 7/7/2016; Pedro Braz Teixeira em “A Falência da Câmara de Lisboa”, I de 24/06/2016), à falta de legitimidade eleitoral (Dinis de Abreu em “Autarcas em roda livre…”, Sol de 17/12/2016; Pedro Bidarra em “Lisboa não vai com qualquer um”, DN de 31/07/2016 e Alexandra Duarte em “Lisboa: um ano depois de António Costa, I de 10/05/2016) ou eleitoralismo (António Prôa em “Obras e trânsito em Lisboa: tenham muito medo”, Oje de 8/01/2016; Alexandra Duarte em “Um presidente de câmara obcecado com 2017”, Sol de 6/02/2016) passando pela inutilidade das obras (Luís Menezes Leitão em “No Marão e em Lisboa”, I de 10/05/2016) e mau planeamento (S. Pompeu Santos em “Outro Metro do Terreiro do Paço”, Público de 6/04/2016), da “turistificação” (Fernando Sobral em “Uma Lisboa sem Lisboetas” e “Lisboa, Menina e Moça, Jornal de Negócios de 13/05/2016 e 3/11/2016) e do seu contrário (Joana Petiz em “Em Obras”, DN em 11/05/2016) e até pela irónica “paixão pela jardinagem” (João Duque em “D. Fernando, o Jardineiro, Expresso/Economia, em 9/07/2016).
Foi acusado de falta de diálogo e falta de participação com os argumentos que primeiro apresentou o projeto e só depois foi ouvir os moradores e outros agentes sociais da cidade, como se fosse possível, numa cidade como Lisboa, discutir um projeto transformador do espaço público sem um esboço inicial por muito mínimo que seja.
Leu-se nas redes sociais de tudo. Que iria acabar com o comércio nos locais onde se estava a intervir, que os moradores iriam viver muito pior, porque não poderiam circular e ter estacionamento, etc.
O facto indesmentível é que já ninguém imagina a Avenida da República, o Saldanha, o Campo das Cebolas, o Cais do Sodré e a Av. Fontes Pereira de Melo, sem os passeios largos, as esplanadas dos estabelecimentos e quiosques, as ciclovias cheias de bicicletas, os milhares de pessoas que por lá passeiam (turistas internacionais, nacionais e metropolitanos, mas também, e essencialmente, moradores de toda a cidade) e as crianças que brincam nesse espaço acompanhados das suas famílias, sempre que o sol o permite. Os turistas ganharam com estes novos espaços públicos, mas sobretudo ganharam os Lisboetas.
Hoje, volvidos 4 anos, repetem-se todos os argumentos contra o projeto apresentado para modificar o espaço público da baixa da cidade. No entanto a estratégia seguida pela CML é a mesma. Apresentação do Projeto inicial com o objetivo de retirar o enorme tráfego rodoviário e aumentar o espaço de fruição pública e espaço para mobilidade suave, seguido de discussão com moradores, freguesias e outros parceiros sociais até à definição da proposta de implementação final.
Querer diabolizar a intenção de Medina de devolver mais espaço público na Baixa às pessoas, moradores e visitantes usando argumentos como “querem limitar as visitas que recebo em casa”, como se todas as pessoas que se deslocam para a baixa se deslocassem em carro próprio e de forma individual é levar o debate público ao grau zero da discussão séria.
A proposta apresentada terá as suas falhas, mas responde ao essencial, todos os que vivem e trabalham na baixa sabem-no – menos trânsito na baixa; regular as cargas e descargas que acontecem a todo o tempo e em todo o lado; mais segurança para os peões; mais espaço público de qualidade e de fruição; melhoria da qualidade de vida dos moradores; melhor qualidade do ar; segurança para os meios suaves e não poluentes de mobilidade.
O caminho para uma cidade mais sustentável não se faz só de proclamações individuais nas redes sociais contra Trump e negacionistas das alterações climáticas, faz-se também com ações e medidas concretas de alteração de comportamentos, umas com mais e outras com menos impacto. Aquilo que se espera de um decisor político, no século XXI, é que o faça e não se limite a observar a realidade a passar à frente dos olhos.
Os exemplos das transformações de espaço público ocorridas no Eixo-Central, no Cais do Sodré, no Campo das Cebolas e recentemente no Braço de Prata, fazem de Fernando Medina no mínimo credor do benefício da dúvida em relação ao que propõe, pois já provou que não estava errado.
Pedro Vaz