“Génio é um termo usado demasiadas vezes”, escreveu Irvine Welsh, autor de Trainspotting, no seu Twitter pessoal, “mas é difícil pensar noutro termo para o definir.” Foram estas as palavras que o escritor encontrou para comentar a morte de Andrew Weatherall, músico, produtor e DJ, natural de Windsor, em Berkshire, na Inglaterra. “Estamos terrivelmente tristes por anunciar que Andrew Weatherall, o notável DJ e músico morreu na madrugada de segunda-feira, 17 de fevereiro de 2020”, podia ler-se num comunicado emitido pela agência que o representava. “A causa da morte foi uma embolia pulmonar. Ele estava a ser tratado no hospital, mas, infelizmente, o coágulo de sangue atingiu o seu coração. A sua morte foi rápida e pacífica.” Tinha 56 anos.
Um Pilar da música eletrónica Antes de ficar conhecido como uma das figuras mais importantes da música eletrónica britânica, Andrew Weatherall era um miúdo como qualquer outro. Isto é, se considerarmos normal a sua obsessão com a música. “Quando tinha 12 anos convidava os meus amigos para irem à minha casa”, contou ao The Guardian, em 2016. “Eles estavam todos de volta de miúdas enquanto eu lhes dizia, “presta atenção ao lado B [deste disco]”.
Ainda serviu de vocalista para algumas bandas de post-punk, mas foi o seu amor pela divulgação da música, que esteve presente ao longo da sua vida e da sua carreira, que o tornaram um símbolo da contracultura inglesa. O primeiro formato que encontrou para partilhar a sua música foi enquanto jornalista. Juntamente com Terry Farley, Cymon Eckel e Steve Mayes criaram a fanzine Junior Boy’s Own, que utilizaram para divulgar a música eletrónica que se fazia em Inglaterra, especialmente debaixo da asa da cultura do acid house.
O sucesso da revista fez com que muitas outros jovens criassem as suas próprias revistas e, em 1990, o projeto converteu-se numa editora, a Junior Boy’s Own, que produziu trabalhos de aclamados nomes como The Chemical Brothers ou os Underworld.
Neste período, graças à sua coleção interminável e eclética de discos, que perpassava por géneros que iam desde rock, soul, dub, pop, techno, ou jazz, Andrew tornou-se num dos mais ocupados DJs de Inglaterra. No coração da cena rave, estava “no local certo à hora certa”, como descreveu à BBC. Foi por esta altura que começou a trabalhar com artistas a remisturar os seus trabalhos.
A parceira com os Primal Scream resultou num dos seus trabalhos mais icónicos mais icónicos. O produtor pegou na faixa I’m Losing More Than I’ll Ever Have e transformou-a em Loaded, retendo, no total, apenas sete segundos da música original. “Quando o Andrew Innes ouviu a música, ele disse: ‘it’s not bad, but just fucking destroy it’”, contou numa entrevista na Red Bull Music Academy. “Estas palavras com forte sotaque galês têm ressoado na minha cabeça há 20 anos e fizeram-me perceber que algumas bandas não deviam ser tão picuinhas com a sua arte”. Ao longo da sua carreira, Weatherall ‘destruiu’ música dos My Bloody Valentine, Björk, Siouxsie, New Order, Manic Street Preachers, dos James e muitos outros.
A última passagem do britânico por Portugal foi no passado mês de janeiro: no dia 25, atuou no Lux Frágil a convite de Switchdance.