A construção da barragem de Foz-Tua, inaugurada em 2011, teve um impacto positivo para a cultura da vinha e do olival naquela região, melhorando a qualidade da uva e da azeitona. Essa possibilidade já havia sido levantada em 2010, por um estudo realizado pela Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD) e pela Profico – Ambiente e Ordenamento, e agora é confirmada por produtores da região. É o caso da Adega Cooperativa de Alijó, que atesta tais melhorias.
Para avaliar as consequências da infraestrutura e tendo em conta a inexistência em Portugal de estudos similares há uma década, foi analisada nesse estudo uma localidade entre barragens: a estação meteorológica do Pinhão, distrito de Vila Real, localizada entre as barragens de Bagaúste (Régua) e Valeira (São João da Pesqueira), no rio Douro. Para o efeito, procedeu-se a uma análise comparativa dos períodos antes e pós-construção das barragens, tendo sido utilizados os dados das normais climatológicas nos períodos de três décadas, divididos entre 1931/61 e 1961/90 (ver gráfico).
De acordo com os mesmos dados, os impactos mais relevantes verificaram-se no que toca aos valores da humidade relativa do ar, o que, na prática, resultou num aumento da ocorrência de nevoeiros, tanto na época da primavera como na do outono.
O crescimento da frequência deste fenómeno meteorológico também representou o aumento do risco de algumas doenças nas áreas de cultivo da região, como o míldio e o oídio na vinha e a gafa e o olho-de-pavão no olival, em particular em castas/variedades mais sensíveis. Como forma de acautelar e até mesmo ultrapassar esta situação, tornou-se necessário aumentar, de forma permanente e consolidada, o número médio de tratamentos para a obtenção de resultados positivos nas colheitas de uva e azeitona.
O clima do Vale do Tua O clima da região do Vale do Tua, onde se desenvolve a albufeira da barragem, cuja cota da superfície é de 170 metros, está muito condicionado “pela orografia regional, que protege o interior de Trás-os–Montes da influência marítima, apresentando-se com características que não seriam expetáveis numa região do país localizada a poucas dezenas de quilómetros do Atlântico”. Por outro lado, o mesmo documento indica que o relevo acidentado origina “um conjunto alargado de situações mesoclimáticas”, por efeito do vento e da forma como a superfície do terreno se expõe à radiação solar, de tal forma que podem ser encontradas situações climáticas distintas em locais muito próximos.
Por regra, a existência de grandes massas de água afeta a distribuição das chuvas e a sua intensidade, as temperaturas máximas e mínimas, a humidade do ar e a velocidade do vento. Existem vários exemplos desses pelo mundo. Porém, a magnitude da variação destes parâmetros depende sempre de diversos fatores, como a localização geográfica, a sazonalidade, a dimensão e a profundidade da superfície de água e o uso da terra.
No caso da barragem situada no rio Tua, a modificação do perfil transversal da encosta fez-se, essencialmente, por este passar a estar limitado na sua base pelo plano da água; e a consequente existência de um volume importante de água e correspondente superfície evaporante. Segundo antevia o estudo, os efeitos para a ocorrência de temperatura, pluviosidade e geadas não se fariam sentir de forma relevante. Apenas o nevoeiro passaria a ser mais frequente, junto da estrutura hidroelétrica – uma previsão que agora é confirmada pela Adega Cooperativa de Alijó.
População e produtores satisfeitos com equipamento
O documento de 2010 alertava para que a maior ocorrência de nevoeiro no final do outono e no inverno poderia agravar as condições da colheita da azeitona – uma situação que, ainda assim, parece não estar a ter grande impacto junto dos produtores, que dizem estar satisfeitos com os efeitos globais do funcionamento da barragem.
“A generalidade das pessoas ficaram satisfeitas com a construção da barragem porque ela permitiu gerar postos de trabalho e reabilitar espaços públicos”, refere a Adega Cooperativa de Alijó.
O nevoeiro, esse faz-se de facto sentir e, além de não trazer qualquer perturbação a quem trabalha as terras, também não veio acompanhado de qualquer outra consequência negativa. “Não há mais impactos significativos a registar”. E mesmo a produção de laranja “é de grande qualidade na região”, indicam os produtores.