De repente, em Inglaterra discutem-se datas, algo que nunca se vira na história do seu futebol. E o alemão Jürgen Klopp, treinador de um Liverpool tremendo que lidera a Premier League com uma perna às costas, está no olho do furacão. A questão explica-se de uma penada: a Liga Inglesa resolveu estabelecer para esta época uma pausa no campeonato entre os dias 8 e 22 de fevereiro. Uma pausa com muito que se lhe diga, no entanto, pois há dez jogos agendados para esse intervalo temporal, desde o Everton-Crystal Palace (8 fevereiro) ao Manchester City-West Ham (9 fevereiro) e do Wolverhampton-Leicester (14 fevereiro) ao Chelsea-Manchester United (17 fevereiro), passando pelo Norwich-Liverpool (15 de fevereiro). Ou seja, a Liga impõe uma paragem, mas exige que os clubes estejam disponíveis para jogarem aqui e ali, até porque as televisões de todo o mundo e o entusiasta público britânico não estão muito disponíveis para dispensarem o seu grande entretenimento.
Pelo caminho, o Liverpool jogou em Shrewsbury mais uma eliminatória da Taça de Inglaterra e não foi capaz de eliminar o seu frágil adversário, apesar de ter estado a vencer por 2-0. Ao consentir o empate (2-2), vê-se agora obrigado a um tira-teimas marcado para Anfield no próximo dia 4. Klopp foi bastante claro no final da partida: “Não vou dizer aos meus jogadores que, afinal, já não estão de férias, como lhes tinha sido prometido. A Liga impôs um período de pausa, esse período é para respeitar. Os jogadores irão de férias. No jogo de Anfield não estarei no banco. Neil Critchley vai apresentar-se com a sua equipa de miúdos. Mesmo que isso custe a eliminação”.
“Shame on you!” Andy Holt, o proprietário do modesto Accrington Stanley FC, da League One, foi o primeiro a atacar Klopp e o Liverpool de forma violenta: “Que vergonha! Tanto a Federação Inglesa como a Liga têm de ser exemplares, sob o risco de ficarem completamente desacreditadas. O Liverpool está a abastardar uma competição e isso é inaceitável! Não são os donos do futebol. O futebol é de nós todos. É necessário castigar duramente este tipo de comportamentos, não apenas financeiramente mas com medidas fortes, para que não se repitam”.
Vários antigos jogadores do Liverpool, como Rio Ferdinand, por exemplo, vieram a público criticar a decisão de Klopp. “Ele não pode afastar-se das suas responsabilidades”, disse Ferdinand. “Se é de opinião que precisa de fazer descansar jogadores, que o faça, mas não há razão nenhuma para que não esteja no banco comandando aqueles que têm condições para jogar. Quando se é líder de um clube como o Liverpool não se abandona o comando do navio. Francamente!”
A discussão está em aberto. Mas, como sempre, traz à superfície o problema do dinheiro. Há quem diga que a Taça de Inglaterra, a mais velha competição de clubes do mundo, está moribunda. O jornal The Independent fazia contas: “The winners at Wembley in May get a mere £3.6m. FA Cup is not worth the effort”. Talvez um Liverpool-Shrewsbury também já não valha mais um grande esforço. Pelo menos, para Klopp parece que não.