A Lisboa que a câmara não trata – 2.ª edição (*)


Assistimos a uma gestão amorfa, sem direção e sem resultados. Não vemos em Fernando Medina a energia e a paixão necessárias para cuidar de Lisboa.


Lisboa é possuidora de uma beleza natural e enquadramento territorial que justificariam uma gestão municipal mais empenhada, com maior foco nos detalhes, com ambição estratégica e com uma visão clara de longo prazo. Ao invés, assistimos a uma gestão amorfa, sem direção e sem resultados. Não vemos em Fernando Medina a energia e a paixão necessárias para cuidar de Lisboa, e essa ausência de ligação reflete-se num conjunto de falhas e faltas graves. Parece até que não vive a cidade; é uma pena.

Numa gestão atenta e empenhada teríamos a CML a intervir na linha da frente na decisão relativa à localização do novo aeroporto e respetivas acessibilidades ferroviárias e rodoviárias ao centro da cidade e restante área metropolitana; numa gestão moderna, atenta e empenhada teríamos obrigatoriamente em Lisboa a capital mais limpa e cívica da Europa; teríamos as obras rodoviárias a decorrer durante o período noturno; teríamos um plano muito claro de retenção e atração de novos moradores; teríamos uma visão clara sobre o desenvolvimento urbanístico da cidade; teríamos uma cuidada preservação do vasto património histórico muitíssimo degradado, bem como a recuperação do edificado degradado; teríamos um plano de desenvolvimento de uma rede ferroviária devidamente integrada nos eixos da área metropolitana (Oeiras, Cascais, Sintra, Mafra, Loures, Torres Vedras, Almada e Setúbal) e na respetiva ligação a Santarém, Leiria, Tomar, Évora e Beja, garantindo viagens ferroviárias a qualquer um destes destinos em menos de 40 minutos; teríamos a própria CML a dar o exemplo em práticas novas e contemporâneas na área das ciências do trabalho, com vista à obtenção de níveis superiores de felicidade no local de trabalho. Numa gestão ambiciosa, contemporânea e empenhada, veríamos a CML como elemento integrador e dinamizador do projeto de maior intervenção das instituições científicas e universitárias da região metropolitana no desenvolvimento de soluções ligadas à exploração e rentabilização de economia marítima; teríamos uma política muito clara sobre os tempos livres dos jovens, nomeadamente em tempo de férias escolares; teríamos uma rede hospitalar digna de referência internacional; teríamos uma rede de transporte público que minimizasse as emissões poluentes; teríamos estacionamento sem arrumadores; teríamos a possibilidade de caminhar nas zonas históricas da cidade sem o constante embaraço dos vendedores de estupefacientes; teríamos uma política clara de erradicação da pobreza, integração social e dignidade laboral; teríamos, certamente, maior respeito pelo património gerado pelos contribuintes e pensionistas.

Ao invés, temos uma gestão distante, desligada e evidentemente desapaixonada de um projeto capaz de trazer Lisboa para níveis internacionalmente exemplares. Lisboa tem perdido tempo, convencida de que, por se ter tornado destino favorecido das companhias áreas low-cost, passou a ser referência. Essa é uma forma muito simplista e perigosa de olhar para a região. Lisboa será sempre linda quer seja bem ou mal gerida. Com o raro magnífico ponto de partida natural de que a região metropolitana de Lisboa desfruta, torna-se evidente a qualquer análise séria que Lisboa merece melhor e que Portugal necessita efetivamente de uma Lisboa mais exigente que se constitua numa referência mundial de capital contemporânea. Os lisboetas em particular e os portugueses em geral são capazes de coisas extraordinárias. Precisamos de mais empenho, rigor e paixão na gestão.

 

(*) Foi publicado neste jornal a 17/7/2019, pelo autor, um artigo intitulado “A Lisboa que a câmara não trata”

 

Professor de Gestão no ISCTE e CEO do Taguspark

Subscritor do “Manifesto: Por Uma Democracia de Qualidade”


A Lisboa que a câmara não trata – 2.ª edição (*)


Assistimos a uma gestão amorfa, sem direção e sem resultados. Não vemos em Fernando Medina a energia e a paixão necessárias para cuidar de Lisboa.


