O transporte marítimo, mais conhecido por shipping, é a atividade económica que assegura e garante a generalidade das trocas comerciais – cerca de 80% do comércio internacional em termos de tonelagem é transportado em navios-, se associarmos a esta realidade a atividade do transporte de passageiros por lazer (cruzeiros), e o transporte de passageiros entre margens vias fluviais, estamos a abordar uma atividade, considerada por muitos, como uma das principais alavancas da economia global.
Na verdade, perto de 75% do comércio europeu faz-se por via marítima, segundo um estudo da Oxford Economics, o shipping europeu contribui diretamente para a existência de cerca de 640.000 postos de trabalho e com 57 milhares de milhões de euros para o PIB da União europeia, e se tivermos em conta os efeitos indiretos estes valores sobem para 2,1 milhões e 140 milhares de milhões de euros respetivamente.
Atualmente, em Portugal o transporte marítimo/shipping é uma atividade económica pouco relevante – segundo a Menon Economics, ocupamos a 67ª posição mundial, gerando cerca de 1.500 postos de trabalho e contribuindo para o PIB com cerca de 70 milhões de euros, diferentemente do que foi no nosso passado recente.
É no entanto uma atividade com grande capacidade de resiliência, regeneração e de crescimento rápido, sendo disso exemplo o crescimento ocorrido no registo de bandeira na Madeira nos últimos cinco anos. Ora, se tivermos em consideração as capacidades e as características do país – localização geográfica e amplo território marítimo, excelente conhecimento técnico, científico e de inovação, forte ecossistema empreendedor, estruturas de apoio às atividades de portos e de reparação, construção e manutenção de navios (estaleiros) – reunimos todas as condições para sermos uma verdadeiramente “nação oceânica”, e com enorme potencial para ser o local de excelência da Europa para sede das empresas internacionais de transporte marítimo / shipping.
Mas para tal, esta atividade económica não pode continuar a ser encarada pela política pública do mar em Portugal como a mal-amada, pois a sua relevância e interesse estratégico, devia obrigar-nos a atuar com urgência, concertando e congregando esforços, dinâmicas e ações, para determinar um rumo diferente, em particular a melhorar as nossas condições de oferta e a reduzir as desvantagens competitivas que temos relativamente a outros países marítimos europeus.
Uma política pública do “Mar português” estruturada, assertiva, que tenha como missão alcançar no médio prazo (5 anos) uma posição promissora para Portugal, sedeando no nosso território cerca de 5% das empresas de shipping internacionais, podia contribuir para gerar cerca de 100.000 postos de trabalho e 7 milhares de milhões de euros no PIB, de acordo com o estudo já referido.
A mudança de ciclo e a conjuntura internacional são sinais que revelam uma excelente oportunidade, por isso urge vontade e determinação para agir rapidamente na construção de medidas que cimentem o “Mar português” como um destino final para a atividade do transporte marítimo/shipping internacional, ficando os diversos setores económicos, direta ou indiretamente relacionados, turismo, agricultura, metalomecânica, finança e seguros, certamente agradecidos, e a economia nacional mais robusta.