Hackers burlaram museu holandês

Hackers burlaram museu holandês


O museu de Twenthe, na Holanda, foi enganado durante a compra de um quadro do pintor britânico John Constable. O museu e os negociantes de arte envolvidos discutem agora o caso em tribunal.


O Rijksmuseum Twenthe, em Enschede, na Holanda, pagou recentemente cerca de três milhões de euros por um quadro do pintor britânico John Constable. A história nada teria de estranho não fosse dar-se o caso de o museu ter pago a um grupo de hackers que burlou a instituição e o vendedor, que se veem agora a braços com uma situação difícil de gerir e que prova que a segurança tecnológica é, cada vez mais, um dos busílis dos tempos que correm.

As negociações para comprar a obra de Constable decorriam há meses entre o museu e uma empresa britânica de aconselhamento e venda de arte veterana nestas andanças, a Simon C. Dickinson. Enquanto ambas as partes continuavam a trocar emails sobre a compra, um grupo de hackers – não foi revelado o número de membros envolvidos no crime – infiltrou-se na transação e convenceu os responsáveis de que havia acordo, pelo que o museu deveria transferir o dinheiro para uma conta em Hong Kong, o que veio a acontecer.

Agora, ambas as partes – museu e vendedor – se dizem lesadas. O museu afirma que houve negligência por parte da Dickinson, que permitiu que os ladrões levassem a fraude por diante, enquanto a Dickinson defende que museu nunca deveria ter transferido o dinheiro para uma conta sem ter confirmado que os dados eram genuínos.

Segundo a Bloomberg, o Rijksmuseum Twenthe já levantou um processo contra a Dickinson, uma vez que os responsáveis do museu estão convencidos de que a equipa de negociantes tem a sua quota parte de culpa no processo e que esperavam que o sistema informático de uma empresa que lida com a compra e venda de obras de quantias tão avultadas tivesse mais cuidado com a segurança cibernética. A primeira sessão decorreu na quinta-feira da semana passada, em Londres, e trouxe mais alguns matizes para história, após Gideon Shirazi, o advogado que representa o museu, ter afirmado que os negociantes se aperceberam da troca de emails entre o museu e os piratas informáticos, que fingiram fazer parte da Dickinson na troca de correspondência, mas não alertaram a instituição para tal nem fizeram nada para travar a transação. “Ao não dizerem nada, disseram tudo”, afirmou Shirazi.

Já Arnoud Odding, diretor do museu, sublinhou que o sistema de emails do museu não tinha “vulnerabilidades”, como concluiu a investigação entretanto levada a cabo. “Em última instância, levámos os negociantes de arte a tribunal para ficar claro que este quadro foi comprado e pago”, justificou ao canal holandês NOS.

Opinião contrária tem a empresa de arte agora lesada em três milhões de dólares. “Ao invés de aceitarem a realidade da situação, o museu reagiu indo atrás de uma série de reivindicações desesperadas contra a Dickinson, esperando assim atribuir o seu próprio erro à empresa”, disse o advogado da Simon C. Dickinson na mesma sessão do tribunal, citado pela Bloomberg.

Cada uma das partes continua a afirmar que foi a outra o alvo do ataque cibernético e o caso deverá continuar na barra dos tribunais, até porque o Rijksmuseum Twenthe, que já tem a obra na sua posse – não foram revelados mais pormenores sobre este facto, nem qual a altura em que o quadro deu entrada no museu – já afirmou que não faz tenções de a devolver. Para já, ambas as partes continuam a remeter-se ao silêncio.

Também ainda não é conhecida a obra que espoletou o crime. Sabe-se apenas que se trata de um quadro de Constable (1776-1837), um dos mais conhecidos paisagistas britânicos, e que o diretor do museu holandês o terá avistado na European Fine Art Fair, em Maastricht, em março de 2018.