Quase 20 anos depois, os carrilhões de Mafra voltaram a cantar

Quase 20 anos depois, os carrilhões de Mafra voltaram a cantar


Conjunto sineiro chegou a ser um dos sete monumentos mais ameaçados da Europa.


Os dois carrilhões históricos do Palácio Nacional de Mafra, que se encontravam “mudos” desde 2001, voltaram a fazer-se ouvir este fim de semana. O silêncio de cerca de 20 anos foi quebrado no sábado, mas o concerto inaugural ocorreu ontem, domingo. Como revelou o Jornal de Mafra, foram tocados o hino nacional, obras de Vivaldi e uma peça original do carrilhonista Abel Chaves, que compôs para a ocasião: Requiescat in Pace Bizarro, uma espécie de requiem dedicado a um dos sinos da torre norte, assim cognominado por ter passado por vicissitudes várias e até causado a morte de uma pessoa no séc. xix.

A recém-concluída intervenção para recuperar o conjunto de 98 sinos (cada carrilhão tem 49) – a que se somam ainda outros nove sinos, com diferentes funções, em cada torre – teve início em 2018 e custou um pouco mais de um milhão e meio de euros.

Os primeiros motivos de preocupação foram detetados em setembro de 2001. E, apesar da importância mundial deste ícone barroco, o conjunto chegou a correr sérios riscos de se perder irremediavelmente.

Em 2004 tiveram de ser colocados andaimes para suportar o conjunto, garantindo que o enorme peso dos sinos (cada um pode chegar a pesar 12 toneladas) não provocava a derrocada das torres. Dez anos depois, em 2014, o conjunto chegou a integrar a lista da UNESCO dos sete monumentos mais ameaçados da Europa. A zona em redor das duas torres sineiras teve mesmo de ser interditada por o apodrecimento da estrutura de madeira fazer temer a queda das campânulas de bronze.

Os carrilhões de Mafra inscrevem-se no gigantesco conjunto mandado erguer por D. João v no início do séc. xviii (e em 2019 classificado Património da Humanidade), num momento de extraordinária opulência do reino. A página oficial do monumento conta que “segundo a tradição, a mando d’El- Rei o Marquês de Abrantes procurou informar-se do preço de um carrilhão tendo-lhe sido indicado o valor de 400.000$00 réis, quantia tida como demasiado elevada para um país tão pequeno. Ao que D. João v, ofendido – era o monarca mais rico do seu tempo – terá respondido: ‘Não supunha que fosse tão barato; quero dois!’”

A recuperação dos carrilhões sucede a uma intervenção para restaurar os seis órgãos históricos da basílica. Um e outro conjuntos atestam a importância da música na corte de D. João v. Face a esse legado, no início de 2019, a ministra da Cultura, Graça Fonseca, anunciou que a transferência do Museu Nacional da Música para o Palácio de Mafra seria uma prioridade para 2020.