Lisboa é possuidora de uma beleza natural e enquadramento territorial que justificariam uma gestão municipal mais empenhada, com maior foco nos detalhes, com ambição estratégica e com uma visão clara de longo prazo. Ao invés, assistimos a uma gestão amorfa, sem direção e sem resultados. Não vemos em Fernando Medina a energia e a paixão necessárias para cuidar de Lisboa, e essa ausência de ligação reflete-se num conjunto de falhas e faltas graves. Parece até que não vive a cidade; é uma pena.

Numa gestão atenta e empenhada teríamos a CML a intervir na linha da frente na decisão relativa à localização do novo aeroporto e respetivas acessibilidades ferroviárias e rodoviárias ao centro da cidade e restante área metropolitana; numa gestão moderna, atenta e empenhada teríamos obrigatoriamente em Lisboa a capital mais limpa e cívica da Europa; teríamos as obras rodoviárias a decorrer durante o período noturno; teríamos um plano muito claro de retenção e atração de novos moradores; teríamos uma visão clara sobre o desenvolvimento urbanístico da cidade; teríamos uma cuidada preservação do vasto património histórico muitíssimo degradado, bem como a recuperação do edificado degradado; teríamos um plano de desenvolvimento de uma rede ferroviária devidamente integrada nos eixos da área metropolitana (Oeiras, Cascais, Sintra, Mafra, Loures, Torres Vedras, Almada e Setúbal) e na respetiva ligação a Santarém, Leiria, Tomar, Évora e Beja, garantindo viagens ferroviárias a qualquer um destes destinos em menos de 40 minutos; teríamos a própria CML a dar o exemplo em práticas novas e contemporâneas na área das ciências do trabalho, com vista à obtenção de níveis superiores de felicidade no local de trabalho. Numa gestão ambiciosa, contemporânea e empenhada, veríamos a CML como elemento integrador e dinamizador do projeto de maior intervenção das instituições científicas e universitárias da região metropolitana no desenvolvimento de soluções ligadas à exploração e rentabilização de economia marítima; teríamos uma política muito clara sobre os tempos livres dos jovens, nomeadamente em tempo de férias escolares; teríamos uma rede hospitalar digna de referência internacional; teríamos uma rede de transporte público que minimizasse as emissões poluentes; teríamos estacionamento sem arrumadores; teríamos a possibilidade de caminhar nas zonas históricas da cidade sem o constante embaraço dos vendedores de estupefacientes; teríamos uma política clara de erradicação da pobreza, integração social e dignidade laboral; teríamos, certamente, maior respeito pelo património gerado pelos contribuintes e pensionistas.

Ao invés, temos uma gestão distante, desligada e evidentemente desapaixonada de um projeto capaz de trazer Lisboa para níveis internacionalmente exemplares. Lisboa tem perdido tempo, convencida de que, por se ter tornado destino favorecido das companhias áreas low-cost, passou a ser referência. Essa é uma forma muito simplista e perigosa de olhar para a região. Lisboa será sempre linda quer seja bem ou mal gerida. Com o raro magnífico ponto de partida natural de que a região metropolitana de Lisboa desfruta, torna-se evidente a qualquer análise séria que Lisboa merece melhor e que Portugal necessita efetivamente de uma Lisboa mais exigente que se constitua numa referência mundial de capital contemporânea. Os lisboetas em particular e os portugueses em geral são capazes de coisas extraordinárias. Precisamos de mais empenho, rigor e paixão na gestão.

 

(*) Foi publicado neste jornal a 17/7/2019, pelo autor, um artigo intitulado “A Lisboa que a câmara não trata”

 

Professor de Gestão no ISCTE e CEO do Taguspark

Subscritor do “Manifesto: Por Uma Democracia de Qualidade”